Cidades

Ibama liberta mais de 100 animais silvestres em reserva ecológica

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postado em 18/03/2009 08:28
Mais de 100 animais que passaram grande parte de suas vidas presos voltaram para casa ontem. Cem papagaios, 21 periquitos, nove araras-canindé e uma ema, entre outros pássaros e tartarugas, foram soltos na reserva ecológica Chapada Imperial (a 50km do centro de Brasília), onde devem completar a quarta etapa do processo de recuperação conduzido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A ema foi encontrada amarrada dentro de um acampamento de sem-terra, onde acabaria se transformando em almoço, mas a maioria dos animais soltos era tratada como bicho de estimação em casas do Distrito Federal (DF). Apesar de os donos imaginarem que cuidavam bem dos pássaros, os danos que a vida em cativeiro causou a esses animais são tão grandes que a reabilitação de cada um custa pelo menos R$ 100 mil ao Estado brasileiro. [VIDEO1] A primeira reação dos pássaros soltos é voltar para cima das gaiolas. ;Nós formamos casais durante o processo de reabilitação, e eles só vão se distanciar das gaiolas juntos;, explica o analista ambiental Anderson do Valle, coordenador do Centro de Triagem de Animais Silvestres do Ibama do Distrito Federal (Cetas-DF). Os animais foram soltos durante a tarde de ontem, num procedimento que ocorre quase toda semana. Nos últimos seis anos, mais de mil animais voltaram ao seu lugar só na Chapada Imperial, uma fazenda de 5,2 mil hectares que tem 95% do território destinado à preservação. Outras 15 propriedades do DF colaboram com o processo de soltura conduzido pelo Ibama. O retorno dos pássaros à natureza visa a reprodução, última etapa da recuperação conduzida pelo Ibama. O primeiro passo depois da apreensão é induzir comportamentos sociais aos animais. Eles são colocados no mesmo ambiente que outros de suas espécies. Na segunda etapa, os biólogos tentam acostumá-los a comer os alimentos que encontrarão na natureza. O terceiro passo é ensinar as aves a voar e a agir agressivamente na presença de humanos. ;Eles precisam temer o homem, porque, senão, depois que nós os soltarmos, podem ser recapturados com facilidade;, destaca Valle. Atualmente, é possível comprar um papagaio por R$ 100 no mercado ilegal, muito menos do que os R$ 2 mil cobrados por um pássaro regularizado. A falta de controle sobre os animais traficados tem efeito bem pior do que os possíveis maus-tratos de um dono. De 10 papagaios capturados irregularmente na Bahia, por exemplo, apenas um chega vivo ao DF. Preso, esse sobrevivente se torna obeso e adquire problemas de respiração por não se exercitar. Ele também desenvolve patologias comportamentais, começa a dançar e falar, o que não é normal. A pena para quem detém um pássaro ameaçado de extinção dentro de casa é uma multa de R$ 5 mil. Contra a lei Valle avisa que quem encontrar um animal silvestre na rua ou tiver um em casa e quiser garantir tratamento digno ao bicho deve procurar o Ibama pelo número 0800-61-8080. ;O melhor que se pode fazer é devolvê-los à natureza;, diz. Segundo o analista ambiental, ;muitas vovós; choraram quando os bichinhos foram embora, mas a natureza agradece. A alimentação dos pássaros dentro de casa é a pior possível. Pão com manteiga e café com leite costumam causar problemas estomacais aos papagaios. Alguns deles chegam ao Ibama com úlceras. A debilidade de alguns dos bichos que foram conduzidos à reserva é tanta que, anos depois de libertados, eles não conseguem se reintegrar à natureza. ;Temos uma arara-vermelha que dança até hoje. Esse não é o comportamento normal do bicho. Ela não cria coragem para voltar à floresta;, lamenta Márcio Imperial, proprietário da reserva. Márcio lembra que o trabalho de preservação realizado em sua propriedade começou com um criatório conservacional para aves. Em seguida, o pessoal da reserva passou a realizar serviço de fisioterapia com as araras que não conseguiam voar. ;Quando surgiu a oportunidade de soltar os pássaros, nós agarramos. Nosso trabalho é feito por amor à natureza;, conta Márcio. A Chapada Imperial realiza, há cerca de 10 anos, um trabalho de educação ambiental com crianças do DF. A reserva atende a turmas de 100 escolas da região durante o ano letivo e planeja reforçar o conteúdo acerca da preservação. ;Nós costumávamos queimar as gaiolas, mas percebemos que isso só servia para conscientizar as pessoas que acompanhavam o procedimento;, diz Márcio. Agora, depois de quebradas, as gaiolas onde os pássaros estavam detidos são espalhadas em cima da mureta de entrada do santuário ecológico, compondo o Muro da Liberdade. Outras informações sobre a Chapada Imperial no site www.chapadaimperial.com.br.

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