postado em 26/05/2009 08:18
O estereótipo do médico sisudo vestindo jaleco branco passa longe do norte-americano Hunter Adams, mais conhecido por Patch Adams. O figurino tem um jogo de cores desencontradas e cada bolso comporta um brinquedo, aparatos para caretas ou qualquer coisa que faça rir. O homem que inspirou um filme estrelado por Robin Williams nos anos 90 esteve em Brasília ontem e conversou com profissionais de saúde. Ele trouxe um pouco das lições de vida que aprendeu no exercício da medicina e ensinou as estratégias usadas no cuidado do paciente.
Adams conheceu o Hospital da Criança de Brasília (HCB), construído pela Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadora de Câncer e Hemopatias (Abrace), e a futura equipe da unidade de saúde. A primeira recomendação é de mudar uma prática comum nos consultórios, a consulta a jato. Segundo ele, a primeira conversa com o paciente deve levar quatro horas. Nesse tempo, o doente poderá dar detalhes de cada aspecto de sua vida, mesmo nas questões emocionais. ;A amizade é a experiência mais terapêutica para o ser humano. Isso deve ser tão valioso para o paciente quanto para o cuidador;, disse Adams. O médico defende alternativas aos tratamentos tradicionais, como acupuntura e compostos de ervas, mas nunca receita remédios psiquiátricos.
Em 1971, Adams fundou o Instituto Gesundheit e, com alguns amigos, abriu um hospital gratuito que recebia pacientes a qualquer hora do dia. Todos os meses, entre 500 e mil pessoas eram atendidas e até 50 delas passavam noites no local. O hospital durou 12 anos e mostrou à equipe de Adams que seria possível manter a filosofia de carinho aliada à medicina. Demonstrações de afeto não sofriam repressões no hospital. Um paciente bipolar, por exemplo, podia ser abraçado por horas, até se sentir seguro.
;Queremos que a equipe tenha seis qualidades: feliz, divertida, amorosa, criativa, cooperativa e atenciosa;, resumiu. As expedições do médico pelo mundo começaram em 1984, em viagem à antiga União Soviética. Hoje, mais de 60 países são atendidos.
Surpreendente
A nutricionista Bianca Sarlo, 38 anos, não conhecia o trabalho de Adams e se encantou. ;Ele surpreendeu. Traz esperança, tem uma coragem que nos dá força;, comentou ela, que assistiu ao filme sobre a história de Adams no último domingo.
;Não é só tratar das pessoas, mas cuidar. A visita dele vai ser de muita utilidade para nós. Ele fala que é preciso acolher;, resumiu a presidente da Abrace, Ilda Peliz. O Hospital da Criança de Brasília terá cerca de 500 funcionários e capacidade para 314 mil atendimentos anuais. Entre as sugestões oferecidas por Adams está a de estampar na parede o rosto do profissional eleito o mais rabugento do mês ; segundo ele, estimula a simpatia. Outra ideia é levar as famílias dos funcionários para jantar em conjunto no hospital.
A presidente da Abrace ressalta que o novo hospital deve ter uma atmosfera diferente. A cor branca ficou restrita ao hall de entrada. Corredores e salas foram coloridos de verde e azul. Até os tradicionais jalecos devem ganhar nova roupagem. ;A criança tem medo de qualquer um com roupa branca, acha que o profissional vai trazer sofrimento;, disse Ilda. O Instituto Gesundheit precisa de apoio de voluntários para construir o hospital. Outras informações em www.patchadams.org (site em inglês).