postado em 25/03/2009 08:30
Proprietária de um restaurante na 716 Norte, Ana Ribeiro, 41 anos, não quer que a cena que se repetiu por duas vezes este ano se torne comum. Em março, ela chegou ao trabalho e encontrou a porta de vidro estilhaçada. Havia vestígios de pólvora e fragmentos do que poderia ser uma espécie de bomba. ;Eles explodiram a porta. Me sinto numa ;Faixa de Gaza;, impotente e insegura. Precisamos de segurança;, desabafou. Ela é apenas uma das comerciantes da quadra que teve o estabelecimento arrombado e objetos furtados.
Não é difícil ouvir relatos de outras pessoas apavoradas. Os comerciantes acreditam que um bando organizado esteja agindo na região. ;Por volta das 18h eu entro em pânico. Coloquei mais grades e mais cadeados, mas trabalho com medo;, disse Rita Meira, 54, dona de uma salão de beleza arrombado uma vez. ;Por enquanto, os assaltos são de madrugada. Mas e quando começarem a roubar de dia e com armas?;, indagou Mônica Silva de Souza, 27, proprietária de uma vidraçaria. O Correio apurou que pelo menos sete estabelecimentos foram arrombados este ano.
Segundo o tenente coronel Carlos Alberto Teixeira Pinto, comandante do 3º Batalhão de Polícia Militar (BPM) e responsável pelo policiamento ostensivo na Asa Norte, no ano passado inteiro, das 94 ocorrências registradas pela PM na região, 17 foram de furtos a comércio. ;Ainda estamos apurando a estatística deste ano. Mas os números de 2008 não são podem ser considerados altos. Ainda assim, queremos diminuí-los. Para isso, precisamos de parcerias com a comunidade. Já pedi inclusive para uma equipe entrar em contato com eles para marcarmos uma reunião;, garantiu o comandante.
Para o delegado Antônio Romero, titular da 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte), apesar de não ser significativo, houve aumento nos crimes de furto a comércio na 716 Norte. ;Mas é importante que os comerciantes saibam que estamos realizando uma investigação especial para saber se os autores vivem na região ou se são moradores de rua;, afirmou o delegado.
Na maioria dos casos, os furtos são praticados na madrugada. E, em quase todos os registros, os ladrões levaram computadores. ;Acreditamos que seja o mesmo bando. E temos a impressão de que eles devem se esconder aqui perto;, disse Ana, que teve dor de cabeça duas vezes, em 4 de março e no último domingo. Não teve nem tempo de contabilizar prejuízos. Na primeira investida, os bandidos usaram a ;bomba; e levaram um computador. Na segunda, furtaram duas das três câmeras externas de segurança. ;Sinal de que eles pretendem agir novamente;, lamentou. ;Queremos um posto policial perto de nós;, reivindicou Rita.
O comandante do 3º BPM explica que estão sendo realizados estudos com o Conselho de Segurança Comunitária para que sejam definidos novos pontos onde serão instalados Postos Policiais. ;Isso depende da incidência criminal e da disponibilidade de terreno, já que a área do Plano Piloto é tombada;, completou.
Do salão de Rita levaram tudo: de tinta de cabelo a porta-retrato. O prejuízo chegou a R$ 5 mil. O furto ocorreu há 15 dias. Uma semana antes, o carro do filho também foi arrombado. ;Na mesma noite roubaram sons e objetos de cinco carros;, lembrou.
Esperar a perícia é complicado
A polícia ressalta que o registro das ocorrências e a espera pela perícia são fundamentais para auxiliar na elucidação dos crimes. ;É com a perícia que podemos colher impressões digitais e dar melhor andamento às investigações. Mas sabemos que muitas vezes a perícia demora porque os profissionais têm que atender a todo o DF;, afirmou o delegado Antônio Romero.
A comunidade, no entanto, diz ter motivos para não aguardar o serviço dos peritos. ;Como poderia esperar? Roubaram meu salão na madrugada de uma segunda-feira e a perícia só chegou na terça. Não podia deixar como estava, com tudo aberto;, justificou Rita. ;É triste chegar no trabalho e ver tudo destruído e roubado. A delegacia fica do nosso lado e não nos sentimos seguros;, completou.
Proprietário de outro restaurante da quadra, Silvio José Coelho, 40, também está apreensivo. Há sete meses com o ponto no local, ele teve computadores e bebidas furtados no último dia do carnaval. Um prejuízo estimado em mais de R$ 4 mil. ;Aumentei o sistema de sensores em todos os cantos do restaurante, mas os bandidos dão um jeito de burlar o sistema;, lamenta.
No salão de beleza de Fermina Gaona Diaz, 31, os ladrões arrombaram as portas duas vezes, em janeiro e fevereiro. ;Vimos o resto de pó. Parece que eles usaram uma bomba também. Mas não levaram nada. Acho que porque o alarme disparou. Isso, obviamente, não diminuiu nosso medo.;
Quadra grande
A 716 Norte abrange o comércio da W3 Norte, cinco prédios residenciais, 74 casas e o comércio lateral. ;É uma das maiores quadras da Asa Norte. E ainda somos rodeados por escolas, supermercados e hospitais. É um lugar visado. Os comerciantes estão revoltados e inseguros, se sentindo presos enquanto os bandidos estão soltos;, disse a prefeita da quadra, Maria Beatriz de Andrade Santiago Silva. Até quem não teve o estabelecimento arrombado se previne. ;Com tantas histórias, ficamos com medo. Coloquei arame farpado atrás da minha loja;, contou Cássia Soares, 35.
Segundo o comandante do 3º BPM, hoje, oito rádio-patrulhas e oito motocicletas são usadas no policiamento da Asa Norte. Isso além de três equipes de dois PMs que fazem a ronda descaracterizados. ;A onipresença é impossível. Não temos como colocar um policial em cada esquina, por isso precisamos que a população nos comunique os fatos o quanto antes para que possamos fazer um trabalho preventivo e estudar um aumento no policiamento da região;, explicou Carlos Alberto Teixeira Pinto. O delegado Antônio Romero concorda que para inibir os crimes é preciso que comerciantes participem das reuniões com a polícia e dos conselhos comunitários. ;E é imprescindível que todos registrem ocorrência;, afirmou o delegado (IT).