postado em 24/03/2009 08:33
O envolvimento da máfia russa em esquema de exploração sexual de brasileiras na Europa deixou em alerta o Ministério da Justiça. À frente de prostíbulos e de casas noturnas em Portugal e na Espanha ; principais destinos de prostitutas do país a partir de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro ; os grupos criminosos surgidos após o fim da União Soviética revelam sinais de participação nas conexões internacionais de prostituição. ;Nos preocupa a máfia russa se aproximar das brasileiras. E parece que o sistema já se interliga;, afirmou o secretário executivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto.
Ele está em Lisboa, Portugal, onde participa do II Seminário Luso-Brasileiro sobre Tráfico de Pessoas e Migração Ilegal. Conversou ontem à tarde por celular com o Correio, que desde domingo publica série de reportagens sobre a nova rota do tráfico de seres humanos para a Europa via Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, em Brasília. Além de Barreto, a delegação brasileira na capital portuguesa conta com o secretário Nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, dois delegados da Superintendência da PF no DF e o coordenador do programa de imigração do Ministério da Justiça.
O encontro coloca em debate alguns aspectos da migração entre Brasil e Portugal. Entre eles, desrespeito aos direitos humanos, abuso de mão de obra e prostituição. A exploração sexual toma conta da maior parte das discussões entre os representantes dos dois países. ;Detectamos fluxo de meninas, principalmente de Goiás e de Minas, que sabem que viverão como prostitutas em Portugal. Poucas são as que não sabem. O que chama a atenção por aqui também são os diversos anúncios de brasileiras em jornais e revistas portugueses;, contou Barreto.
Para o secretário-executivo do Ministério da Justiça, no entanto, a aproximação da máfia russa do esquema de tráfico de seres humanos é o que mais vem preocupando. Um dos indícios dessa nova ligação é a exploração de mulheres do Leste Europeu. ;Muitas ucranianas já são submetidas a este esquema na Europa, principalmente em Portugal e Espanha. Como os dois países aparecem como os principais destinos de brasileiras, sabemos que estão expostas a esse risco;, avaliou.
20 mortes anuais
Dados da Assessoria Especial para Assuntos Internacionais do governo de Goiás revelam o tamanho do problema no estado vizinho ao DF. Estudo feito pela secretaria, em parceria com o Ministério da Justiça, dá conta de que, em média, 20 goianas morrem assassinadas na Europa em consequência da exploração sexual. Outras 18 desaparecem todo ano. Apenas 10% delas ainda caem em armadilhas e acabam expostas a regimes de semiescravidão.
Há casos em que as meninas se veem obrigadas a fazer de 10 a 12 programas por noite para pagar dívidas. Elas desembarcam com débitos de até 5 mil euros (cerca de R$ 15 mil) por conta de passagens aéreas e hospedagem. Algumas ainda têm o passaporte confiscado pelos donos dos prostíbulos e acabam confinadas até o pagamento total da dívida. Não são raros os donos de prostíbulos e de casas noturnas portugueses, espanhóis e suíços que mantêm quartos com barras de metal para evitar a saída das garotas de programa.
Durante o seminário em Lisboa, as autoridades do Brasil e de Portugal também tomarão iniciativas para dificultar a conexão internacional para tráfico de seres humanos. Entre elas, a troca de informações entre as polícias. Também deve ser importado sistema de conferência de passaporte dos aeroportos de Portugal. ;Eles contam com leitores ópticos e equipamentos capazes de ter detalhes de um passageiro em oito segundos;, contou Luiz Paulo Barreto. A tecnologia pode ser testada em breve no aeroporto de Brasília ou no de Salvador (BA). O encontro se repete no Brasil no segundo semestre.
PF em alerta
Responsáveis pela investigação do tráfico de mulheres brasileiras levadas para a Europa via aeroporto JK, os agentes e delegados da Superintendência da Polícia Federal em Goiás sabem do envolvimento de chefões do crime da Rússia no tráfico de seres humanos. ;Representantes do governo suíço no Brasil já nos procuraram para informar sobre a ação da máfia russa na Suíça;, revelou o delegado Luciano Dornelas, titular da Delegacia de Imigração da PF em Goiás.
Leia a íntegra da matéria na edição impressa do Correio Braziliense