Cidades

Atendimento médico às crianças está em crise no DF

Nos hospitais públicos do DF, o atendimento médico às crianças está deficitário. Hoje, trabalham na rede 718 especialistas, mas o ideal seria cerca de 400 a mais. Residência na área também atrai poucos graduados

postado em 15/04/2009 08:00
A falta de profissionais e a baixa remuneração que levaram ao fechamento de emergências pediátricas da rede privada de saúde também tumultuam os hospitais públicos do Distrito Federal. A Secretaria de Saúde tem hoje um déficit de 400 pediatras e, mesmo com a realização de concurso e a convocação dos especialistas, não consegue preencher as vagas. Para piorar, também não há interessados nos programas de residência em pediatria. Nas escolas de medicina, os estudantes optam por especialidades que exigem menores cargas horárias e têm melhores remunerações. Na rede pública, o salário inicial dos médicos de qualquer especialidade é de R$ 3,6 mil para uma jornada semanal de 20 horas e de R$ 7,2 mil para 40 horas por semana. Em dezembro passado, a Secretaria de Saúde chamou todos os 230 pediatras aprovados em concurso público, mas apenas 142 tomaram posse. Hoje, 718 médicos dessa especialidade atuam nos hospitais e centros de saúde públicos. Mas seriam necessários pelo menos 1,1 mil profissionais para atender a demanda. O secretário-adjunto de Saúde, Florêncio Cavalcante, considera a situação preocupante. ;Quase todos os dias tem um pediatra que deixa a rede pública, ou porque vai se aposentar ou porque perdeu o interesse pela especialidade. Isso acontece em todas as áreas generalistas, como a clínica médica. Nós abrimos vagas para pediatras ou para a residência e poucas pessoas aparecem;, conta Cavalcante. ;Os profissionais da área estão desmotivados, mas não sei se isso tem relação com fatores como condições de trabalho ou o salário. De qualquer forma, o vencimento do médico em Brasília é um dos maiores do país;, enfatiza o secretário-adjunto. Ingrid, Fernando, Pablo e Luciana fazem medicina: pediatria sem prestígioNa residência médica em pediatria, apenas 16 das 41 vagas foram preenchidas neste ano. No Hospital Regional da Asa Sul, que é referência em atendimento infantil, só um posto ficou vago. Mas nas unidades de Sobradinho e da Asa Norte, nenhum recém-formado se interessou pela residência em pediatria. No Hospital de Taguatinga, cuja emergência pediátrica é uma das mais tradicionais da rede, apenas uma das 14 vagas teve interessado. ;Os residentes fazem muita falta no dia a dia dos hospitais. Eles têm sempre supervisão do estafe, mas fazem um trabalho essencial;, diz Cavalcante. Exames agregados Na rede particular, o grande problema de áreas como pediatria, endocrinolgia, reumatologia, clínica médica, psiquiatria ou geriatria é que os ganhos do médico se resumem à consulta. Na maioria dos casos, não há exames ou procedimentos tecnológicos agregados, que são uma outra fonte de renda para os profissionais. Na cardiologia, por exemplo, quase todas as consultas são precedidas de exames como o eletrocardiograma ou o teste de esforço. Dessa forma, os médicos têm uma remuneração bem superior. Já na pediatria, as consultas são bastante longas, mas a remuneração é baixa. Além disso, como publicou o Correio ontem, para as unidades de saúde particulares, as emergências pediátricas não se mostram rentáveis. Nas faculdades de medicina, poucos estudantes se interessam pela especialidade. O Correio conversou com um grupo de alunos do 9º semestre da Universidade de Brasília e todos eles demonstraram preocupação quanto aos baixos honorários e ao excesso de trabalho. Pablo Valente, 22 anos, lembra que a pediatria está entre as áreas mais desvalorizadas da medicina. ;Hoje se diz que só os especialistas são bons médicos, os generalistas perderam o prestígio. Infelizmente, o mercado influencia mais do que as necessidades da sociedade.; Luciana Sarto e Ingrid Faber, ambas de 22, destacam que muitos alunos temem perder qualidade de vida se optarem pela especialização. ;O pediatra precisa estar sempre disponível para os telefonemas dos pais e, além disso, os honorários são baixos;, explica Luciana. Fernando Augusto Deckers, 23, conta que os pediatras só sobrevivem se escolherem uma subespecialidade. ;Para ter remuneração satisfatória, é preciso fazer outra especialização como oncologia pediátrica;, destaca. » Interatividade: Você já precisou de pediatra e não encontrou? Conte a sua experiência pelo e-mail

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