Cidades

Colégios usam experiência de alunos vítimas de roubos para alertar outros estudantes

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postado em 29/03/2009 08:10
Violência, medo e assalto viraram disciplina nas salas de aula dos ensinos fundamental e médio de Brasília. Desde que os roubos contra estudantes de colégios particulares se tornaram frequentes no Plano Piloto, professores, diretores e orientadores educacionais tratam o problema abertamente no ambiente escolar. Temem que os alunos reajam, sejam feridos ou se mobilizem para contra-ataques. Além das abordagens dos criminosos, os responsáveis pela educação no ensino privado reclamam da ausência de policiamento. Mesmo assim, faltam ocorrências nas delegacias. O Correio visitou nos últimos três dias úteis da semana sete escolas das asas Sul e Norte. Levantamento feito pela reportagem apontou 26 casos desde fevereiro. Todos praticados ao longo do caminho percorrido até a residência, restaurante ou parada de ônibus. A maioria dos ataques ocorre na saída do turno da manhã e no começo da noite. São homens e mulheres, bem-vestidos ou maltrapilhos, em busca de mochilas e os mais diversos aparelhos eletrônicos. Muitos usam crack. Se a ordem para entregar tudo não é seguida, apelam para a violência. Mostram canivetes e armas de fogo. Dois meses após o início das aulas, a ação de criminosos interessados nos pertences de garotos e garotas da rede particular persiste, principalmente nas instituições de ensino da W5 Norte (altura das quadras 900) e da L2 Sul. Na Asa Norte, o caminho feito pelos estudantes do Centro Educacional Leonardo da Vinci, entre a 914 e a W3, aparece como um dos pontos preferidos dos ladrões. Balanço feito pela direção da escola revela que houve 10 assaltos e uma tentativa somente nas últimas duas semanas. Segundo os alunos, ocorrem a qualquer hora, geralmente na saída do turno da manhã. Os relatos mostram a ousadia dos assaltantes atraídos pelos uniformes. Atacam em duplas, às vezes sozinhos, e não se intimidam com grupos. Dois jovens de 15 anos, do 1º ano do ensino médio, ficaram sob a mira de uma arma ao saírem à noite da aula de futsal ; o ginásio fica dentro da escola. "A gente atravessava a faixa e um sujeito de bicicleta mandou largar a mochila. Reclamamos. Aí ele mostrou a arma. Nos chamou de ;playboy; e mandou tirar o ;pisante;", contou um dos colegas. A dupla ficou sem tênis, mochilas, celulares e documentos. Um deles abandonou as aulas de futsal por ordem dos pais. Outra vítima recente do centro de ensino da 914 Norte tem 14 anos e também cursa o 1º ano. Ela e o namorado deixaram a escola em direção à W3 Norte por volta das 13h, quando dois jovens os abordaram pelas costas. Um deles arrancou o celular da mão da menina e correu. O menino seguiu atrás, mas o ladrão se virou e mostrou um canivete. "Ele gritou: ;Sai, playboy;. E aí o meu namorado achou melhor não fazer nada e deixou eles fugirem. Agora, estou proibida de sair sem os meus pais", lamentou a garota. Grupo se reuniu depois do episódio e ainda tentou encontrar os bandidos. A direção do colégio trata o assunto como prioridade. Tanto que tomou seis medidas preventivas. Entre elas, colocação de cartazes com dicas de prevenção nas salas de aula e passagem de lista para que os estudantes assinem como cientes dos assaltos nos arredores (leia fac-símile). "A violência está transformando os nossos alunos. Alguns falam em trazer facas e paus. A gente liga para o 190 e nos dizem que não há efetivo. A gente se sente desprotegido. Onde está o Estado? O que ele nos oferece de segurança?", questionou o coordenador disciplinar do ensino médio, Luciano Gallo. Vigilância de perto A situação no Colégio JK, na 913 Norte, é parecida ao do vizinho Leonardo da Vinci. A diretoria também se mobiliza para manter 800 adolescentes informados e em alerta. Houve, por exemplo, dois roubos na última semana: um na segunda e outro na terça-feira. Na quinta, o Correio chegou ao local no momento em que a diretora do colégio, Neila Siqueira Lima, dava autorização por escrito para que duas meninas, ambas vítimas de uma mulher mais velha e de cabelos avermelhados, contassem o drama em todas as salas de aula. Os dois relatos têm características semelhantes. Tanto a garota de 16 anos quanto a de 11 seguiam em direção à W3 Norte, sofreram a abordagem pelas costas, tiveram um dos braços preso por trás e sentiram um objeto pontiagudo nas costas. Ficaram sem os celulares. "Vi uma mulher de cabelo vermelho atravessando na minha frente e logo em seguida ela estava atrás de mim. Me pegou pelo braço e encostou alguma coisa atrás. Pegou o celular e saiu dizendo que ia ficar me observando", contou a mais velha delas, que estava acompanhada do namorado na hora do ataque. A diretora Neila reclamou da insegurança e da falta de policiais militares por perto. Por conta disso, criou estratégias para garantir o mínimo de proteção aos alunos. "Na hora da saída do turno da manhã, muitas vezes sigo de carro para acompanhá-los. Os porteiros e vigilantes também estão autorizados a, se tiver gente estranha, caminhar com os meninos", disse. No Centro Educacional Sagrada Família, na 906 Norte, houve três casos desde o começo do ano letivo. A direção também orienta a evitar lugares escuros e fechados e a andar em grupos. Leia mais sobre casos roubos a estudantes na edição deste domingo (29/3) do Correio Braziliense

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