postado em 30/03/2009 08:04
Luz de freio quebrada, placa ilegível, extintor vencido e alterações no carro ; como cortar as molas para rebaixar ou usar películas mais escuras que as permitidas por lei ; são exemplos de irregularidades cada vez mais comuns entre os cerca de 1.060.000 veículos que hoje circulam pelas ruas do Distrito Federal. Levantamento do Departamento de Trânsito (Detran) revela, ao longo dos últimos três anos, um aumento no número de motoristas autuados por cometer na capital alguma das infrações citadas acima. Só nos dois primeiros meses de 2009 foram 1.898 notificações, média de 32 por dia. Apesar de geralmente passarem desapercebidos para os motoristas, especialistas afirmam que problemas aparentemente simples nos veículos aumentam o risco de acidentes e devem sim ser punidos.
Os depósitos do Detran, em Taguatinga e no Plano Piloto, são o retrato do descaso de condutores brasilienses. Entre os 3,5 mil carros recolhidos, boa parte apresenta problemas que, segundo o departamento, poderiam ser facilmente resolvidos. Alguns casos beiram o absurdo, como uma moto que circulava com placa de madeira, pintada a mão, amarrada com arame e que sequer tinha o registro da cidade de origem. Ou um Corsa com a lataria, suspensão, rodas e vidros alterados ilegalmente e que o motorista ainda baixou o capô para deixar o carro com ;cara de mau;. Infrações interpretadas como leves por condutores constam como gravíssimas no Código de Trânsito Brasileiro. A punição para esses casos pode chegar a sete pontos na carteira, multa de R$ 191 e retenção do veículo (veja quadro).
Durante esta semana, o Correio circulou pelas principais vias do DF, como o Eixão, a avenida Hélio Prates, em Ceilândia, e a Samdu, em Taguatinga. Não faltaram flagrantes de irregularidades em equipamentos de sinalização, segurança e identificação. Veículos com lâmpadas de freio e ré quebradas, sem placa ou com a peça ilegível, modelos rebaixados e até com aerofólio ; acessório usado para dar mais estabilidade aos carros de corrida, como na Fórmula 1 ; circulavam livremente. O aposentado Alberto Freitas, 55 anos, está com todas as luzes do lado direito da parte traseira da Elba que dirige quebradas. Ele admite prorrogar o conserto do aparato e não nega que a falta da sinalização o deixou mais exposto a acidentes. ;Quebrou em uma batida. Eu tenho que usar o braço para dar seta e às vezes fica difícil.;
O chefe de fiscalização do Detran, Silvaim Fonseca, explica que a falta de manutenção eleva o risco de colisões. ;Um para-sol quebrado pode prejudicar a visão e gerar uma batida no começo ou fim do dia. Já tivemos casos mais graves, como um grupo de jovens que morreu em um acidente com um carro alterado que perdeu a estabilidade próximo ao Parkshopping.;
O motorista Maykon dos Santos, 23, esteve no depósito do Detran esta semana para recuperar o documento do Opala 1986 recém-comprado. Ele teve que gastar R$ 300 para desfazer alterações ilegais e reparar a parte elétrica do carro, recolhido em fevereiro de 2008. ;Tive que tirar a película, colocar molas e consertar a luz de freio. Acho bonito mexer no carro, mas não dá para correr o risco de pagar mais multas.;
Segurança em baixa
Entre os problemas menos observados pelos motoristas, os mais frequentes são os defeitos em itens de segurança. De janeiro a fevereiro deste ano foram 1.044 flagrantes. ;Vai desde o cinto que não prende à falta de combustível nas ruas. Todos defeitos simples e baratos de serem resolvidos;, ressaltou o chefe de fiscalização do Detran. Em segundo lugar, vêm as alterações não autorizadas, com 522 casos no primeiro bimestre de 2009. E em terceiro, os defeitos na parte elétrica, com 155 autuações. Para Fonseca, os números refletem um aumento na fiscalização, mas também o crescimento da falta de zelo com os veículos e o desrespeito à legislação de trânsito em Brasília. ;Infelizmente, as pessoas esperam ser punidas para resolver a situação. Vamos continuar o trabalhos nas ruas.;
O extintor de incêndio é um dos itens mais problemáticos na capital. Algumas pessoas nem sabem onde fica o equipamento de segurança. Outras admitem que só trocam o item, usado em casos de emergência, como um incêndio, antes de passar por vistorias do Detran. ;Sei que posso precisar, mas é o tipo de coisa que a gente não lembra. Nem sabia que o meu estava vencido;, observou uma mulher que preferiu não se identificar. O extintor de seu carro está vencido desde 2006. A validade do cilindro dura de um a cinco anos. Para mais informações sobre o que é ou não permitido é possível consultar o Detran pelo telefone 154.
Conselho define o que é permitido
A Resolução nº 25/1998 do Conselho Nacional de Trânsito (CNT) estabelece o que pode e o que não ser alterado em veículos automotores. Portanto, motoristas que gostam de mexer na estrutura original do carro devem estar atentos, pois o descumprimento da norma implica em infração grave, com multa de R$ 127 e cinco pontos na carteira. Antes de qualquer modificação, o condutor deve consultar o Departamento de Trânsito (Detran), órgão responsável por avaliar ; em parceria com o Instituto de Inspeção de Segurança ; e autorizar a transformação. Um vez permitida, a expressão ;veículo modificado; passa a constar na documentação do carro.
Alterar a suspensão não pode. Nem colocar roda de aro diferente da original ou tapar com película os vidros ; acessório permitido até certo grau de visibilidade. Colocar DVD no interior do carro só com o dispositivo que desliga automaticamente o aparelho quando o automóvel está em movimento. Usar placas fora do padrão constitui infração gravíssima. Aquelas luzes néon usadas sob os carros de jovens motoristas também são proibidas. Por outro lado: trocar a cor do carro, mudar o tipo de combustível ou o tipo de farol e aumentar a capacidade do motor são interferências permitidas pelo CNT, desde que com a autorização prévia do órgão de trânsito responsável.
O chefe de fiscalização do Detran-DF, Silvaim Fonseca, critica as alterações veiculares desnecessárias, feitas com objetivo estético. ;Boa parte delas podem comprometer a integridade dos veículos e colocar em risco a vida de condutores;, comentou. Segundo ele, carros modificados também costumam estar relacionados a condutas ilegais nas vias do DF, como rachas ; corridas ilegais ; e o desrespeito ao limite de velocidade. ;Se quiserem, motoristas podem mexer na estrutura seus carros, desde que em acordo com a lei;, concluiu.