Cidades

Roubos no Plano Piloto ganharam novo ingrediente: o ataque pré-agendado

Bandidos estudam a rotina dos locais, intimidam funcionários e avisam que voltarão

postado em 09/04/2009 08:15
A ousadia dos assaltantes das quadras comerciais do Plano Piloto chegou ao limite. Além da frequência com que donos de farmácias, restaurantes, padarias e butiques são atacados por bandidos especializados, grupos de ladrões aderiram à prática do ataque pré-agendado. Estudam a rotina do local, ameaçam os funcionários e dizem que voltarão assim que o caixa tiver mais dinheiro. Alguns comerciantes se unem para fazer protestos contra a insegurança. Outros denunciam o assédio de homens identificados como policiais militares interessados em fazer bicos como vigilantes. O crime desafia as autoridades de segurança pública desde 2007, quando houve 132 casos apenas em Brasília. O número aumentou para 187 no ano passado, um crescimento de 41,6%. ;Os roubos, principalmente os assaltos a comércio, aparecem como motivo de preocupação. Foi um dos poucos crimes que cresceu. Por isso a necessidade de se continuar com as operações conjuntas e setorizadas;, afirmou o secretário de Segurança Pública do DF, Valmir Lemos. A comercial da 208/209 Norte aparece hoje como um dos alvos preferidos no Plano Piloto. É também onde os funcionários de uma lanchonete se viram ameaçados por uma espécie de crime agendado. ;Três ladrões passaram na loja de madrugada e disseram: ;A gente sabe que aqui só trabalham mulheres e fica aberto 24h. Vocês estão sem dinheiro no caixa agora, mas vamos passar outro dia para pegar o caixa mais cheio;. Parece inacreditável, mas já deram esse aviso duas vezes;, afirmou o empresário Velomar Santos, responsável por duas lojas na quadra. O filho dele toma conta do estabelecimento ameaçado. Desde então, os empregados vivem em constante tensão. Para piorar, houve pelo menos cinco assaltos na 209 Norte este ano. O outro ponto comercial da família, um bar no mesmo bloco da lanchonete, sofreu um deles. O ataque ocorreu em uma quinta-feira de fevereiro, por volta da 1h. Quatro jovens, três armados, invadiram o local e renderam gerentes e funcionários. ;Por sorte, tinha recolhido o dinheiro minutos antes. Eles fugiram com tênis, celulares e carteiras. Vou investir R$ 5 mil em equipamentos de segurança;, contou Velomar. Supostos policiais O bar e restaurante vizinho ao de Velomar acumula três assaltos desde o início de 2009: dois em janeiro e um em fevereiro. No último deles, o gerente e um garçom perceberam o movimento e se esconderam para chamar a polícia. Era início da madrugada e quase não havia clientes. Os ladrões levaram R$ 104 do caixa. A paciência do responsável pelo lugar, Claudir Passo, chegou ao limite. Fez ocorrências na delegacia da área, a 2ª DP, mas vai investir na instalação de câmeras de vídeo na parte externa do estabelecimento ; o sistema atual se limita à área interna. Claudir e Velomar também se queixam do assédio de homens que se apresentam como policiais militares. Segundo os empresários, eles se oferecem para trabalhar como vigilantes particulares durante o horário de folga. Têm inclusive uma tabela: R$ 200 por dia. Dizem ainda que precisariam da ajuda de um colega para se revezar no posto. Uma semana de serviço, por exemplo, custaria R$ 2,8 mil. ;É um valor inviável para nós. Tinha é de ter PM todos os dias, mas não há. Já pagamos nossos impostos. Pagar mais seria absurdo;, reclamou Claudir. Faixas irônicas Problema parecido existe na Asa Sul. Na 204/205, por exemplo, os comerciantes sofrem com roubos e arrombamentos anunciados dias antes por garotos. ;Um menino chegou aqui na minha porta e disse: ;Aí, tia, vou tomar conta da tua loja;. Dias depois, um conhecido dele entrou aqui, pediu para ir ao banheiro e levou roupas dos funcionários. Provavelmente, sabia da rotina da loja depois de avisado pelo garoto;, disse a dona de um comércio na 204 Sul, que preferiu não se identificar. A mulher sofreu outro furto algumas semanas adiante. A comercial da 204/205 Sul acumula 13 assaltos desde o início do ano, entre roubos, furtos e arrombamentos. Um dos mais recentes ocorreu na semana passada contra um ponto localizado na esquina da quadra. Os bandidos atacaram por volta das 3h. Agiram com ousadia. Segundo o gerente do local, eles avançaram a calçada com uma caminhonete, prenderam um cabo de aço em uma grade lateral e aceleraram o veículo. O movimento fez com que a porta de metal arrebentasse. Parte da parede de concreto também ficou destruída. Os ladrões invadiram a loja e fugiram com computadores, bebidas alcoólicas e produtos alimentícios. ;Eles estavam bem preparados. Tanto que alguém que os acompanhava tinha conhecimento para desativar o alarme e o sistema de câmeras. Semanas antes, um garoto passou por aqui e falou: ;Nunca foi assaltado aí, não?; Parecia um toque;, disse o funcionário. Ele registrou ocorrência e recuperou parte dos produtos. Os ladrões acabaram presos em flagrante ao tentarem revender aparelhos de informática. A paciência dos comerciantes da 204/205 Sul acabou a ponto de organizarem um protesto previsto para hoje de manhã. Faixas pintadas com frases de alerta serão espalhadas pelas quadras, principalmente na entrada e na saída. Uma delas é direcionada, com educação, aos bandidos: Por favor, senhor Ladrão. Mude de quadra. ;Esperamos que, assim, dê algum resultado. Parece que não tem jeito. Denunciamos, fazemos ocorrência, mas ninguém toma providência;, disse a dona de um comércio assaltado na comercial, responsável pela confecção das faixas. DENUNCIE O telefone de emergência da Polícia Militar é o 190. O 1º BPM, na Asa Sul, atende no 3445-1137. O contato do 3º BPM, na Asa Norte, é o 3342-1922
Sia ganha posto policial O governador José Roberto Arruda inaugurou o 67º posto policial comunitário do DF, no Setor de Indústria e Abastecimento, entre a Cimfel e o Banco de Brasília. O investimento foi de R$ 104 mil e a unidade conta com rádio, computador, telefone e torre de observação, além de carro e duas motos. O governo pretende inaugurar 300 postos policiais comunitários até o fim de 2010.

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