postado em 16/03/2009 09:35
Bebidas alcoólicas dos mais variados tipos e marcas. Cocaína. Maconha. E um revólver calibre .32 com seis balas. Tudo o que não corresponde ao ambiente escolar ganhou livre acesso em uma festa organizada sob a proteção dos muros de um colégio público de Ceilândia. A reunião saiu do controle e jovens fizeram das dependências do local palco para encontro regado a som alto, cerveja, cachaça, vodca, uísque e drogas na noite de sábado. Houve brigas, crianças embriagadas e até a prisão de um jovem armado.
A confraternização, batizada de Kika na Latinha e organizada pelos alunos de comissão de formatura, ocorreu no Centro de Ensino Médio 3 (CEM 3), em Ceilândia Sul. Começou à tarde e só terminou por volta das 22h após a intervenção do Batalhão Escolar, 8º BPM (Ceilândia) e das Rondas Ostensivas Táticas Motorizadas (Rotam). ;Recebemos essa ocorrência com muita preocupação. Estou particularmente estarrecido. Onde está a prevenção? Que valores uma escola pode passar desta forma?;, questionou o comandante do Batalhão Escolar, tenente-coronel Nelson Garcia.
Cerca de 2 mil jovens participaram da ;balada; no interior da escola, realizada sem autorização da Secretaria de Segurança Pública nem da Secretaria de Educação, apesar de, segundo a direção da CEM 3, a Regional de Ensino de Ceilândia estar ciente do evento. Ele contou com ampla divulgação na internet e em sites de relacionamentos como o Orkut. Também se cobrou pela entrada no centro educacional. Homens pagaram R$ 5. Mulheres, R$ 2. A arrecadação serviria para garantir a festa de conclusão de curso dos alunos do último ano do ensino médio. Não deveria haver bebidas alcoólicas e drogas.
O encontro ocorreu mesmo depois de proibição imposta pelo Batalhão Escolar no início da tarde. Por volta de 13h, equipe da unidade especial de policiamento estranhou a aglomeração de estudantes em frente ao colégio. Ao saber da festa, informou à direção e aos organizadores que o evento não poderia ser realizado, pois não havia autorização ; os pedidos precisam ser feitos com 15 dias de antecedência. Os policiais ainda encontraram bebidas alcoólicas no local. E, segundo a polícia, diretores e alunos se comprometeram a nem mesmo começar a festa prevista para as 17h.
O acordo não foi respeitado. Policiais de três unidades e servidores de Vara da Infância e da Juventude (VIJ) retornaram ao centro de ensino por volta das 22h e se depararam com a reunião de arromba. Em revista feita em parte dos jovens, foram recolhidos três cigarros de maconha, cinco porções de cocaína e garrafas dos mais diversos tipos de álcool. Bruno de Lima Alves, 19 anos, escondia um revólver calibre .32. Acabou preso por porte ilegal de arma de fogo e encaminhado ao Departamento de Polícia Especializada (DPE), no Plano Piloto. O jovem não era aluno do CEM 3.
Em ocorrência registrada na 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Centro), a tenente Bruna Malta Ribeiro, do Batalhão Escolar, informou que pelo menos sete crianças e adolescentes, entre eles um menino de 9 anos, foram encontrados embriagados nas dependências do colégio. O grupo ficou sob a proteção da VIJ, que entrou em contato com os pais de cada um. Tiveram de assinar um termo de responsabilidade se comprometendo a comparecer à Justiça assim que forem intimados. Dois garotos de 16 anos também seguiram para a 15ª DP.
Recomendações
Durante a confraternização, a vice-diretora do Centro de Ensino Médio 3, Aldemira Rodrigues do Nascimento, permaneceu na sala da diretoria. Contou ao Correio que seguiu recomendações da Regional de Ensino da cidade. ;Na sexta-feira, fui comunicada de que deveria comparecer à festa a fim de preservar o patrimônio escolar e tomar providências em caso de incidente, já que o diretor não poderia ir. Porém, como não participei da organização, não poderia assumir compromisso algum com o evento;, argumentou.
Ela confirmou que, por volta das 13h, a polícia esteve no centro de ensino e proibiu a realização da festa por conta da falta de autorização. ;Liguei para a Regional de Ensino e para o diretor comunicando a situação. Pensei até em cancelar o evento, mas fiquei com medo de alguma reação dos alunos. Pedi proteção policial, o que não ocorreu;, disse.
O diretor da escola, Waldek Batista dos Santos, organizou a festa diretamente com os alunos. A ressalva era de que não poderia haver consumo de bebida alcoólica ou entorpecentes. A participação também deveria ficar restrita aos estudantes. Caso alguma regra fosse desrespeitada, o evento seria cancelado. Santos não compareceu à festa no sábado porque passa por tratamento contra depressão devido ao excesso de atividades e ao alto índice de violência no centro de ensino. Ele não aprovou a atitude da vice-diretora: ;Como representante da direção, ela poderia ter cancelado a festa. Afinal, tinha autonomia para isso;.