Cidades

Violência permeia salas de aula das escolas públicas da rede do DF

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postado em 07/05/2009 07:46
A violência permeia as salas de aula das escolas públicas da rede do Distrito Federal. Entre as lições de português e matemática, está presente o medo de ser assaltado, de apanhar e até de morrer. Não é preciso percorrer vários colégios ou diferentes cidades para diagnosticar a existência de fatores que justificam o temor. Nas rodinhas de conversa no fim da aula ou na sala de professores, os relatos apresentam uma realidade assustadora. E os números confirmam as sensações. Quase 70% de alunos e professores afirmam já terem visto agressão física nas escolas. Os números são semelhantes aos relacionados aos furtos, roubos e ameaças. O número de crianças e jovens envolvidos diretamente com a violência faz parte de um amplo diagnóstico executado pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), a pedido da própria Secretaria de Educação, para entender a realidade de violência nas escolas. ;O material será nosso norteador para acabar com a violência;, afirma o secretário José Luiz Valente. A pesquisa conjugou metodologias quantitativas e qualitativas para a coleta de dados em escolas com estudantes entre a 5ª série do ensino fundamental e o 3º ano do ensino médio, que somam 186 mil. ;Os dados mostram uma realidade extremamente preocupante e desafiadora. Mas ocultar os problemas só serviria para agravá-los;, explica a secretária-adjunta de Educação, Eunice Oliveira. O estudo, que teve os dados preliminares divulgados com exclusividade pelo Correio em outubro do ano passado, virou o livro ;Revelando Tramas, descobrindo segredos: violência e convivência nas escolas;, lançado ontem. Ferradura São histórias de revólveres, facas, drogas e incompreensão dentro dos muros de todas as escolas. Na mão de estudantes da capital do país, tudo pode virar uma arma para assustar, machucar ou se destacar. ;Outro dia uma menina veio com uma ferradura pregada a uma corrente e saiu batendo em um monte de menino que tinha provocado o namorado dela;, conta Rita, 15 anos, de uma escola no Cruzeiro. Nas quase 500 páginas do livro, milhares de alunos admitem que já usaram ou utilizam drogas. Outros tantos falam, sem constrangimento, do fato de pertencerem a gangues e do uso de armas dentro das instituições de ensino. As armas servem para promover os estudantes entre seus pares ou para praticar pequenos delitos. De acordo com a pesquisa, muitos dos roubos e furtos são praticados como uma forma de adquirir bens de consumo que simbolizem status e prestígio em uma sociedade extremamente desigual. Há também as brigas que ocorrem entre meninos e, muito frequentemente, entre garotas. ;Ontem (segunda-feira) mesmo teve uma briga de meninas aqui na frente do portão. É todo dia;, afirma Raul, de 16 anos, do segundo ano do ensino médio de uma das maiores escolas do Guará. O segredo dele e dos dois amigos é ser invisível. ;A gente fica na nossa. Não mexe com ninguém, não toma satisfação e não procura confusão;, argumenta Thiago, de 17 anos. Não é só a violência física que faz parte da rotina dos colégios: 45% dos alunos disseram que já foram vítimas de xingamentos e agressões verbais e 31% afirmaram já ter praticado esse tipo de violência. ;A pesquisa, primeira no Brasil desse tipo, deixa claro que alunos e professores se sentem ameaçados, humilhados e que existe um muro entre adultos e adolescentes;, avalia a coordenadora da pesquisa, Miriam Abramovay. ;É urgente refletir sobre o papel da escola hoje;, acrescenta. Os pesquisadores ouviram, de junho a setembro do ano passado, quase 10 mil alunos e 1,3 mil professores, em 84 escolas. A pesquisa revelou ainda que praticamente um terço dos professores já viram tráfico de drogas na escola ou arredores. Pelo levantamento, é possível ver o tamanho do desafio. Nada menos que 5,3% dos estudantes reconheceram levar armas brancas e 3% carregaram armas de fogo para os colégios. Projetado ao total de alunos, eles somam 15.444. Leia mais na edição impressa

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