Cidades

Mortes em série: oficial acusado de pistolagem

Responsável pelo batalhão da PM em Formosa, onde policiais militares mataram 15 pessoas na gestão dele, Ricardo Rocha Batista responde por chacina de presos e execução de traficante em Rio Verde (GO)

postado em 12/05/2009 08:10 / atualizado em 22/09/2020 11:19

Além de denunciado por participação em uma chacina e ter os subordinados investigados por matar 15 pessoas em menos de dois anos, o comandante da Polícia Militar em Formosa (GO), Ricardo Rocha Batista, também responde por crime de pistolagem. O oficial, segundo o Ministério Público de Goiás (MPGO), executou um homem com cinco tiros quando era o subcomandante da PM em Rio Verde, no sudoeste goiano. O assassinato ocorreu em 7 de setembro de 2007, mas só agora um promotor denunciou o major à Justiça, com base em investigação da Polícia Civil. Promotores e policiais civis de Rio Verde investigam ainda outras 15 mortes ocorridas na cidade e atribuídas a seis policiais militares comandados por Ricardo Rocha. Para os promotores, os assassinatos têm características de ação de um grupo de extermínio. Os casos chegaram a ser remetidos à Delegacia Estadual de Homicídios, em Goiânia, mas retornaram à comarca de Rio Verde no ano passado por falta de resultado nas apurações. Agora, em trabalho entre MP e Polícia Civil no município, testemunhas estão sendo ouvidas e provas levantadas. A denúncia mais recente é resultado dessa força-tarefa. Nesse caso, Ricardo Rocha, quando era subcomandante da PM em Rio Verde, teria planejado a execução da vítima. Alessandro Fernando Ferreira Rodrigues, acusado de tráfico, foi atraído para o local do crime por um usuário intimidado pelo major. Assim que o rapaz chegou com uma porção de maconha no pátio de um posto de gasolina, Ricardo Rocha apareceu na garupa de uma moto atirando. Alessandro estava desarmado e não esboçou reação. As informações estão na denúncia assinada pelo promotor Mário Henrique Cardoso Caixeta e encaminhada à Justiça em 14 de abril último. Para Mário Caixeta, o major agiu ;como se fosse justiceiro, em atividade típica de grupo de extermínio;. Conforme o Correio revelou ontem, também em Rio Verde, Ricardo Rocha é acusado de comandar uma chacina em 10 de outubro de 2003, à beira de um córrego. ;Lá chegando, dando início ao seu plano mórbido, o capitão determinou que permanecessem no local apenas os policiais do GPT (Grupo de Patrulhamento Tático), afastando do palco do massacre os demais integrantes da Polícia Militar;, escreveram na acusação, formalizada em 19 de abril de 2007, três promotores de Justiça. Encapuzados Um ano após a morte de Alessandro Rodrigues, o major Ricardo Rocha assumiu o comando do 16º Batalhão da PM goiana, em Formosa. Desde então, policiais militares mataram 15 pessoas na cidade de 90 mil habitantes e distante 79km de Brasília. Seis mortes ocorreram em menos de uma semana, em dezembro do ano passado. Em todos os casos, os PMs alegaram um confronto com bandidos armados. Nenhum dos casos foi investigado por agente do município. Ainda na gestão de Rocha, houve três crimes com sinais de pistolagem em Formosa. Jovens e adolescentes acabaram executados com tiros na cabeça por homens encapuzados. Outro caso igual ocorreu em fevereiro último. Em 2008, os PMs assumiram ter matado 10 pessoas. A quantidade representa 20% dos 48 homicídios registrados na cidade ano passado. Outros cinco casos ocorreram no segundo semestre de 2007. Ao longo de todo o ano houve 45 assassinatos no município goiano. Os homicídios em que a autoria foi assumida por algum militar não chegaram a ser investigados por policiais civis de Formosa. A sequência e quantia de mortes fez o MPGO e a Polícia Civil abrirem investigações sigilosas na capital do estado. Entre eles, está o caso de Antônio Borges da Silva, 19, morto em 28 de setembro de 2008. O comandante da PM em Formosa assumiu na delegacia da cidade ter efetuado dois dos três disparos que vitimaram o rapaz. Ele morreu no quintal de casa, às 6h10. Antônio, segundo os vizinhos, acordou com quatro militares invadindo a residência pelos fundos e o telhado. O jovem morreu com uma bala no pescoço, uma no peito e outra no pé. ;Meu filho usava cocaína, sim, mas nunca teve arma, nunca roubou, nunca matou. Quando entregaram o corpo, tinha os punhos quebrados. Quem você acha que fez isso;, indaga o pai, um aposentado de 69 anos. Suspeitas Após as mortes dos cinco presos em Rio Verde, Ricardo Rocha foi transferido para Goiânia, onde comandou a Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam) entre 2003 e 2005. Época em que a PM mais matou na capital. De 6 de março de 2003 a 15 de maio de 2005, houve 117 homicídios em Goiânia cuja autoria é atribuída a PMs, a maioria da Rotam. Das 117 vítimas, 48,7% (57 pessoas) não tinham ficha criminal. Outras 60 (51,3%) eram foragidas da Justiça ou acusadas de algum crime. Em meio a investigação do MPGO sobre esses casos, o major voltou a Rio de Verde. Em seguida, foi para Formosa. HOMICÍDIOS EM UM BAR Quatro pessoas foram mortas na noite de domingo em um bar na Vila União, região do Novo Gama (GO). Duas pessoas chegaram em motos pretas, dispararam e fugiram. Maicon Gomes, 12 anos, Dinaumar Nonato, 17, Wallison Tavares, 19, e Deusimar Ferreira, 40, não resistiram aos ferimentos. Até o fechamento desta edição, a polícia não havia localizado os autores nem sabia definir o motivo do crime.


