Cidades

Guará se prepara para completar 40 anos em maio

;

postado em 31/03/2009 08:23
O Guará se prepara para completar 40 anos em maio. A cidade de gente acolhedora e vida ainda pacata, apesar do avanço da criminalidade, é uma das mais queridas do Distrito Federal. Em 1967, as primeiras casas começaram a ser erguidas para abrigar quem trabalhava no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). Dois anos mais tarde, o bairro foi inaugurado oficialmente e, em 1973, ganhou status de região administrativa. Passou a receber também servidores públicos, a maioria vinda do Rio de Janeiro e, hoje, com cerca de 150 mil habitantes, é berço da classe média do DF. A expansão rápida obriga a criação de novas quadras e setores, como os futuros Jóquei Clube e Quaresmeira. Com a ajuda de moradores, a administração regional programa uma série de festividades para movimentar a cidade a partir de 5 de maio, data do aniversário. A festa deve durar o mês inteiro e ser encerrada com um sarau na Casa da Cultura, quando será lançado o livro Primeira antologia poética do Guará. A publicação reunirá poemas de artistas adormecidos, grande parte deles criada em meio à famosa feira permanente e às praças da cidade localizada a 11km do centro de Brasília, cujo nome é uma homenagem ao lobo-guará, um animal em extinção, típico do Planalto Central. Serão publicados 100 textos de tema livre. Pessoas de todo o DF podem se inscrever até o próximo dia 15. O coordenador do projeto do livro e gerente de Cultura e Educação do Guará, Adilson Cordeiro, conhecido como Didi, explica que a ideia é ;balançar a cidade para chover verso;. Ele lembra que muitos poetas anônimos nunca tiveram a oportunidade de mostrar o trabalho. Falta incentivo, dinheiro e, às vezes, até vontade do próprio artista. ;Muita gente costuma deixar sempre para depois essa história de publicar os versos;, comenta Didi, autor de dois livros. Os poetas colaboradores não precisam ser necessariamente do Guará. ;A poesia não tem fronteiras;, pondera. ;O tema é livre, só não pode pornografia e xingar a mãe do guarda;, completa ele, que também assinará um poema no livro. Casa da Cultura Didi é o responsável pela Casa da Cultura, espaço criado em 1989 para manter viva a veia artística local. O espaço abriga uma biblioteca pública, shows, cursos e oficinas. Foi lá onde, na tarde de ontem, o Correio encontrou com Didi e outros dois poetas guaraenses de coração. Um deles é Thomaz Coelho, de 56 anos, ator, diretor de teatro, nascido em Viçosa do Ceará, morador do Guará desde 1973. Ele participará da Primeira antologia poética do Guará com um poema escrito em 2006 sobre o Beirute, um dos bares mais tradicionais de Brasília (veja trecho ao lado). ;Essa cidade é um celeiro de pessoas que convergem para a arte. O livro mostrará isso;, diz ele. Thomaz já escreveu três livros de poesias e contos. Prepara o quarto. É daqueles que não desiste de promover a arte e se define como ;heroi da resistência;. Defende que quem ama a poesia precisa lutar para divulgá-la. E espera que o livro a ser lançado durante as comemorações dos 40 anos do Guará faça ressurgir uma geração de poetas do Distrito Federal, que aguardava apenas uma oportunidade de voltar à tona. ;O nosso trabalho tem que ser mostrado. Se nossos versos forem para a gaveta, só quem vai lê-los serão as baratas;, comenta. ;É muito triste ser fã de si mesmo. A proposta é que a gente pegue na mão da moçada e, juntos, criemos o ;bonde da poesia;;, completa. Outro artista que terá o trabalho divulgado no livro de poemas é o pioneiro Judson Seraine. O homem de 77 anos e um bom humor fora do comum nasceu em Corrente, no Piauí, e chegou a Brasília em 1958. Dez anos depois, assistiu à fundação do Guará. É cidadão honorário da cidade, comendador da Ordem do Mérito de Brasília e orgulha-se de, como peão de obra, ter ajudado a construir, por exemplo, o Buraco do Tatu e a Catedral Metropolitana. Até hoje, ele guarda com carinho uma carta de agradecimento que recebeu das mãos do ex-presidente Juscelino Kubitschek. ;Mas a coisa mais importante que fiz nessa vida foram meus quatro filhos;, destaca ele. São quatro filhos, 20 netos e quatro bisnetos. O vô Judson, como é chamado entre os amigos e familiares, tem mais de 100 versos elaborados, todos reproduzidos em pequenos papéis que ele distribui por onde passa. ;É uma espécie de berro de agradecimento à vida;, comenta ele, ao tentar explicar o que o levou a ser poeta. O livro que será lançado em maio trará um poema escrito por ele em 2005, sobre a cidade do Guará. ;O poeta escreve sem saber se vai encontrar freguês para ler. Mas, se encontrar, claro que é bom, né?;, brinca ele. A festa de aniversário dos 40 anos do Guará nem começou, o livro ainda nem foi lançado, mas os poetas Didi, Thomaz e vô Judson já estão renovados. A esperada ;chuva de versos; já começou. Sarau imperdível A Casa da Cultura do Guará sedia, na próxima quinta-feira, a sétima edição do Sarau Poético, com início às 20h. Haverá apresentações de dança cigana, do ventre e gafieira, peças teatrais com a companhia Vaivc.com, recitação de poesias e música com Paulinho Moreno. Na ocasião, também será feita uma homenagem à organização do concurso Miss DF 2009, com a presença da beldade escolhida para representar o Guará, Luciana Marinho. A entrada é de graça e a censura é livre. Participe! Interessados em ter poemas publicados no livro Primeira antologia poética do Guará têm até o próximo dia 15 para se inscrever na Casa da Cultura, ao lado do Kartódromo. A inscrição custa R$ 100. No lançamento, em maio, cada autor ganhará 20 exemplares para serem vendidos a R$ 20 cada. Mais informações pelo telefone 3966-3377 e pelo e-mail casadacultura.guara@uol.com.br. Trechos dos poemas Guará, a Satélite ;Como núcleo de moradia popular Construída no melhor local Iniciamos com o sistema de mutirão A coragem do grupo era o pedestal Tendo como troféu, os calos em cada mão (%u2026) A poucas milhas do cérebro da nação A figura do lobo como bandeira É a cidade com melhor valorização Para o popular temos a melhor feira Uma joia implantada neste torrão; Judson Seraine, 77 anos, pioneiro, morador do Guará desde 1968 Dívida Poética ;Devo a Chico Buarque Devo às meninas, socialite Dívida poética crescente Minha e sua, exclusivamente Endividado com Pagodinho Hipotecado ao Martinho Corro pra Noel e Cartola Quero entrar nessa escola; Adilson Rodrigues Cordeiro, o Didi, 55 anos, gerente de Cultura e Educação do Guará, morador da cidade desde 1975 Bar Beirute ;Reduto dos sonhos e das piadas Encontro dos alegres e vencidos Aeroporto das conversas aladas Castelo dos anônimos e assumidos (%u2026) O mundo que se forma entre mesas No espaço coberto, livre e colorido Dialoga entre copos e pontas acesas; Thomaz Coelho, 56 anos, ator, poeta e diretor de teatro, morador do Guará desde 1973

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação