Cidades

Cifras milionárias contrastam com escândalos recentes de Constantino

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postado em 22/05/2009 08:09
Um dos maiores empresários brasileiros ; Nenê Constantino, 78 anos, fundador da Gol Linhas Aéreas ; tem ganhado destaque no noticiário mais por problemas com a Justiça e escândalos políticos do que pelo sucesso nos negócios. Além das acusações por duplo homicídio e tentativas de assassinato, apareceu como pivô da renúncia do então senador Joaquim Roriz (PMDF-DF). O envolvimento dele com pistolagem contrasta com o perfil austero e discreto consolidado ao longo de meio século como homem de negócios bem-sucedido. Constantino sempre fez questão de não esconder o jeitão de interior no meio empresarial. Aos poucos, a habilidade fez com que acumulasse conquistas na área de transportes rodoviários e, mais recentemente, aéreos. Mesmo assim, o mineiro de Paracatu manteve os hábitos simples. Tem até hoje ex-rodoviários como melhores amigos. Filho de lavrador, não concluiu o primário. E precisou de 50 anos para, a partir da compra de um caminhão, se tornar o maior proprietário de ônibus do Brasil. São 6 mil coletivos espalhados por sete estados e o DF. Transportam 1,2 milhão de passageiros por dia. Só o grupo Planeta tem cerca de 2 mil veículos. Opera em Taguatinga, Ceilândia, Paranoá, Lago Sul, Plano Piloto, Santa Maria e Brazlândia. Em 1994, Nenê passou a administração da frota de 617 veículos às filhas Auristela e Cristiane Constantino. Outra companhia ligada ao conglomerado de Constantino em Brasília é a Satélite, que absorveu a antiga Alvorada. Com 241 ônibus, a empresa transporta pessoas em Taguatinga, Ceilândia, Samambaia, Gama e Brazlândia. Há cerca de 2 anos, adquiriu também a Expresso Caxiense, responsável por transporte intermunicipal no Rio Grande do Sul. Constantino vive na capital do país desde 1977. Manteve-se longe dos holofotes até o fim da década de 1990, quando entrou no ramo da aviação. Em janeiro de 2001, o empresário confirmou o perfil ousado e fundou a Gol Linhas Aéreas. Enveredou em um ramo marcado por experiências malsucedidas de colegas especializados em transportes urbanos. A família Canhedo, por exemplo, dona da Viplan no Distrito Federal, arriscou investimentos no setor aeroviário, mas a iniciativa acabou com a falência da Viação Aérea de São Paulo Sociedade Anônima (Vasp). Já a Gol Linhas Aéreas começou a operar inovando no mercado aéreo brasileiro. Voos com tarifas baixas e sem gastos com alimentação chamaram a atenção no início dos anos 2000. A empresa deu início às atividades com apenas quatro aviões. Aparece hoje como a segunda maior do mercado. A data de fundação da Gol, porém, coincidiu com os crimes que envolvem o nome do empresário. Desde então, os negócios da família Constantino alcançam fazendas, concessionárias de veículos e empresas de engenharia. Bezerra de ouro O empresário também apareceu recentemente na mídia por causa de um amigo influente, o ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz. O político renunciou ao mandato de senador em 2007 depois que se abriu investigação por conta da partilha de um cheque de R$ 2,2 milhões ; o documento continha a assinatura de Constantino. O caso veio a público durante a Operação Aquarela, da Polícia Civil do Distrito Federal. A ação desmontou um suposto esquema de desvio de dinheiro do Banco de Brasília (BRB). Durante a apuração do caso, a corporação flagrou uma conversa na qual o senador Joaquim Roriz (PMDB-DF) e o ex-presidente do BRB Tarcísio Franklin de Moura tratam da divisão da cifra milionária. Roriz decidiu renunciar ao mandato para evitar uma cassação e preservar direitos políticos. A origem do dinheiro sacado em uma agência do BRB seria um cheque do empresário Nenê Constantino, presidente do Conselho de Administração da Gol Linhas Aéreas. Na época, o ex-governador do DF alegou que parte do dinheiro seria usado para a compra de uma bezerra. Constantino chegou a perder a compostura no dia em que foi chamado a depor sobre o caso e agrediu um fotógrafo. Sem benefícios Os 78 anos de Nenê Constantino não impedem a prisão dele nem lhe garantem qualquer benefício, como celas especiais, caso seja detido pela polícia brasiliense ; a não ser que seja provado um grave problema de saúde. Possíveis atenuantes viriam apenas em caso de condenação ou contagem da prescrição do crime (tempo máximo para a prisão, julgamento e definição da sentença do réu). Existe norma do Código Penal, por exemplo, que permite a redução do prazo prescricional pela metade para acusados com mais de 70 anos. Império As empresas de Constantino têm mais de 6 mil ônibus Ao todo, transportam 1,2 milhão de passageiros por dia Só a Planeta, de Brasília, conta com cerca de 2 mil veículos A Gol Linhas Aéreas é a 2ª maior empresa do setor aeroviário do Brasil O patrimônio da família ultrapassa R$ 1 bilhão ENTENDA O CASO Pressões e emboscadas A Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida) prendeu João Alcides Miranda, Vanderlei Batista Silva e Victor Forestti ; apenas Nenê Constantino continua foragido ; depois de investigar as informações dadas por uma testemunha. Ela contou que sabia o plano de execução praticado contra o líder comunitário Márcio Leonardo de Sousa Brito, 27 anos. Por trás do crime, havia histórias de disputas de terra com moradores da garagem da antiga Viação Pioneira, em Taguatinga. A morte ocorreu em 12 de outubro de 2001. Márcio liderava 100 pessoas e acabou morto com três tiros depois de atraído para uma emboscada. No dia seguinte, advogados do sócio e fundador da Gol retiraram os moradores. Os chefes de cada família receberam R$ 500. O homicídio reforçou a hipótese de que uma mesma pessoa mandou tirar a vida de outro morador do local meses antes, em 9 de fevereiro de 2001. Naquela vez, o assassinato teria ocorrido como forma de pressionar o grupo a sair da garagem. Um outro homem ficou ferido no ataque de um pistoleiro. Para a polícia, não há dúvidas de que Constantino é o mandante dos crimes. Ele movia ação de despejo contra os ocupantes e pressionava para que abandonassem o local. Os demais envolvidos são suspeitos de auxiliar os crimes de Constantino.

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