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Estudo revela que seca compromete o ar respirado

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postado em 14/03/2009 08:22
Daqui para frente, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as chuvas no Distrito Federal vão, aos poucos, dar uma trégua. Quando maio chegar, estará decretado o período de estiagem e, com ele, uma piora considerável na qualidade do ar. Estudo inédito da Universidade de Brasília (UnB) mostra que a seca compromete o ar respirado por quem vive na capital federal. A concentração de dióxido de nitrogênio (NO2) chega a ser oito vezes maior sem a chuva. Foi a primeira vez que mediram esse gás poluente na cidade. Os dados indicam que, em geral, o brasiliense ainda respira um ar considerado de boa qualidade, mas a tendência é que em poucos anos os limites aceitáveis pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) sejam rompidos.

Os carros são responsáveis por 90% das emissões de NO2, independentemente do combustível. Em 2000, havia 500 mil veículos circulando pelas vias do DF. Hoje a frota alcançou 1,2 milhão. Mais carros, mais escapamentos e, deles, mais poluentes sendo lançados na atmosfera. ;A média da qualidade do ar está boa, mas ela engana. Em pouco tempo, os limites serão ultrapassados;, prevê o químico Marcus Porfírio, autor da dissertação de mestrado que mediu a concentração de NO2 por meio de um aparelho conhecido como Trigás, instalado na 714 Sul, às margens da W3. O local foi escolhido pelo grande fluxo de ônibus e carros, principalmente no início da manhã e fim de tarde, e por estar próximo a comércio e residências.

Pico em outubro
A média a que Porfírio se refere é a de concentração de miligramas de NO2 por metro cúbico de ar (mg/m;). Entre maio de 2007 e abril de 2008, quando ele realizou o trabalho, a média ficou em 67mg/m;. O limite recomendado pela Resolução n; 3/89 do Conama é 100 mg/m; . Quanto maior esse número, mais poluído o ar. A concentração mais baixa foi registrada em janeiro de 2008 ; 19mg/m;. A mais alta, em outubro de 2007, ficou em 154mg/m;. ;Na chuva, o poluente continua sendo lançado, mas a água o transforma em ácido, resultando na chamada chuva ácida. Na seca, o NO2 se acumula na atmosfera, aumentando a poluição;, explicou o químico.

Sintomas
Basta as chuvas irem embora e a umidade relativa do ar despencar para os hospitais do DF ficarem cheios de pacientes reclamando de problemas respiratórios. As crianças e os idosos costumam ser os mais afetados. ;Uma das causas disso é o aumento da poluição. Esses números deixam claro isso;, comenta Porfírio. Ao inalar tanto NO2 quanto outros poluentes, a pessoa pode sentir dor de cabeça, dificuldade de respirar, irritação no nariz, entre outros sintomas. ;O sistema respiratório sofre bastante com a poluição. Mas ela também pode causar problemas no coração. Quanto mais poluída uma região, mais infartos há ali;, acrescenta o pneumologista Paulo Feitosa, coordenador da área na Secretaria de Saúde do DF.

O gás NO2 tem cor castanho-avermelhado e cheiro forte. Geralmente sai do escapamento dos carros com a fumaça preta. Mas não é sempre que se veem ou se sentem os efeitos do dióxido de nitrogênio. ;Muitas vezes, a saúde está em risco e a pessoa nem sabe;, diz Feitosa. A medição da concentração de NO2 no fim da Asa Sul continuará sendo feita, sob a responsabilidade do Centro de Formação de Recursos Humanos em Transportes (Ceftru) da UnB.

Estudos feitos no Brasil e no exterior mostram que os poluentes emitidos pelos veículos reduzem a expectativa de vida dos moradores. O auxiliar de serviços gerais José Marques de Amorim, 36 anos, trabalha na 514 Sul, perto do local onde está o aparelho que mede a concentração de NO2. As paredes do estabelecimento vivem pretas e a poeira se acumula sob os móveis. ;De manhã cedo, a fumaça chega à copa das árvores;, conta ele. ;Até o nariz da gente fica pretinho. Imagina o pulmão;;, completa a colega de trabalho, Aparecida Soares, 46.

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