Dois assaltos na madrugada em uma mesma loja, ataques à mão armada e sensação de insegurança. Os comerciantes do Plano Piloto reclamam da ousadia, da facilidade e da frequência com que sofrem roubos e furtos nas asas Sul e Norte. A média de abordagens violentas alcançou em 2008 um caso a cada dois dias na região. Houve 187 roubos e aumento de 41,6% em relação ao ano anterior. Os números colocam o crime como um dos principais desafios das autoridades policiais em 2009. Por conta disso, a PolÃcia Militar mudará o plano de combate e promoverá a volta da dupla Cosme e Damião. As queixas dos empresários brasilienses fizeram com que a corporação reformulasse a estratégia de policiamento em BrasÃlia. Haverá, assim, o reforço de 120 policiais para a região central. São 50 duplas, divididas entre as asas Sul e Norte. Outras 10 atuarão no Setor Comercial Sul e no Setor Comercial Norte. ;Detectamos a necessidade de reforçar a segurança na área do Plano. Optamos, então, em voltar com as duplas;, afirmou o chefe da comunicação social da PM, tenente-coronel Carlos Alberto Teixeira Pinto. A presença das duplas fixas de policiais militares nas quadras residenciais e comerciais será retomada pelo Governo do Distrito Federal (GDF) depois de três anos. Em 2006, o policiamento afastou os ladrões de carros e de casas do Plano Piloto. Também diminuÃram, na época, os números de roubos a postos de gasolina, de latrocÃnios (roubo seguido de morte) e de assassinatos no Plano Piloto, a partir da comparação com os dados de 2005. O Cosme e Damião ainda fez sucesso em 2000, quando se apostou no policiamento a pé e em pares. A novidade passa por avaliação e aprimoramento há cerca de 15 dias nas ruas de BrasÃlia. Desta vez, as duplas de policiais também cumprirão missão especial logo nas primeiras semanas de serviço. Fará parte da função, por exemplo, firmar contato com os comerciantes e dar dicas de segurança. ;Os policiais vão rodar todas as comerciais para dar conselhos úteis aos donos de comércios. Em alguns casos, eles cometem falhas de segurança que atraem a bandidagem;, disse o tenente-coronel Teixeira. Assalto filmado Por enquanto, donos de padarias, farmácias, restaurantes, bares, butiques denunciam a deficiência do policiamento ostensivo no Plano Piloto. Os empresários atribuem os constantes casos ocorridos neste ano ao sumiço dos policiais militares das ruas. ;Os PMs não circulam mais. Ficam nos postos (comunitários de segurança) e dizem que não podem sair porque precisam proteger o local. Nós é que deverÃamos ser protegidos;, afirmou o administrador da comercial da 109 Sul, mais conhecida como Rua das Elétricas, Ari Lacerda. A quadra registrou três arrombamentos nos últimos 45 dias. É a mesma onde os comerciantes se uniram para pagar R$ 6 mil por mês a uma empresa de segurança. Dois vigilantes se alternaram todos os dias, das 19h à s 7h. Mesmo assim, o serviço não serviu para inibir a ação de três bandidos flagrados pelo circuito interno de TV de uma das elétricas. O prejuÃzo ficou em R$ 12 mil por conta da perda de dois computadores completos e da quebra da vitrine. O dono, Moacir Fernandes, está revoltado. ;Trabalho agora bem mais estressado. Nem durmo direito de preocupação;, contou. Os detalhes do crime praticado em 13 de abril aparecem nas imagens feitas pelas câmeras da loja. As gravações revelam dois bandidos que usam a tampa de um bueiro para arrebentar o vidro da vitrine e invadir a loja. Mostram-se apressados e interessados em equipamentos de informática. Nem se importam com a integridade dos aparelhos. Arrancam os fios com puxões e somem na madrugada. O local permanece vazio por cerca de 30 minutos, apesar do estrago na fachada e o alarme a disparar. Até que um terceiro assaltante, sem ligação com os outros dois, surge na cena e leva mais um computador. Diante dessa conjuntura, a aposta do governo é que as duplas Cosme e Damião façam parcerias com os profissionais lotados nos postos comunitários de segurança, à despeito da descrença de parte dos comerciantes na eficiência dessas unidades. ;Cada posto tem uma área de ação e conta com pelo menos um carro para circular, mas eles exigem a permanência de dois homens fixos para atender a comunidade e servir de apoio;, justificou o tenente-coronel Carlos Alberto Teixeira Pinto. O governo local prevê a construção de 300 postos até 2010. Pelo menos 80 foram inaugurados.
Problema maior nas farmácias Os alvos da vez dos ladrões armados continuam as farmácias. Uma das maiores redes de drogarias do Distrito Federal, por exemplo, teve 12 das 20 franquias assaltadas neste ano. No ano passado, três. ;Os assaltos, por si só, têm prejuÃzos financeiros pequenos. O problema são os funcionários, que estão procurando outro tipo de trabalho porque estão com medo. Tudo tem piorado desde que os postos da PM foram instalados. Eles não saem mais à s ruas;, afirmou o vice-presidente do Sindicato das Farmácias do DF, Ãlvaro Silveira Júnior. Dois ataques recentes contra drogarias ocorreram na 211/212 Sul. Um deles, no último domingo. Homem armado invadiu uma das lojas por volta das 19h30 e rendeu três funcionários. Não se intimidou com as câmeras de vÃdeo e fugiu com R$ 400. A outra farmácia, localizada três comércios ao lado, sofreu assalto há um mês. Dois bandidos de arma em punho praticaram o crime perto das 20h. Havia oito clientes. Os assaltantes escaparam com celulares e R$ 360. ;Perdemos a tranquilidade e a confiança;, lamentou o gerente da drogaria, Irineu Luciano da Silva. Os roubos a farmácias se repetem na Asa Norte. Na 213/214, uma delas registrou dois assaltos, um em fevereiro e outro em março. O primeiro caso ficou marcado pela violência. O caixa teve o cano de uma arma pressionado contra o peito assim que dois homens invadiram o local, por volta das 19h30. Fugiram com R$ 2 mil. Nem se importaram com o movimento em uma pizzaria ao lado. Na segunda ação, também dois bandidos armados anunciaram o roubo por volta das 20h. ;Agora desconfio de todos. Os assaltantes atacam bem-vestidos. Parecem clientes;, disse um funcionário, que não quis se identificar. Reincidência A delegada-chefe da 1ª Delegacia de PolÃcia (Asa Sul), Martha Vargas, disse que 90% dos assaltos a comércio no Plano Piloto têm envolvimento de criminosos reincidentes. São homens que acabam presos, muitas vezes condenados, mas deixam a prisão antes de completar a pena. Conquistam benefÃcios pelo comportamento. E voltam à s ruas para praticar o mesmo delito. É o caso de José Leandro Venâncio de Farias, 25 anos, preso há uma semana após furtar loja na 509 Sul. Pesam contra ele 17 acusações de assaltos. Cometeu o mesmo crime em 2006, 2007 e 2009. Estava preso em 2008.