Jornal Correio Braziliense

Cidades

152 casos de abuso em quatro meses

Núcleo de Enfrentamento à Exploração Sexual Infanto-Juvenil registra mais de uma denúncia por dia desde o início do ano. Em 81% dos processos, autores são familiares ou pessoas próximas às crianças

A história é de deixar revoltado. Uma menina é obrigada a deixar a casa da mãe porque o padrasto aproveitava os momentos em que a mulher estava trabalhando longe de Ceilândia, onde todos viviam, para visitar o quarto da criança de 12 anos. Desamparada, ela se refugiou nas marquises da Rodoviária do Plano Piloto há quatro anos. Do abuso, passou para a exploração sexual. E até hoje está longe da mãe. ;Visito ela de vez em quando, mas não volto a morar lá porque não sei o que seria capaz de fazer.; Realidades como a dela não são raras. No Núcleo de Enfrentamento à Exploração e Abuso Sexual Infanto-Juvenil (Nuese) ; que recebe as denúncias filtradas pelo Disque 100 e pelo SOS Cidadão ; há mais de uma notificação por dia. Nos primeiros quatro meses de 2009, 152 crianças e adolescentes do DF acabaram nas mãos de abusadores que aproveitaram a fragilidade de meninos e meninas. De acordo com o levantamento do Nuese, em 81% dos registros os abusadores no DF são familiares ou pessoas próximas às crianças. Também há padrão entre as vítimas. A imensa maioria é composta por garotas com idade entre 13 e 16 anos. Ana Lúcia Andrade, educadora do projeto GirAção, que trabalha com meninos e meninas de rua, conhece bem a realidade. ;A violência em casa é uma das principais causas da fuga para a rua. E uma das consequências da rua é a exploração sexual.; No GirAção, 50 crianças e adolescentes compartilham histórias, dramas e sonhos. O projeto é uma iniciativa do Centro de Referência, Estudos e de Ações sobre Crianças e Adolescentes (Cecria) e do Movimento de Meninos e Meninas de Rua. Amanhã, as entidades vão se mobilizar pelo dia 18 de maio, dia nacional de combate à violência sexual (veja programação). Entre as oficinas do GirAção estão a de taekwondo e a aula de arte com serragem. ;Usamos ferramentas para recuperação da confiança de pessoas que sofreram nas mãos de quem mais amavam;, analisa o professor de artes Alcivandro dos Anjos. Números Os números de violência sexual impressionam quando comparados aos do ano passado. De acordo com estatísticas da Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda, entre janeiro de 2008 e abril deste ano houve 168 denúncias. Ou seja, menos de 20 foram parar na Nuese no ano passado. A secretária Eliana Pedrosa explica: ;Existe um grande esforço conjunto dos governos federal e local em divulgar a violência contra meninos e meninas;. Pedrosa destaca, no entanto, que o número real está longe de ser alcançado. ;A captação da denúncias é frágil. As crianças e os adolescentes têm medo e vergonha de falar. Além disso, muitos são ameaçados;, reconhece. Para combater a distorção, o governo e as entidades de defesa de direitos da infância vão lançar até o fim do mês o Plano Distrital de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. ;É fundamental articular ações e responsabilizar todos os envolvidos na rede de proteção;, observa Milda Moraes, vice-presidente do Conselho dos Direitos da Criança. Perla Ribeiro, coordenadora executiva do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca-DF), destaca que sem articulação não existe como enfrentar o problema. ;Já conhecemos o perfil dos abusadores. Sabemos como o abuso e a exploração ocorrem. O problema é que o enfrentamento não é só questão da assistência social. É fundamental envolver saúde, educação, justiça;, listou. Programação Nos próximos dias, o DF vai sediar vários eventos em homenagem ao 18 de maio. Amanhã, o palco será o estacionamento do Parquinho Ana Lídia 9h Hino Nacional com o grupo de percussão GirAção 10h Grupo de dança da Pastoral Carcerária 10h30 Banda de percussão da Assistência Social Casa Azul 11h Coral juvenil da Associação Cristã de Moços de Brasília 11h20 Banda marcial do Centro Marista Circuito Jovem de Ceilândia 11h40 Rap com a Ação Social de Ceilândia 12h Rap com a banda Diga How 12h15 Hip Hop do projeto Acolher Fercal 12h30 Dança com o grupo Folclórico Brasil Central Leia a matéria completa na edição impressa do Correio Braziliense