Cidades

Em escolas do DF, câmeras vigiam crianças

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postado em 10/05/2009 08:33
Que pai ou mãe nunca pensou como seria bom ser uma ;mosquinha; para ver o que o filho faz quando sai de vista? O sonho de ser onipresente na vida das crianças, de ter a chance de acompanhar o desenvolvimento, saber como estão se divertindo ou protegê-las seduz pais em Brasília que optam por matricular os filhos em escolas particulares com câmeras instaladas em pontos estratégicos. Com um clique no mouse é possível acompanhar, em tempo real, trocas de fraldas, broncas, lanches e inevitáveis quedas no pátio ou brigas com os coleguinhas. A prática é tão inovadora quanto polêmica. Serve para combater o receio provocado por notícias de violência, negligência, maus-tratos e casos de pedofilia. E, para diretores e coordenadores, são úteis para exercer o controle de entrada e saída de crianças, para monitorar o funcionamento do estabelecimento e até como um mecanismo de resguardo da instituição em caso de desconfiança dos pais. Especialistas alertam, no entanto, que é necessário cuidado ao lidar com a novidade tecnológica. O monitoramento, que existe em pelo menos sete escolas do DF, não pode servir como substituto do diálogo entre pais e filhos. Muito menos deve virar uma arma contra professores. ;A relação de confiança é fundamental nas relações construídas na vida real e não virtual;, analisa a psicóloga Gabriela Lima. Para a diretora Ana Paula Gomes, do colégio DNA da Asa Norte, o sistema de imagens instalado há quatro anos ajuda a dar segurança e a criar a confiança. O acesso aos vídeos ;restrito às pessoas com login e senha ; é um dos serviços mais procurados na escola. As câmeras foram espalhadas pelo berçário, maternal e em ambientes de uso coletivo, como piscina, biblioteca, sala de judô e refeitório. ;Os pais se sentem mais seguros. Muitos dos que se interessam pela escola passaram por alguma situação em que as babás não trataram os filhos corretamente;, avalia. Na opinião da advogada Eva Félix, 30 anos, poder acompanhar as imagens na rede é uma boa ferramenta. ;Posso ver como a minha filha interage com outras crianças sem a minha presença, como ela se desenvolve.; Mãe de primeira viagem da Maria Eduarda, de 1 ano e 6 meses, ela não considera invasiva a existência de câmeras em salas da escola. ;Não sou daquelas mães neuróticas que ficam vigiando o tempo inteiro. Mas, nos primeiros meses, deixava a página da internet aberta quase todo o dia;, admite. Além da promessa de controle e segurança, a prática provoca situações inusitadas. A diretora coleciona histórias sobre a reação de pais e crianças perante as lentes. Uma menina de 4 anos, por exemplo, mandava beijo e dava tchau para a avó em Belo Horizonte diariamente. Proteção Na Ursinho Feliz, localizada na Asa Sul, há câmeras em todos os ambientes comuns, mas apenas as imagens do pátio, parque e da frente da escola vão para a internet. ;As filmagens dentro de sala de aula ficam em um arquivo na direção;, conta a coordenadora Cláudia Patrícia Araújo. De acordo com ela, 70% dos pais se colocaram contra a divulgação da imagem da meninada em sala de aula pela rede de computadores. Mesmo com senhas, houve medo da exposição das crianças. As mães Maria Patrícia Monteiro Souza, de 27 anos, e Andréa Tierno Bueno, de 36 anos, concordam com a limitação das exibições. ;Confio nas professoras e na direção. Acho bom ter a câmera no pátio, mas não fico monitorando toda hora;, observa Andréa, mãe de Beatriz de 4 anos. ;Quem mais gosta das câmeras é o pai do João Pedro. Ele adora abrir o vídeo no trabalho para mostrar o nosso lindo filho;, diverte-se Maria, mãe do menino de três anos. As filmagens na escola Colinho de Mãe, em Sobradinho, são mais abrangentes. Lá, até os ambientes dos alunos de 1ª a 4ª séries são filmados, além do berçário, maternal, cozinha e piscina. O monitoramento dos primeiros anos do ensino fundamental contraria a orientação dos sindicatos de professores (leia texto nesta página). Mas para Leila Cristina Maia, diretora da instituição, não há constrangimento aos docentes, que são bem preparados. ;Quando coloquei o sistema, há 7 anos, soube que deveria investir em treinamento dos funcionários;, observa. ;Também oriento os pais a terem cuidado. A individualidade e o espaço da criança têm de ser respeitados.; No caso de Matheus Lima Gerardi, 9 anos, a função das imagens capturadas em sala foi além das questões de monitoramento ou desconfiança. As câmeras flagraram, com intervalos de meses, dois incidentes em que o menino bateu a cabeça enquanto brincava. Em ambos, a mãe Régia Gerardi recorreu às gravações para relatar aos médicos a intensidade e o local onde as batidas haviam ocorrido, já que o menino chegou a ter convulsão. O pai de Matheus, Sandro Gerardi, 45, confia na instituição onde o filho está matriculado, mas confere as imagens vez ou outra. ;O importante, na verdade, é ser presente. Faço questão de entrar na escola e na sala. As câmeras são apenas um complemento;, define o funcionário público. Leia mais na edição impressa do Correio Braziliense

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