Cidades

Deficientes auditivos digitalizam processos no STJ

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postado em 15/05/2009 20:34
A conquista do primeiro emprego tem um sabor especial para um grupo de funcionários do Superior Tribunal de Justiça. Dos 100 trabalhadores temporários contratados para digitalizar os processos que chegam dos estados, 63 são deficientes auditivos. Juntos, eles prestam dois grandes serviços ao país: agilizam o trabalho do Judiciário e contribuem para a construção de uma sociedade mais igualitária. Na sessão de digitalização de processos, o silêncio só não reina absoluto por causa do barulho das máquinas. Mas não seria preciso nenhuma palavra para perceber a satisfação Luciana Lima Delforge, 32 anos, em estar ali. O sorriso no rosto da jovem que só conseguiu uma oportunidade profissional há três meses, após anos de tentativa, diz tudo. Luciana é uma das três intérpretes que coordenam os trabalhos. Com um aparelho auditivo, que ajuda a ouvir melhor, e utilizando a Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) ela faz a ponte entre esses dois universos: o dos surdos e o dos ouvintes. Uma experiência que ela descreve como ;maravilhosa;. ;Eu nunca havia tido emprego e nem sabia informática. Agora, além de aprender a utilizar o computador, ainda trabalho como coordenadora;, comemora. Integração Segundo o coordenador de Registros e Análise de Processos do STJ, Francisco Lima Coutinho, inicialmente foi pensado em fazer uma sala apenas com os funcionários surdos. Mas a idéia de mesclar as equipes partiu deles próprios. A convivência com os colegas ;ouvintes; também é descrita como satisfatória pela intérprete Patrícia Ferreira de Melo, 25 anos. Se expressando com ajuda das mãos, ela conta que no começo sentiu um pouco de dificuldade, mas aos poucos está se adaptando ao novo ambiente. Mas o que ela gosta mesmo é de aprender sobre os processos e as questões jurídicas O projeto abriu os horizontes de Alexandre Rios, 21 anos. Mesmo ouvindo e falando perfeitamente, ele se matriculou em uma matéria optativa da faculdade para estudar Libras. ;É muito mais fácil eu aprender a me comunicar com eles do que eles terem que mudar toda uma estrutura para se comunicar comigo;, diz. O esforço de Alexandre tem facilitado o trabalho em equipe. ;Quando têm alguma dúvida sobre o software (programa de computador), fica mais fácil eu responder;, explica o jovem, estudante do curso de Sistemas de Informação. Os jovens trabalham seis horas por dia, e para isso recebem R$ 600 mensais, mais vale alimentação. O pagamento é feito pelo Centro de Treinamento e Formação do Estudante (Cetefe), empresa terceirizada mediadora da contratação. O vínculo é temporário, com validade de um ano. Mas, segundo Coutinho, poderá ser prorrogado. Justiça.com O processo eletrônico já é uma realidade no STJ. O projeto começou em janeiro deste ano e já digitalizou 60 mil conjuntos de documentos judiciais. Desde então o Tribunal teve uma expressiva economia de espaço, dinheiro e tempo com o transporte dos autos. Para o coordenador da sessão de digitalização, Francisco Coutinho, a importância dessa ação é ;incalculável;, em termos financeiros. A sessão de digitalização já está em dia com a demanda de 2009, de acordo com Coutinho. Ele ressalta que o STJ recebe diariamente uma média de 1,1mil processo e que esse serviço vai agilizar os trabalhos na Corte. Com a tramitação virtual, o processo é automaticamente distribuído ao gabinete do ministro pelo sistema, sem a necessidade do trânsito de papel pelo Tribunal. Outra facilidade é que agora os advogados das partes podem acessar os autos ao mesmo tempo. Antes, se o representante de um dos envolvidos na ação pegasse o processo, o outro tinha que esperar o documento ser devolvido para fazer alguma consulta. Com isso, diz Coutinho, a decisão judicial vai chegar mais rápida ao cidadão.

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