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Duas brasilienses desenvolvem absorvente renovável que pode ser utilizado por 5 anos

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postado em 29/03/2009 08:10
A idéia de usar um absorvente lavável, que chega a durar até cinco anos, pode parecer estranha a primeira vista. Coloca em jogo a relação da mulher com o próprio corpo e propõe uma mudança significativa de comportamento. Mas a motivação por trás da iniciativa de duas brasilienses em trazer o produto para a capital é nobre. E verde. Apesar de dividir opiniões, o Modser, como é chamado, significa um avanço na preservação ambiental e na economia doméstica. Inspirada na antiga forma de conter o sangue da menstruação ; quando se usava toalhas de algodão na calcinha ;, a alternativa começa a ganhar adeptas na cidade. Especialistas afirmam que o modelo diminui os riscos de alergia e preserva a saúde da mulher, mas alertam para os cuidados na higienização do material. Essa história começa em 2005, quando a estudante de biologia Mônica Passarinho, 25 anos, fez uma viagem pela América do Sul. Na Venezuela, conheceu uma australiana que tinha comprado um absorvente ecológico na Inglaterra ; absorventes biodegradáveis ou reutilizáveis são vendidos em supermercados e lojas de países da Europa e nos Estados Unidos. "Achei interessante e, como precisava economizar, resolvi comprar o material e fazer um para mim", lembrou. No entanto, a produção e venda do Modser em Brasília começou no início de 2008, quando Mônica conheceu a arquiteta Nara Gallina, 24, no Instituto de Permacultura Ecovilas e Meio Ambiente (Ipoema), ONG da cidade. "Já conhecia alguns modelos pela internet e tinha vontade de trazer o produto para cá. Resolvemos nos unir para começar a produzir e apresentar a alternativa para as mulheres", contou Nara. O absorvente renovável tem o tamanho semelhante ao convencional (20 cm) e conta com um compartimento onde são guardadas duas toalhinhas feitas 100% de algodão. Nas abas há dois botões que asseguram a fixação na roupa íntima. "O fato de ser de algodão aumenta a ventilação, diminuindo o mau cheiro do sangue", explicou Mônica, que buscou o aval de ginecologistas durante o desenvolvimento do produto. Segundo ela, a eficiência do Modser ; o nome faz uma alusão a um novo modo de ser feminino ; é equivalente à do tradicional: "Se a mulher troca de absorvente três vezes por dia, ela continua com a mesma freqüência". O número de toalhas colocadas no compartimento varia de acordo com a intensidade do fluxo de sangue. "Cada unidade vem com duas toalhas, mas a mulher pode adquirir outras ou usar apenas uma para ter mais segurança", complementou a estudante. A produção é feita a quatro mãos. Os tecidos são comprados em um mercado de Taguatinga e higienizados pela própria dupla. "Temos duas máquinas de costura e trabalhamos em casa. É trabalhoso, mas vale à pena. Representa um grande passo na união dos cuidados com a saúde e o planeta", observou Gallina. Até o momento, as amigas produziram e venderam 600 absorventes. Elas trabalham para fazer outros 400 até julho. "A aceitação foi boa. Mostra que as mulheres estão abertas para mudanças e para a preservação do meio ambiente", comemorou a arquiteta. A venda começou entre amigas, que comercializaram para as amigas das amigas e assim por diante. A unidade do modelo padrão custa R$ 12,50 e o noturno, um pouco maior para conter o fluxo à noite, R$ 15,20. Saúde Mulheres entre 20 e 30 anos representam a maior parte do público que busca os absorventes amigos da natureza. A culinarista vegetariana Marina Corbucci, 24 anos, soube da existência do Modser há oito meses, em uma conversa com amigas. Resolveu experimentar e aprovou o produto. "É preciso conhecer a intensidade do fluxo para adequar o uso, mas ele nunca me deixou na mão. As toalhas juntas são mais absorventes que o plástico cheio de algodão do convencional. Além disso, o contato com a pele é mais sensível e evita a alergia", contou. Além de cuidar da própria saúde, ela procurou a alternativa para diminuir a produção do lixo vindo da indústria dos absorventes (leia abaixo). "É preciso repensar o nosso modo de consumo para ajudar a diminuir quantidade de lixo jogada no planeta", alertou. O ginecologista Antônio Carlos da Cunha, professor do departamento de medicina da UnB, afirma que os absorventes totalmente feitos de algodão são ideais para preservar a saúde da vagina. "Para manter a acidez da vagina é preciso cuidar do equilíbrio da flora bacteriana. Os absorventes convencionais têm muitos produtos químicos, como perfumes e cola, que prejudicam as bactérias que mantêm a boa saúde do órgão e alteram a acidez da mucosa interna" explicou o especialista. Segundo ele, a química deixa a vagina mais propícia à infecções e reações alérgicas, reclamação freqüente entre as pacientes. No entanto, Antônio alerta para os cuidados na limpeza do material. "É preciso tirar os resíduos de sangue, deixar secar totalmente e guardar em local limpo e arejado", complementou. Segundo a dupla que luta pelo sucesso do Modser na capital do país, a principal queixa com relação ao uso do produto diz respeito à praticidade. Muitas mulheres alegam não ter tempo para lavar o absorvente, outras têm nojo do próprio sangue. Há algumas mulheres que reclamam do vazamento. Mônica explica que no tradicional, por ser vedado com plástico, o sangue escorre pelas bordas. Já no reutilizável, escorre pelos fundos. "São necessários dois ciclos até a mulher adaptar o tempo de troca do Modser à sua necessidade, assim como ocorre com o tradicional. Recebemos pouquíssimas reclamações. É uma questão de adaptação", explicou Gallina. "A mulher deve querer a mudança e entender que o bem virá para todos", concluiu Mônica. Para mais informações ou para comprar o Modser, ligue para 9975-0658 (Mônica) ou 9944-1061 (Nara).

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