postado em 23/05/2009 11:06
Tentar dormir ao som incômodo de um mosquito voando sobre a cabeça pode ser traumático. Até o insone matar o inseto, sua noite de descanso estará ameaçada. Mas e se não for possível eliminar o mosquito? Quinze por cento da população mundial passa diariamente por isso. São pessoas que ouvem constantemente barulhos descritos como som de televisão fora do ar, chiado de chaleira e correnteza. O ;zumbido;, como o sintoma é conhecido, pode indicar desde problemas no sistema auditivo até distúrbios metabólicos. Na maioria dos casos, tem solução.
Estima-se que, em Brasília, aproximadamente 370 mil pessoas sofrem de algum distúrbio auditivo. A aposentada Maria das Graças, 60 anos, escuta um apito fino ao longo de todo o dia desde o início do ano. Maria faz parte de um grupo ainda mais suscetível ao zumbido ; entre idosos, o percentual sobe para 30%. E esse número pode crescer, caso os jovens não modifiquem o mau hábito de ouvir música acima dos limites aconselháveis. O zumbido pode ser causado por mais de 200 motivos diferentes. Além de problemas no próprio sistema auditivo, o sintoma às vezes deriva de disfunções odontológicas e até emocionais, bem como de distúrbios metabólicos ;diabetes e taxa de colesterol alta.
O otorrinolaringologista Paulo César Marinho Farias, da Sociedade de Otorrinolaringologia de Brasília, explica que o zumbido é fruto de um problema na cóclea, o órgão nervoso do ouvido. ;Ele é como um grito da cóclea por ajuda;, compara. ;Antigamente, pensava-se que isso era incurável. Mas, hoje, há várias técnicas.; Além de medicamentos que solucionam o problema, o paciente pode passar por terapias que diminuem o incômodo.
;Em casos de lesão no ouvido por excesso de som, não há tratamento que elimine o zumbido;, avisa a otorrinolaringologista Alessandra Venosa, do Hospital Universitário de Brasília (HUB). Segundo Venosa, a exposição constante de jovens a sons muito altos está conduzindo o zumbido ao status de epidemia. ;Problemas auditivos que costumavam acometer apenas pessoas mais velhas começaram a atingir os jovens;, alerta.
Quase a metade dos pacientes que procura o consultório da otorrino Ana Maria de Freitas Machado Braga se queixa de zumbidos. ;A maioria não tem nada grave. Só que é um incômodo muito grande, porque tem gente que não consegue nem dormir por conta do barulho;, diz a médica. ;Em algumas pessoas, ele começa baixinho e vai aumentando. Mas tem gente que desenvolve de uma hora para a outra e pensa que o barulho é culpa de algum inseto.;
Desgaste
Todas as pessoas perdem um pouco da capacidade auditiva com o tempo, e esse desgaste natural pode deflagrar zumbidos. O hábito de ouvir música em volume muito alto acelera o desgaste do aparelho auditivo. Não é aconselhável se expor durante mais de oito horas a sons com intensidade superior a 85 decibéis. O tempo diminui na proporção do aumento do som. A dois metros da caixa de som de um show de rock, o barulho pode atingir 120 decibéis. Um cortador de grama chega a atingir 107 decibéis, próximo aos 105 decibéis alcançados por uma furadeira.
A analista judiciária Claudia do Nascimento Cortez, 36 anos, começou a investigar há alguns meses um zumbido que a incomoda na hora de dormir. ;Geralmente, ele vem nos dias em que estou mais cansada, depois de trabalhar muito;, diz. Por causa do histórico de surdez hereditária na família, ela desenvolveu hábitos preventivos. ;Quando uso fones de ouvido, tento deixar uma das orelhas livres. Também costumo estabelecer apenas uma hora como limite para ouvir música assim;, conta.
Ouvir zumbidos depois de shows e festas com música alta pode ser normal, mas, se o barulho se tornar contínuo, é aconselhável procurar um otorrinolaringologista. O Grupo de Apoio a Pessoas com Zumbido (Gapz) do HUB oferece esclarecimentos gratuitos sobre o tema uma vez por mês. O próximo encontro, em 3 de junho, vai tratar das relações entre zumbido e hipersensibilidade a sons. Todas as palestras acontecem das 17h às 19h ; mas não substituem uma consulta médica, alerta a coordenadora do Gapz, Alessandra Venosa.