postado em 03/05/2009 08:44
Luiz deu a versão dele. Disse que engatou a marcha a ré, olhou para trás e soltou a embreagem para tirar o carro da vaga, como faz todos os dias. Segundo ele, Genésio entrou rápido demais no estacionamento. Genésio nega. Sustenta que manobrou devagar e, de repente, viu um carro dando ré na direção dele. Para ele, Luiz é que foi desatento. De certo, apenas o parachoque traseiro do Polo de Luiz arranhado e a porta do passageiro da Pampa de Genésio amassada. E aí? De quem foi a culpa? Um homem que passava por perto percebeu o impasse e sugeriu: ;Liga para a Justiça Volante!”.
Em 20 minutos, a van do Juizado Especial de Trânsito estaciona entre os blocos L e M da 402 Sul, local do acidente. O policial militar do Batalhão Judiciário Agamenon Cortez desce do carro e acalma os ânimos dos envolvidos. Visualiza a cena, ouve a versão de cada um e os leva para dentro da van, onde existe uma sala de audiência móvel com mesa, bancos acolchoados, computador, impressora e ar-condicionado. Ali, o conciliador Anatólio Rocha dos Santos Júnior os aguarda. Ele escuta mais uma vez o que os envolvidos têm a dizer e passa a palavra para o policial.
Com base no Código de Trânsito Brasileiro, o soldado Agamenon conclui: ;A responsabilidade está imputada ao senhor Luiz;. Genésio estava em via pública. Tinha, portanto, preferência. Luiz, que dava a marcha a ré, precisava estar com a atenção redobrada. O culpado, no caso, fica chateado, custa a entender a interpretação do policial. Mas acaba assumindo sua parcela de culpa: ;Aborrecido eu estou, vou ter um prejuízo financeiro. Mas se a lei é essa, estou com a lei;. Pronto. Estava fechado o acordo entre os administradores de empresa Luiz Alberto Gomes, 35 anos, e Genésio Ferreira, 55.
Sem bate-boca, ameaças, socos ou pontapés, os dois concordaram que Genésio faria três orçamentos do conserto da porta da Pampa e Luiz arcaria com o mais barato. Pouco mais de uma hora depois da batida, os dois deixaram a van da Justiça Volante com um documento de cinco páginas embaixo do braço. Tinham em mãos o termo de acordo e o boletim de ocorrência.
;É importante ter essa terceira pessoa para acalmar os ânimos;, comentou Genésio. ;A gente queria outra visão para saber quem estava certo;, completou Luiz. E lá se foram os dois tocar o resto do dia.
Paciência
Quando o telefone do Juizado Especial de Trânsito toca, em um sala improvisada no subsolo do Bloco B do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), começa a correria. ;As pessoas ligam ainda atordoadas. Às vezes até desacatam a gente;, conta o servidor Paulo Roberto Rosa, que há quase um ano atende os chamados sem perder a paciência.
Um conciliador, um policial e um motorista se levantam às pressas e vão para a rua com a informação do local da batida e dos carros envolvidos. ;A gente entra na van sem saber o que vai encontrar. Não existe uma situação igual à outra;, conta o conciliador Anatólio Júnior.
Às vezes, motoristas choram dentro da van, se exaltam, desabafam sobre a vida pessoal.
Em meio a tudo isso, o acordo é feito em 90% dos casos. Tem até quem pague o conserto do carro do outro na hora. ;Ninguém é obrigado a nada, mas se quiserem chegar a um acordo, estamos ali para ajudar;, ressalta Júnior.
Quando o clima não está para muita conversa, a equipe do Juizado de Trânsito tira fotos do acidente, colhe o depoimento de cada um e o processo corre na Justiça normalmente. Os envolvidos deixam a van com a data da audiência com o juiz já marcada.
Localidades atendidas pela Justiça Volante
# Asa Sul, Asa Norte, Lago Sul, Lago Norte, Cruzeiro, Octogonal, Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), Guará, Núcleo Bandeirante, Candangolândia, Riacho Fundo, Águas Claras e Taguatinga.
# O atendimento é feito de segunda a sexta-feira, exceto feriados, das 8h às 18h.
# As ligações devem ser feitas por quem estiver no local do acidente. A orientação é que os carros sejam retirados da via, para não atrapalhar o trânsito. A Justiça Volante não realiza perícia.
Se houver vítimas
# Em caso de uma ou mais pessoas com lesões corporais, mesmo leves, o serviço não pode ser acionado.
# A Justiça Volante também não pode atuar quando carros oficiais estão envolvidos ou quando há danos patrimoniais (batidas em postes ou placas etc).
# O boletim de ocorrência é registrado na hora. Não é preciso ir a uma delegacia.
# Ninguém é considerado réu pelo Juizado de Trânsito. Todos são ;partes envolvidas;. Aceitar a proposta do conciliador também não é obrigatório. Caso não haja acordo, uma audiência com um juiz é marcada.
Para chamar a Justiça Volante basta ligar para o número 0800 644 2020
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