Cidades

Voluntários tiram dinheiro do próprio bolso para projeto ecológico

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postado em 12/03/2009 08:00
A dentista Simone Carrara, 40 anos, sempre se preocupou com o meio ambiente. Não joga lixo na rua, controla o consumo de energia e de água e ensina os filhos a agirem da mesma forma. Para Simone, no entanto, essas atitudes pareciam pequenas, pouco abrangentes. A dentista sentia que precisava fazer mais, só não sabia como agir. ;Eu queria recuperar áreas desmatadas, mas achava que só grandes empresas, com muito dinheiro, eram capazes de fazer esse trabalho;, explica. Daí nasceu a ideia do projeto Poranga, responsável pela plantação de 2,5 mil mudas de 35 espécies nativas do cerrado em uma área de mata de galeria perto do Córrego Cabeça de Veado, no Jardim Botânico de Brasília (JBB). No fim do ano passado, quando o projeto ainda não havia tomado forma, Simone comentou com o amigo e professor Rodrigo Studart Corrêa, 43 anos, sobre a intenção de agir diretamente nas regiões agredidas, em vez de apenas evitar que outras fossem destruídas. Especialista em recuperação de áreas em degradação da Faculdade de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília (UnB), Corrêa afirmou que a ideia não era impossível. ;Falei que não é tão caro quanto se imagina. Se ela reservasse uma quantia por mês e conseguisse o apoio de empresas, a vontade dela poderia se concretizar;, conta o professor. Simone conversou com outro amigo, o dentista Jorge Faber, 41 anos, sobre a iniciativa de revitalizar áreas desmatadas. ;O engraçado é que ela veio com essa história num momento em que eu estava muito interessado em neutralizar as emissões de poluentes da minha clínica de odontologia;, completa Faber. Um outro integrante passou a fazer parte do projeto em fase inicial, o advogado Luíz Antônio Bettiol. A partir daí, Simone e Faber, donos de clínicas odontológicas, e Bettiol, de um escritório de advocacia, separaram aproximadamente R$ 5 mil dos ganhos das empresas para o Poranga. O professor Corrêa entrou com o conhecimento e todo o planejamento técnico de implantação do projeto. O dinheiro arrecadado serviria para pagar uma empresa especializada em reflorestamento. Só faltava achar o lugar a ser recuperado. Em 23 de dezembro, os voluntários do projeto se reuniram com o diretor do JBB, Jeanitto Gentilini. Uma área equivalente a três campos de futebol, próxima ao Córrego Cabeça de Veado, foi oferecida ao grupo, além de 1.200 mudas de espécies nativas do cerrado. As outras 1.300 foram cedidas pela fazenda da UnB. O superintendente de Conservação e Manutenção de Coleções do JBB, Joaquim Gomes de Souza, também contribuiu com o conhecimento sobre a recuperação de locais degradados. A região foi desmatada há 20 anos quando havia uma chácara no local. A mata de galeria, por se formar ao longo de córregos e rios, tem um papel importante na manutenção do equilíbrio do ecossistema. Mantém a quantidade e a qualidade da água. Evita que o terreno sofra erosão e impede que o barro e entulhos carregados com a água das chuvas sejam depositados nos leitos dos rios. Esse fenômeno, conhecido como assoreamento, provoca o desaparecimento de cursos d;água. Cerca de um terço da água que abastece o Lago Sul vem do Cabeça de Veado. Dificuldade Segundo Corrêa, existem alguns fatores que dificultam a recuperação de áreas como a do Jardim Botânico. Um deles é o fato de não ser creditado o devido valor ao cerrado. ;Apesar de ocupar 25% do território brasileiro, a savana mais rica em biodiversidade do mundo já foi reduzida em 57%. É uma vegetação discriminada.; Atualmente, o cerrado não configura na Constituição de 1988 como patrimônio nacional, ao contrário da Mata Atlântica e da Floresta Amazônica, por exemplo. ;Existe a crença popular de que a terra não é fértil e de que há poucas