postado em 24/03/2009 08:50
Uma denúncia de abuso de autoridade está sendo investigada no caso que culminou com o desentendimento entre policiais militares e civis em uma delegacia de Samambaia Sul, na madrugada de domingo. O suspeito alega que os PMs atiraram seis vezes na direção dele e o espancaram antes de levá-lo até a 32ª DP sob a acusação de desobediência. A confusão começou quando o delegado de plantão alegou não haver evidências para enquadrar o acusado no crime. Houve bate-boca e os PMs forçaram a porta da delegacia, fechada pelo delegado, para levar o preso até o Ministério Público do Distrito Federal.
Com medo, o pivô do problema, um rapaz que trabalha no depósito de uma loja em Samambaia, não saiu de casa desde que foi preso perto de sua casa, na QR 125, por volta de 2h de domingo. ;Eu tinha pego a moto de um colega para comprar cerveja para uma reunião que estava tendo na família. Fui com minha sobrinha, que tem 16 anos;, conta ele, que tem escoriações nos joelhos e dois dentes quebrados. ;Era perto e fui sem minha habilitação e os documentos da moto, o que foi um erro;, admite ele. A moto não havia andado nem 2km quando o rapaz se assustou ao ver um carro com o farol alto. ;Não ligaram a sirene nem nada, eu não sabia que era polícia. Resolvi dar a volta porque essa região é perigosa à noite;, explica.
Ele conta que acelerou a marcha quando ouviu um tiro. ;Minha sobrinha gritou e eu corri. Fui levantar o capacete e deixei ele cair, não o joguei na viatura. Eles deram mais três tiros antes de cairmos da moto. Acho que não rodamos nem 500m;, relata. Só no chão ele viu quem eram os perseguidores. ;Mas não foi motivo de alívio, porque eles atiraram duas vezes no chão perto de mim e começaram a me bater, perguntar onde estava a arma. Chegaram a colocar uma metralhadora na minha boca e dizer que iam me apagar ali mesmo;, lembra.
A confusão chamou a atenção da família do rapaz, que correu até o local. ;Pedi para tirarem a algema dele, para não fazerem nada com ele, mas jogaram meu filho no camburão;, lamenta a mãe. Na DP, os PMs não se conformaram quando o agente de polícia disse que não ia registrar a ocorrência como flagrante de desobediência e chamaram o delegado plantonista Jonai Lemes Vieira, que ouviu o suspeito e manteve a posição do agente. Foi a deixa para que os militares decidissem levar o preso para o Ministério Público. ;Foi um erro. Se o PM não concorda com a decisão, ele deve se reportar ao seu superior, jamais tomar essa atitude de tirar o preso da delegacia à força;, opina o chefe da 32ª DP, Onofre de Moraes. ;Tanto foi errado que o MP mandou eles retornarem com ele para cá. Já notificamos nossa corregedoria, que vai tomar as medidas legais cabíveis;, completou.
Segundo o delegado, testemunhas confirmaram a agressão dos militares e os tiros em direção ao suspeito. Mas as armas dos PMs não foram retidas para perícia ; como é praxe nesse tipo de situação. ;Não foi uma ocorrência comum e não foi possível. Mas ainda é possível apurar isso na investigação;, conclui.
Os fatos são investigados pela delegacia, pelas corregedorias das duas corporações e pela Secretaria de Segurança Pública. Ontem, o governador José Roberto Arruda cobrou uma solução rápida.
O comando do 11º BPM, onde são lotados os militares envolvidos no conflito com os policiais civis, negou as acusações de abuso de autoridade, mas ninguém quis dar entrevista.