Cidades

Funcionário do BC já pensava em preparar defesa usando doença mental, diz polícia

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postado em 01/05/2009 08:41
Antes de ser preso pela polícia na última terça-feira, o servidor do Banco Central (BC) José Cândido do Amaral Filho, 48 anos, contou a ao menos quatro pessoas ser o assassino de dois moradores de rua executados a tiros na Asa Sul, em 19 de janeiro. Ele confessou o crime à mulher, a uma advogada, a uma psicóloga e a um psiquiatra. A revelação foi feita pelo próprio acusado aos agentes que o prenderam. Para os investigadores, isso prova que o homem já pensava numa defesa pela via da perturbação mental para o caso de ser indiciado. Os policiais descobriram ontem que o réu confesso fez curso de tiro ano passado para aprender a manusear o tipo de arma usada no crime. Isso indicaria a premeditação do homicídio. As quatro pessoas que ouviram a confissão não responderão criminalmente por omissão. ;Vamos ouvi-los, mas familiar não serve de testemunha e os profissionais são respaldados em lei que garante o sigilo;, explicou a delegada Martha Vargas, chefe da 1ª DP (Asa Sul) e responsável pela investigação. Três pessoas depuseram ontem. Outras duas, entre elas a mulher do indiciado, devem ser ouvidas semana que vem. A polícia encontra dificuldades nas entrevistas, pois boa parte das testemunhas alega temer retaliações. O dono de uma academia de tiros da Asa Sul revelou que o analista do BC fez curso de habilitação e manejo de arma em 25 de setembro passado, quatro meses antes das execuções. O treinamento de três dias orientava sobre o manejo das armas .38 ; modelo usado no crime ; e .380. Para a polícia, o curso representa uma possível premeditação. ;Lá ele aprendeu a atirar com a mesma arma que usou para matar;, observou Martha. O curso é um dos requisitos para obter porte de arma. Apesar de não ter a licença, policiais encontraram um arsenal na casa de José. Feira do Rolo Poucos dias após o crime, José confessou ter trocado uma pistola .765 por um .38. À polícia, ele disse ter feito a opção por segurança, pois se sentia ;ameaçado;. Ontem, a polícia entrevistou o homem que participou do negócio, feito nas imediações da Feira do Rolo, em Ceilândia. ;José procurou ele e pediu um .38, propondo a troca;, detalhou Martha. A arma oferecida pelo morador da Asa Sul estava enterrada em um terreno abandonado da cidade. Como não ocorreu o flagrante, o depoente responderá por porte ilegal de arma. No terceiro depoimento, um vizinho de José ressaltou que o analista costumava montar e desmontar coisas durante a madrugada. Na casa, a polícia apreendeu uma arma em construção. A morte dos moradores de rua Paulo Francisco de Oliveira Filho, 35 anos, e Raulhei Fernandes Mangabeira, 26, ocorreu por volta das 6h30 de 19 de janeiro. A dupla dormia no coreto da Praça do Índio, na 703/704 Sul, local onde o pataxó Galdino de Jesus foi queimado vivo por adolescentes há 12 anos. Na última terça, dia da prisão do analista do BC, o homem confessou ter cometido o crime depois de presenciar dois mendigos trocando carícias sexuais um dia antes da execução. Ontem, a polícia apresentou a moto NX Falcon 400 que teria sido usada nos homicídios e imagens do circuito interno de um estabelecimento que revelam a possível fuga de José numa motocicleta, logo após os disparos. Detenção estendida José Cândido do Amaral Filho permanecerá preso por pelo menos mais 15 dias. No fim da tarde de ontem, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal acatou o pedido da polícia e prorrogou a reclusão do economista. Ele seria liberado amanhã em caso de negativa. ;Para nós é um sinal de que a Justiça entende o risco que ele apresenta para a sociedade e para as testemunhas;, comentou a delegada Martha Vargas, da 1ª DP. Além do duplo homicídio e do porte ilegal de arma, José responderá por falsa denúncia. Três dias depois das mortes, o economista simulou o furto da moto supostamente usada no crime. Na verdade, o veículo havia sido abandonado por ele no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). A polícia investiga ainda anotações feitas em um diário recolhido na casa de José. O caderno contém referências a um abuso sexual de adolescente e uso e porte de drogas por parte do analista. ;Ainda é cedo para darmos como certo. Mas um novo inquérito foi aberto;, comentou Vargas. A atitude da mulher de José durante visita ao marido na quarta aumentou as suspeitas sobre as anotações. Depois de levar comida ao companheiro, ela tentou resgatar o diário. ;O caderno ficará com a polícia até a conclusão do inquérito;, decretou a chefe da 1ª DP. Durante os dois dias em que esteve na cela da delegacia, José se exercitou e aparentou calma diante da situação, segundo relatos de agentes da 1ª DP.

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