espécies;, completa o superintendente do JBB. Outro empecilho é um inimigo natural: o capim-meloso. De acordo com o professor da UnB, essa vegetação tem a capacidade de crescer mais rapidamente do que as mudas plantadas pelo projeto. ;O capim é muito competitivo. Rouba a luz e sufoca as plantas ainda em fase de desenvolvimento.; Para driblar a gramínea vinda da África nos colchões dos navios negreiros, o grupo estuda duas possibilidades: o uso de garrafas de refrigerante ou de uma biomanta, feita de fibra de coco e sisal, em volta do caule das mudas. Para reaproveitar materiais, os cabos de vassoura nos quais são amarradas as plantinhas foram retirados do lixo. A inauguração oficial do projeto Poranga coincidirá com a festa de aniversário do JBB, no próximo dia 29 (veja quadro com programação). E o Poranga não pretende parar por aí. Está à procura de uma nova área a ser recuperada ; e de mais voluntários. ;Poranga, em tupi-guarani, significa belo. É nisso que queremos transformar locais desolados e agredidos;, explica Simone. Empresas e pessoas interessadas podem falar com a dentista no número 3245-1016. Programação do aniversário do Jardim Botânico de Brasília 27 de março » Abertura Oficial; » Lançamento do Programa Jovens Condutores; » Abertura da exposição Olhar de Sedução, da Trilha Poética Professor Antônio Miranda, inauguração da Praça Gilberto Mello e do Portal do Cerrado; » Inauguração do Espaço Oribah; » Lançamento da Trilha da Fauna do JBB; » Passarela da Poesia do Centro de Visitantes; » Exposição fotográfica Micromacro Mundo, de Flávio Noronha; 28 e 29 de março » 1º Campeonato de Multisport, no Centro de Visitantes; » Exibição dos filmes Memórias do Cerrado ; A Lira do Capão, Nós da Escola e filmes institucionais do JBB, na sala de vídeos e projeções; » Aulas abertas, exposições, lançamento da Revista Heringeriana e apresentação do Plano de Manejo da Estação Ecológica do JBB, no Herbário; » Aula aberta Mitologia com o Olhar da Psicologia Profunda; » Aula aberta Astrodinâmica; Paul Mourisse; » Aula aberta Yoga Clássica; » Festival Pé de Música, com 10 bandas de Brasília; » Educação ambiental no Viveiro de Pássaros, Jardim de Cheiros e Jardim Sensorial.
Para saber mais Jardim Botânico de Brasília, 24 anos No plano urbanístico de Brasília elaborado por Lúcio Costa em 1957, já estavam previstas duas áreas verdes que funcionariam como pulmões da cidade. O Jardim Zoológico é um deles. A outra região onde a princípio seria criado o Jardim Botânico de Brasília (JBB) tornou-se o Parque da Cidade. Em 1985, após a visita de uma comissão do Rio de Janeiro, decidiu-se que o JBB deveria existir em um local com abundância em água. Em 8 de março de 1985, a área de proteção ambiental finalmente foi inaugurada, com 500 hectares, entre o Setor de Mansões Dom Bosco e a Escola Fazendária. O primeiro diretor foi o príncipe Pedro Carlos de Orleans e Bragança. O território cresceria em 1992, quando, por conta da criação da Estação Ecológica do Jardim Botânico, 4 mil hectares seriam acrescentados. Por abranger uma região extensa, o JBB abriga uma gama diversa de espécies do Cerrado. Exemplos de Campo Limpo, Campo Sujo, Cerrado Denso e Mata de Galeria ; todas variantes do Cerrado ; dividem espaço com animais como o lobo-guará, tatus e insetos, importantes polinizadores e sustentadores do ecossistema. Além da vegetação original, o JBB oferece uma série de espaços dedicados a disseminação de conhecimentos sobre os mais diversos tipos de plantas: Orquidário, Herbário, jardins temáticos, salas para exposições sobre o tema e um viveiro. A visitação ocorre de terça-feira a domingo, das 9h às 17h. É cobrada a taxa de manutenção de R$ 2. Não é permitida a entrada na área da Estação Ecológica, a não ser para pesquisa, com autorização. Informações: 3366-2141.

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