postado em 28/04/2009 08:36
Só em 2009, 800 brasilienses desenvolverão câncer de mama. A estimativa é da Sociedade Brasileira de Mastologia. O número, apesar de alto, não seria um problema se essas mulheres tivessem acesso a informação e prevenção adequadas. Diagnosticado precocemente, o câncer de mama pode ser curável em 95% dos casos. No entanto, essa não é a realidade de Brasília. A doença é a principal causa de mortes entre pessoas do sexo feminino no DF e nos estados do Sul e Sudeste. "A prevenção é fundamental porque é ela que garante um tratamento eficiente", observa o chefe da Mastologia do Hospital de Base, César Hummel, que também é presidente regional da Sociedade Brasileira de Mastologia.
Com os exames adequados, como a mamografia, um tumor pode ser identificado com 0,5mm. Com esse tamanho, ainda não é palpável no autoexame ; quando a mulher avalia a presença de qualquer caroço no seio em frente ao espelho. "O autoexame é importante porque ajuda a mulher a conhecer o próprio corpo, mas ainda mais importante são os exames hospitalares que devem ser feitos anualmente", completa Rachel Cardoso, psicóloga da Rede Feminina de Combate ao Câncer de Brasília.
Até hoje, a mamografia só era garantida na rede pública de saúde a partir dos 50 anos. Mas, amanhã, entra em vigor a Lei 11.664, que baixa a idade mínima para 40 anos para atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS). "A lei garante a prevenção, a detecção, o tratamento e acompanhamento do câncer de mama, no âmbito do SUS. Trata-se de um avanço que merece ser comemorado", diz a presidente da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), Maíra Caleffi.
Pressão
Para que estados, municípios e governo federal cumpram com a nova norma legal, acontece em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador amanhã a 1ª Caminhada de Combate ao Câncer de Mama. Na capital, a concentração será em frente ao Complexo Cultural da República, na Esplanada, a partir das 9h. Lá será montada uma instalação artística criada pelo decorador Vic Meirelles, que formará a frase "Mamografia: agora é lei".
"Nós, da Rede, vamos sair para a caminhada do Hospital de Base para garantir que as pacientes se unam na luta contra o câncer, doença que não escolhe idade e nem classe social", provoca a voluntária da Rede Feminina de Combate ao Câncer, Vera Lúcia Bezerra. Ontem, ela e outras voluntárias estavam com a campanha "Nunca fui santa, mas sempre me cuidei" na entrada do ambulatório do hospital. O mutirão continua hoje com a distribuição de material explicativo sobre a detecção precoce do câncer de mama e de colo de útero.
"A nova lei também garante o exame citopatológico de colo uterino a todas as mulheres que já tenham iniciado sua vida sexual", lembra Rachel. O exame ajuda a detectar o HPV, o papiloma vírus, que quando não tratado pode resultar em câncer. Foi o que aconteceu com Rita*, 17 anos. Vinda da Bahia, ela está em tratamento contra a doença no colo do útero desde o fim de 2008. Devido à quimioterapia, não tem mais cabelos, está magra e assustada. "Quando a gente percebeu que tinha algo errado, já estava com a doença", conta a adolescente.
Pesquisa recente do Ministério da Saúde com 54 mil brasileiras mostrou que quase 20% delas não realizaram nem o exame Papanicolau nos últimos três anos. O índice sobe para 25% no Distrito Federal. A realização de mamografias também deixa a desejar na capital. A média nas 26 cidades pesquisadas é de 71%, contra 66,3% no DF, nos últimos dois anos.
*Nome trocado em concordância com o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Depoimento - Vera Bezerra de Brito
"Nunca derramei uma lágrima"
"Minha história é de alegria e muita luta e fé. Na próxima segunda-feira, recebo alta na radiologia do Hospital de Base, depois de 28 sessões. Já ganhei alta também na quimioterapia e estou curada. É claro que não vou dar bobeira e, a cada seis meses, vou fazer todos os exames. Minha doença foi uma descoberta minha no início do ano passado.
Eu estava me preparando para viajar. As malas estavam prontas e só faltava tomar banho. Na hora de pentear os cabelos, percebi que tinha um caroço bem debaixo do meu braço. Viajei assim mesmo, mas com aquilo na cabeça. Assim que voltei para casa (em Planaltina) procurei o meu médico da pressão e mostrei o tal caroço. No mesmo dia, ele já me encaminhou para fazer uns exames. Rodei Brasília inteira atrás de um exame no mamógrafo e fiz lá em Sobradinho. Quando saiu o resultado, era um tumor de 3cm. Em julho, cinco meses depois daquele banho, tirei a mama toda.
Mas o pior para mim foram as sessões de quimioterapia. Ao todo, foram seis em cinco meses. Chegava no corredor do Hospital de Base e queria dar a volta e fugir dali. Mas fui forte e coloquei nas mãos de Deus. Vou me tratar e Ele vai me dar a cura para eu viver mais alguns dias aqui com meus três filhos e oito netos.
Hoje, ando por aí sem um seio. Não quero fazer plástica e nem consigo usar a prótese. Além disso, meus cabelos ralos e brancos e meu corpo marcado são a prova da minha vitória. Nunca derramei uma lágrima por causa da doença. Fiz tudo o que me mandaram e sempre tentei levar alegria a outras mulheres que esperavam o tratamento no corredor.
Agora, minha luta é para convencer minha filha. Com 45 anos, ela nunca fez um exame preventivo e os médicos me disseram que ela pode ter também a doença. Falo para ela: a vida é muito preciosa para a gente desperdiçar por qualquer coisa".