Cidades

Mulheres que foram mães após os 35 anos contam como os filhos mudaram suas vidas

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postado em 10/05/2009 08:50
No almoço deste domingo, muitas mulheres recordarão histórias de como foi ser mãe de primeira viagem depois dos 35 anos. Estudos, carreira e realização pessoal subiram de posição na lista de prioridades da mulher e adiaram o sonho da maternidade. Elas preferiram conquistar estabilidade antes de trazer o herdeiro ao mundo, mesmo correndo o risco da redução de fertilidade, comum a essa faixa etária. Neste Dia das Mães, o Correio conta histórias de mulheres que escolheram trocar fraldas na idade em que muita gente já enfrenta a adolescência dos filhos e acreditam que as crianças não poderiam ter vindo em melhor hora. Na rotina da empresária Marlene Gonçalves da Silva, 55 anos, não sobrava tempo para um bebê. Todos os dias, ela saía de casa às 6h40 e não voltava antes das 19h. A vida de professora exigia disposição total da mulher e afastou a ideia de ter um filho. Nas salas de aula, Marlene percebeu que muitas crianças e adolescentes quase não viam os pais e decidiu que com ela não seria assim. Engravidar seria um plano para o futuro. Até lá, ela faria cursos, pós-graduação e viagens pelo mundo. Aos 48 anos, Marlene achou que havia chegado a hora de tentar uma gravidez. A essa altura da vida, ela estava aposentada, casada e tinha as finanças em ordem, combinação considerada ideal para receber o filho. Como ela sofria de um problema nas trompas, optou pela inseminação artificial. O pequeno Marcelo veio na primeira tentativa. ;Conversei muito com os médicos e estava preparada para não ficar grávida ou para virem dois ou três bebês de uma vez. Quando soube que estava grávida, foi muito emocionante;, lembrou a empresária. Marcelo está com 7 anos e tem a companhia constante da mãe para fazer as tarefas escolares e brincar. Marlene acredita que a maturidade está sendo valiosa para a educação do garoto. ;A experiência que você adquire na vida ajuda muito a encaminhar a criança, dar os puxões de orelha. E acho fundamental a estabilidade financeira para dar um conforto à criança;, comentou. A empresária não se arrepende de ter trocado a maternidade pela carreira na juventude. ;A mulher conquistou a independência e não tem medo de enfrentar trabalho e estudo. A mulher está na luta;, acredita. Surpresa agradável Com apenas um mês de vida, Rafael Pessoa Silva conseguiu mudar a vida da servidora pública Cândida Luci Pessoa Silva, 35 anos. Ela foi para um apartamento maior e não dorme muito mais que três horas seguidas. A maternidade estava nos planos de Cândida, mas ela ainda não havia decidido qual seria o melhor momento para colocá-la em prática. ;Sempre me encantei com a ideia, mas sabia que precisava passar por algumas etapas antes de ter um bebê;, disse. A gestação foi uma surpresa recebida de bom grado pela mulher. Ela engravidou naturalmente, sem a ajuda de tratamentos, e quase conseguiu um parto normal acompanhado por uma doula. Sentiu as dores do trabalho de parto por mais de 10 horas e precisou passar por cesária. Cândida se diverte com o bebê quietinho de vasta cabeleira loira. Ela acredita que, depois dos 30, conquistou mais calma para lidar com as dificuldades de ser mãe. ;A tranquilidade da cabeça dos 30 é diferente da dos 20. Muda a ansiedade, vem aquela segurança.; Até os 30 anos, ela saciou a vontade de conhecer o mundo e estudar. Fez cursos, morou no exterior e acumulou bagagem cultural para transmitir ao filho. A servidora tem mais cinco meses para aproveitar a companhia de Rafael 24 horas por dia, depois retoma a rotina no serviço público. ;Toda a decisão que tomo agora é pensando nele;, revelou. Família maior Por dois anos, o namoro da dona de casa Rosane Rojahn Arantes, 45 anos, com o futuro marido funcionou por meio de cartas, telefonemas e viagens esporádicas. Ela vivia em Pelotas, no Rio Grande do Sul, e o namorado, em São Paulo. Depois que os dois subiram no altar e passaram a viver juntos, só pensavam em compensar o tempo em que se amaram à distância. O casal namorou, viajou e fez muitas amizades. ;Queríamos curtir a vida como se fôssemos adolescentes;, lembrou Rosane. Aos 35 anos, Rosane achou que estava na hora de interromper o anticoncepcional e aumentar a família. Na primeira tentativa, um aborto espontâneo adiou o sonho da dona de casa. Ela insistiu e engravidou pela segunda vez, mas logo perdeu o bebê. Não desistiu. ;Aí comecei a ficar nervosa. Procurei um médico, que me recomendou repouso. Fiquei três meses deitada, não podia nem abaixar. Queria demais o bebê e minha hora estava passando;, disse. Rosane acabara de entrar na faixa dos 40 quando nasceu Raquel, atualmente com 5 anos. Quando a licença-maternidade estava chegando ao fim, surgiu a preocupação de deixar o bebê em uma creche ou com uma pessoa estranha. Rosane trabalhava desde os 17 anos e preferiu se afastar para cuidar da filha em período integral. ;Eu não tinha a pretensão de ser uma supermulher. Supermãe, superprofissional e superdona de casa ao mesmo tempo;, comentou. Hoje ela tem tempo para acompanhar de perto a educação de Raquel, levá-la ao parquinho, fazer piquenique e vê-la crescer. Os anos de trabalho deram a Rosane condições de oferecer à filha uma vida confortável em uma casa construída com o esforço do casal. ;Ela veio na hora certa, foi muito gratificante. Se a pessoa puder esperar para construir sua vida e um lar para esperar o filho, eu recomendo. E hoje o salário da mulher pesa muito para a família;, ressaltou. Rosane ainda pensa em ter outra criança. Ela acredita que uma gravidez pode ser arriscada e avalia a possibilidade de adoção. A dona de casa também não descarta a ideia de voltar a trabalhar, mas não abre mão de ter algumas horas disponíveis para a filha diariamente. Ajuda da ciência O passar dos anos diminui as chances da mulher de engravidar, mas a medicina dispõe de tratamentos para facilitar a realização do sonho de ser mãe. A primeira queda brusca da fertilidade ocorre por volta dos 35 anos. Aos 37, a mulher sofre mais uma baixa. Depois dos 40, a chance de gravidez espontânea (sem tratamento) fica entre 10% e 20% para a relação sexual praticada no período de ovulação. Como o corpo humano não produz óvulos novos ao longo da vida, as células guardadas nos ovários ficam velhas. ;É possível engravidar, mas os óvulos são mais antigos e ela vai ter maior taxa de abortamento espontâneo e má formação congênita. Tudo está relacionado à queda de qualidade dos óvulos;, explicou a ginecologista especialista em reprodução humana Cláudia Gazzo. Tratamentos oferecidos hoje aumentam as chances da mulher de ser mãe. As pacientes podem ter resultado com a inseminação artificial ou a fertilização in vitro. É possível ainda retirar alguns óvulos e armazená-los congelados em bancos de clínicas especializadas em reprodução.

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