Cidades

Medo no Setor Comercial Sul faz lojistas buscarem alternativas para segurança

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postado em 18/04/2009 07:59
O corredor do quarto andar do Edifício São Paulo, no Setor Comercial Sul (SCS), amanheceu silencioso. As portas que antes ficavam abertas à espera de clientes estavam trancadas. O medo se instalou depois do assalto no fim da tarde de quinta-feira, quando três bandidos armados renderam os funcionários de escritórios e de uma empresa de finanças de onde levaram R$3 mil, joias e pertences de 30 vítimas. Os bandidos fugiram. A primeira providência ontem foi controlar a entrada de pessoas no prédio exigindo documento de identidade. Para tanto, a mesa do porteiro foi colocada diante da porta principal, complicando o acesso. Muito antes do assalto, o medo já rondava os comerciantes do SCS. Vários prédios instalaram sistema de segurança. Outros optaram por interfones e portas trancadas. Em uma banca de jornais, a entrada foi reforçada com estrutura de metal. E um empresário foi além. Revoltado, se muniu de bombinhas de festim e buzina usada em estádios de futebol para assustar suspeitos e chamar ajuda. A 5ª DP (Área Central) continua atrás dos três bandidos que renderam as 30 pessoas. Na tarde de ontem, um homem baleado na noite do crime, no Paranoá, chegou a ser ouvido pelos investigadores. ;Mas ele foi descartado como suspeito;, disse o delegado adjunto Marco Antônio de Almeida. Na portaria do Edifício Sônia, a faixa antes da catraca anuncia: Identidade obrigatória ; Proibida a entrada de propaganda. Como na maioria dos prédios, ali o recorrente são os furtos nas salas. ;A pessoa chega entregando folhetos, mas muitos vêm para levar laptops e celulares. Já tivemos oito ocorrências só na minha sala. Há um ano instalamos câmera, alarme e monitoramento 24 horas;, explicou o proprietário de uma empresa de arrecadação, o corretor João Luiz Ramos, 59 anos, há 31 anos no local. Lá, um computador capta as imagens de quem entra no andar. Bombinhas de estampido e a buzina a gás completam o arsenal de segurança. ;Elas servem para assustar suspeitos e para avisar o porteiro. Também usamos para afastar pessoas que ficam consumindo drogas embaixo do prédio;, explicou. Mesmo com a insegurança, a maioria dos edifícios do SCS não possui sistema de segurança. O Correio percorreu a região na manhã de ontem e constatou vários prédios onde qualquer um pode entrar sem ao menos se identificar. Em outros, o controle foi adotado para diminuir os crimes. No Baracat, há seis meses foi instalado o sistema que conjuga vídeo e impressão digital. ;A pessoa dá o número do RG e gravamos a digital dela. Acabaram os furtos;, explicou o encarregado Damião Leite, 36. Reincidência No centro do SCS, um posto do 1º Batalhão da Polícia Militar funciona 24 horas com quatro policiais e monitora a região por onde passam cerca de 80 mil pessoas por dia. O sargento Nanciel Pereira Sousa contou que casos como o de quinta-feira são raros. ;Os furtos nas salas e em veículos, além de arrombamentos, são mais comuns. Mas a motivação desses crimes, geralmente, está ligada ao uso de crack. Nós combatemos, eles voltam. Nós combatemos de novo e eles voltam;, explicou. A PM pretende fazer um trabalho de conscientização com os comerciantes na próxima semana. Lúcia Helena Gomes, 52, proprietária da banca A Palavra, em frente a Avenida W3 Sul, concorda. ;A polícia faz um bom trabalho. Sem eles estaríamos perdidos, mas os usuários de drogas sempre voltam. O que falta é uma ação social para retirá-los daqui e o combate à impunidade;, disse ela, que trabalha no local há 10 anos. Nos últimos dois, a banca foi arrombada quatro vezes. O último em 11 de abril. ;No dia seguinte, transformei a banca numa Papuda. Coloquei uma chapa grossa de ferro e cadeados mais potentes, mas até as câmeras de segurança foram furtadas da última vez, além de computadores, fax e telefone. Passei a tomar remédio para dormir, porque nunca sei o que vou encontrar quando chegar no dia seguinte para abrir a banca;, relatou Lúcia Helena. Papuda No edifício São Paulo, a empresa de finanças assaltada, a Hoepers, não abriu as portas ontem. A gerente não quis dar entrevistas. Uma das vítimas do assalto, que trabalha em escritório no mesmo andar, Janaína Rodrigues, 24, trabalhou de portas trancadas. ;Os bandidos fugiram, mas existem outros. Não sei o que fazer porque a porta não tem nem olho mágico. Depois que fiquei com uma arma na cabeça, estou com medo;, disse. O subsíndico do edifício, Jafe Torres, tem uma corretora no local há 40 anos. ;Nunca ocorreu nada assim. Mas do jeito que anda Brasília, nada surpreende. Emergencialmente, vamos cobrar a identidade de quem entrar aqui;, disse o subsíndico, enquanto colocava a mesa do porteiro na porta do edifício, para impedir a entrada sem identificação.

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