postado em 20/03/2009 10:04
Era uma época em que a união se fazia mais necessária ainda. Olhos vigiavam incessantemente aqueles milhares de jovens que se reuniam ali, sentados nas arquibancadas e no chão, para debater, protestar e se expressar. A ameaça era presente. Mas eles permaneciam e, durante e depois da ditadura militar, tornaram o Teatro de Arena, espaço ao ar livre da Universidade de Brasília (UnB), um local histórico. O teatro, que foi palco de assembleias estudantis em dias de repressão, de homenagens e encontros políticos e culturais, no entanto, é hoje ignorado por muitos.
A UnB quer mudar essa realidade. No próximo dia 31, o Teatro de Arena será palco de mais um encontro. Dessa vez, com o intuito também de revelar aos novatos momentos históricos vividos ali por veteranos. Cerca de três mil calouros participarão da aula inaugural, intitulada Aula da Inquietação. A ideia é inquietar mesmo os pensamentos e levar os novos alunos a resgatarem um dos ambientes de reflexão da academia.
;Nos últimos anos, este espaço foi negligenciado. Agora, estamos revitalizando o piso, as calçadas, a iluminação, para receber os calouros e refrescar a memória dos mais antigos sobre o significado deste espaço importante da UnB. Queremos reinserir este território na história na universidade. Vamos revitalizá-lo simbólica e fisicamente;, disse o reitor da UnB, José Geraldo de Sousa.
;Conheço pouco da história da UnB. Nem sabia que existia este teatro. Acho que pode ser um lugar legal para fazer encontros e shows. É importante divulgar o que aconteceu aqui;, disse o calouro do curso de engenharia Carlos Roberto da Silva, 20 anos. Para começar a desvendar os acontecimentos que se eternizaram no teatro, os calouros serão recepcionados pelo teólogo Leonardo Boff e o rapper Gog.
;Me lembro de todos sentados aqui, em assembleias estudantis. Certa vez, em 1970, o então reitor, o militar José Carlos Azedo, tentou se aproximar. Mas não aguentou a pressão e voltou para a reitoria;, conta o atual prefeito do câmpus e ex-aluno, Silvano da Silva Pereira.
Forças Armadas
Silvano estudou arquitetura de 1972 a 1978. ;Era um momento de efervescência política. E o reitor falou à imprensa que éramos uma minoria. Pois, então, nomeamos o lugar de Teatro da Minoria e, em seguida, o enchemos com 5 mil pessoas;, recorda. Em 1976, as Forças Armadas tomaram a universidade na tentativa de conter o ressurgimento dos movimentos estudantis. Alunos foram expulsos, outros presos.
O professor de antropologia e ex-aluno da graduação e do mestrado da UnB, Gustavo Ribeiro, foi um deles. ;Fiquei 31 dias na cadeia, considerado subversivo;, lembra ele, que estudou entre 1972 e 1980. ;No Teatro de Arena tínhamos um espaço privilegiado para encontros massivos. Me lembro da primeira grande greve estudantil em 1977, durante a ditadura, que influenciou todo o país;, contou.