Cidades

Em estacionamentos públicos, motoristas viram reféns da ação dos flanelinhas

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postado em 28/03/2009 08:10
A gorjeta virou obrigação. Quem não contribui com os flanelinhas nos estacionamentos públicos do Distrito Federal corre o risco de, no mínimo, ser hostilizado. Os guardadores de carro têm dominado a relação com os motoristas por meio de ameaças e intimidação. Em alguns pontos, eles são acusados de depredar veículos de quem não costuma despejar moedas e cédulas pela janela. A população se sente cada vez mais acuada e amedrontada com essa situação. No Setor de Rádio e TV Sul, pelo menos 10 flanelinhas tomam conta de um estacionamento próximo à Fundação Nacional do Índio (Funai), com capacidade para cerca de 150 carros. Eles chegam a cobrar pelo menos R$ 5 por semana ou então R$ 30 por mês dos usuários. Quem fecha negócio não é perturbado. E ainda têm privilégios, como a garantia de uma vaga, mesmo que em local proibido. Os que hesitam em desembolsar com antecedência, por sua vez, são pressionados a cada chegada e saída. A presença dos flanelinhas basta para intimidar quem precisa parar o carro no mesmo estacionamento com frequência. ;Eles sabem quem vem todo dia e quem não vem, quem paga e quem não paga;, avisou a advogada Larissa Castro, de 26 anos, que estuda no SRTV Sul. ;Mudo de estacionamento para eles não me marcarem. Isso aqui é uma área pública, não tenho obrigação de dar dinheiro para eles;, comentou ela. Gente que pensa como Larissa costuma, na hora de ir embora, entrar no carro e sair do estacionamento bem rápido, a tempo de não ser visto pelos flanelinhas. O também advogado Pedro Carvalho, 24 anos, foge de guardadores de carro. Prefere estacionar em pontos mais distantes a encarar lugares onde eles estão. ;Faço isso para evitar problema;, explicou. Para Carvalho, no entanto, é melhor pagar que correr o risco de ter o ;rosto e o carro marcados;. Tráfico de drogas As acusações contra os flanelinhas não se resumem às exigências de gorjeta. Funcionários de prédios próximos ao estacionamento que fica ao lado da Funai dizem que o espaço é utilizado por eles para usar e traficar drogas. Segundo relatos, carreiras de cocaína são enfileiradas nos próprios capôs dos carros. ;Gostaria muito de vir trabalhar em paz e ter a certeza de que nada irá me acontecer na hora de ir embora;, desabafa uma das mulheres que sempre estaciona no lugar. Por encontrarem os mesmos guardadores de carro diariamente, muitos motoristas acabam criando estratégias para tentar manter uma boa relação com eles. ;Alguns viraram meus amigos. Foi a maneira que encontrei para me defender e não ser ameaçada quando não tiver dinheiro;, exemplificou uma mulher de 52 anos, que pediu anonimato. Na manhã de ontem, ao perceberem que estavam sendo fotografados, alguns flanelinhas ameçaram a reportagem do Correio. O tenente-coronel Paulo César Ferreira Neves, comandante do 1º Batalhão da Polícia Militar, responsável pelo policiamento na Asa Sul, informou que, ainda ontem, enviaria uma equipe à paisana para investigar as denúncias de tráfico no estacionamento próximo à Funai. Segundo o comandante, os policiais também ficariam atentos à prática de extorsão. ;Não tem como a polícia detectar esse tipo de crime com o policiamento ostensivo. Precisamos da ajuda da população;, disse. A 5ª Delegacia de Polícia, que cuida da área central de Brasília, também anunciou que vai apurar as denúncias. ;Se há exigência de pagamento para estacionar em área pública ou intimidação por parte dos flanelinhas, está configurada a extorsão. Mas, para que possamos investigar, as pessoas precisam registrar ocorrência;, destacou o delegado-adjunto da 5ª DP, Marco Antônio de Almeida. O crime de extorsão prevê pena de quatro a 10 anos de prisão. O Correio também percorreu ontem estacionamentos do Setor Comercial Sul (SCS) e dos arredores do shopping Conjunto Nacional. Ouviu de motoristas as mesmas queixas em relação ao que ocorre no SRTV Sul. ;Existe um medo muito grande. Estamos reféns deles;, resumiu uma servidora pública de 51 anos que trabalha no SCS. ;Eles brigam por vaga, escondem drogas nos pneus dos carros, nos intimidam quando não recebem dinheiro. Têm pessoas perigosas entre eles;, completou. » Áudio: ouça entrevista com o presidente da associação dos flanelinhas, Valdivino Diogo da Silva
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