Comandante da PM diz que vai perseguir bandidos da polícia;O pior bandido é o fardado; O comandante-geral da Polícia Militar de Goiás, coronel Carlos Antônio Elias, não fala em mudanças no batalhão de Formosa. Também se recusa a comentar as denúncias contra o major Ricardo Rocha. Diz apenas que as mortes em série no município do Entorno cessaram após dezembro ; quando houve seis vítimas em uma semana. ;Esse tipo de caso (mortes em supostos confrontos entre PMs e acusados de crimes) não ocorreu mais no interior nem na capital de Goiás desde que assumi o comando, em dezembro;, afirmou o coronel, em entrevista ao Correio, ontem, em Brasília. Ele participou de um encontro de comandantes-gerais das PMs do país, em um hotel da capital República. Antônio Elias alegou que não pode punir Ricardo Rocha porque o major ainda não foi condenado. Também em entrevista ao Correio, o major usou essa alegação em sua defesa. ;Mas garanto que todas as denúncias contra ele (Rocha) e qualquer outro PM são apuradas por nossa corregedoria;, sentenciou, sem apresentar números de policiais militares goianos investigados e punidos. Ele ressaltou pautar pela legalidade. ;Não vou aceitar formação de grupos (de extermínio) sob o meu comando.; O comandante afirmou ainda que há subordinados envolvidos com crime. ;Tem bandido sim na polícia. Não nego. E o pior bandido é o fardado. Esses eu vou perseguir;, destacou. O comandante foi a única autoridade goiana a se manifestar ontem sobre as denúncias de grupo de extermínio em Formosa. Nem os representantes do Ministério Público deram entrevista. Secretário se cala Mais uma vez, o secretário de Segurança Pública de Goiás, Ernesto Roller, foi procurado pela reportagem. Como ocorreu nos últimos cinco dias, ele se recusou a dar entrevista. Foi Roller quem nomeou Ricardo Rocha comandante do 16º Batalhão da PM goiana, em Formosa. A cidade é terra natal e base política de Roller, deputado estadual pelo PP e pretenso candidato a deputado federal por Goiás. O próprio já fez elogios públicos às ações de Ricardo Rocha à frente do batalhão de Formosa. » Ouça entrevista com o coronel Carlos Antônio Elias, comandante-geral da PM-GO

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