postado em 23/05/2009 07:55
Seu Joaquim Ribeiro de Araújo, de 52 anos, já fez de tudo. Foi pedreiro, ajudante de pedreiro, chacareiro, ambulante, vendedor autônomo. Mas empresário, nunca. Pois bem. Em 2003, ao abrir uma conta bancária, a surpresa: um supermercado de Ceilândia inaugurado 11 anos antes estava e está até hoje no nome dele. "Infelizmente não sou dono de supermercado nenhum", afirmou. As dívidas acumuladas pelo mercado deixaram o nome de Joaquim sujo na praça.
A fraude que ele não sabe dizer como aconteceu o impede de participar de programas do governo. Com problemas de saúde e sem poder trabalhar porque ainda tem de cuidar da esposa, também doente, Joaquim vive à procura de ajuda. Na polícia, conta ele, ninguém resolveu o problema. A vizinha viu na televisão uma história de Defensoria Itinerante e avisou a ele. Ontem, ao lado da esposa e do filho de 12 anos, Joaquim foi em busca de um defensor público.
Entre 9h e 17h30, 40 profissionais da Defensoria Pública do Distrito Federal e da União orientaram gente como seu Joaquim na plataforma inferior da Rodoviária do Plano Piloto. Foram cerca de 500 atendimentos. Hoje, o ônibus da defensoria estaciona no Setor P Sul, em Ceilândia. "A mulher disse que eu tenho que conseguir uns documentos", contou Joaquim. "Estou correndo atrás. Um dia vai dar certo", completa ele, otimista.
A Defensoria Pública trabalha para que sempre dê certo. Mas o contigente de defensores, os advogados do povo, ainda é pequeno. O Brasil conta com 5 mil deles, uma média de 1,46 para cada 100 mil habitantes. No Distrito Federal, são 172 desses profissionais espalhados por 26 núcleos. "Quanto mais defensores em atuação, a Justiça será menos elitista e mais democrática", ressalta o subdiretor do órgão no DF, Stefano Borges Pedroso.
A demanda de quem não pode pagar pelo serviço de um advogado particular e precisa de orientação jurídica cresce cerca de 20% por ano no DF. São muitos os brasileiros que desconhecem seus direitos. Outros que até conhecem, mas não sabem o que fazer quando os têm violados. Cada vez que um cidadão se coloca diante de um defensor público, uma história de vida se desenrola a partir de um problema, seja ele qual for. E é cada história%u2026
Em 2007, Antônio Francisco da Silva, 62 anos, deixou a Veraneio 74 em uma oficina de Planaltina com o compromisso de buscá-la seis meses depois. O carro que ele comprou por R$ 3 mil precisava de melhorias na lanternagem e na parte elétrica. Mas aí, passados os seis meses, o dono da oficina cobrou os dias em que a Veraneio esteve por lá como se ela estivesse em um estacionamento. "Ele quer que eu pague quase R$ 3 mil. Não tenho condições e preciso do meu carro", reclamou, na fila.
O aposentado Adauto Corrêa Lima, 88 anos, saiu de Águas Lindas (GO) às 9h porque descobriu que a Defensoria Itinerante estaria na rodoviária. Levou os documentos necessários e preparou o discurso. "O banco está cobrando uma dívida que não é minha", repetia, depois de ser atendido. Ele voltou para casa com a petição em mãos. Só não sabia quando teria a questão resolvida. "Mas eu levo a vida sorrindo, não tem problema", disse, bem-humorado.
Sentado, o líder comunitário Moisés Rabelo da Costa, 52 anos, esperava a vez de ser escutado por um defensor público. Um amigo dele, de 47 anos, foi preso no começo do mês, acusado de atentado violento ao pudor contra um garoto, em um setor de chácaras de Samambaia. "Ele não tem ninguém aqui em Brasília e estou atrás de uma autorização da Justiça para visitá-lo. Tenho certeza de que ele é inocente", relatou Costa.
Genivan Santos Rodrigues, 29, era outro que aguardava o atendimento ansioso. Ele trabalhou seis anos como motorista de executivos porto-riquenhos em Brasília. Mas aí os caras voltaram para o país de origem e esqueceram de "dar baixa" na carteira de trabalho dele. "É como se, teoricamente, eu ainda trabalhasse para eles. Quando descobriram isso no meu novo emprego, fui demitido", contou, desolado. "Agora tenho que dar um jeito de resolver esse problema", completou.
Até o governador José Roberto Arruda, que caminhava pela rodoviária, visitou a Defensoria Itinerante. E aproveitou para dizer: "Essas pessoas atendidas não teriam a quem recorrer se não fosse a defensoria". O mutirão faz parte das comemorações do Dia Nacional da Defensoria Pública, celebrado em 19 de maio. O ônibus já estacionou em Samambaia e na Estrutural. Depois de Ceilândia, está previsto o atendimento em Planaltina.