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"A praça não interfere no plano piloto", defende Niemeyer

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postado em 30/05/2009 08:05
Um dia após divulgar o novo projeto para a Praça da Soberania, Oscar Niemeyer voltou a defender a proposta. Após saber da repercussão em torno da segunda versão, o arquiteto reafirmou que a solução adotada está correta. ;A capital do Brasil é importante demais para receber os seus visitantes na pequena praça existente grudada à Estação Rodoviária. A praça que projetei não interfere em nada no Plano Piloto. A avenida de pedestre que desenhei acompanha a praça em toda a sua extensão. Embaixo dessa avenida fica o estacionamento, que em nada interfere na construção da praça;, explicou. ;Uma cidade se distingue pelo valor de sua arquitetura e de seu urbanismo, e é justo que eu defenda o meu trabalho de arquiteto;, ressaltou.

Niemeyer apresentou o projeto da praça a estudantes da Universidade de Brasília (UnB) ontem. Cerca de 70 alunos de arquitetura estiveram com ele durante a manhã, em Niterói (RJ). O encontro durou quase duas horas, no Memorial Roberto Silveira, obra do próprio Niemeyer que abriga um acervo histórico da cidade. Durante a palestra, o arquiteto apresentou alguns projetos de autoria dele em Brasília, no Brasil e no mundo. Detalhou a proposta do Sambódromo da capital federal, em Ceilândia; a torre da TV Digital; a Praça do Povo, perto do Teatro Nacional, mas se concentrou em explicar a nova versão da polêmica Praça da Soberania. ;Confesso que me surpreendi com o entusiasmo e carinho com que alunos e professores receberam as minhas explicações, os assuntos que abordei;, contou Niemeyer ao Correio, nesta sexta (29/05) à tarde.

O encontro com os futuros arquitetos ocorreu no mesmo dia em que o Correio divulgou, com exclusividade, a nova versão do projeto. O secretário de Cultura do DF, Silvestre Gorgulho, fez a abertura da palestra, que também contou com a participação dos professores da UnB Eduardo Rossetti e Graciete Guerra da Costa e o diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), Andrey Rosenthal. ;Expliquei aos alunos que eles estavam tendo um grande privilégio de conversar com um gênio da arquitetura universal. Daqui a 509 anos, poucos brasileiros serão lembrados, e Oscar será um deles;, disse Gorgulho.

A reportagem conversou, por telefone, com três alunos que assistiram à aula de Niemeyer. Ao longo da palestra, o arquiteto não teve pressa para explicar as alterações nos desenhos da Praça da Soberania. Deixou claro que, desta vez, a visão do Congresso Nacional não será prejudicada, já que o obelisco previsto é de 50m, e não mais de 100m. Os aprendizes, entusiasmados com o que consideraram de fato um ;momento privilegiado;, puderam tirar fotos dos novos croquis da polêmica praça.

Niemeyer disse que aceitou as críticas e as sugestões que surgiram depois da divulgação do projeto original. Voltou a defender que Brasília precisa de uma praça onde o ;povo possa se reunir; e que o lugar ideal para isso é a Esplanada dos Ministérios, próximo à Rodoviária do Plano Piloto. Seguro da decisão de manter vivo o projeto, apesar das alterações, pediu que os alunos da UnB reconhecessem o direito que ele tem de apostar na Praça da Soberania. À certa altura, afirmou que não entende muito bem o motivo de tanta repercussão em torno da obra.

O arquiteto expressou por mais de uma vez o desejo de ver a praça sair do papel e solicitou a colaboração dos futuros arquitetos. ;Ele pediu pra gente reconhecer o direito que ele tem de defender a arquitetura dele e os trabalhos dele em Brasília;, contou a estudante do 4; semestre Giselle Chaim, 20 anos. ;Falou que a cidade não era só do Lucio Costa, que não era justo todo esse julgamento e essa repercussão. Disse que ele também faz parte da história da cidade e que não entendia o motivo de as pessoas estarem reagindo dessa forma;, completou a colega Mariana Bomtempo, 18.

Os três estudantes ouvidos pelo Correio foram ao encontro de Niemeyer com a opinião de que a Praça da Soberania não era uma boa ideia. Voltaram, segundo eles, compreendendo melhor a batalha do arquiteto pelo projeto, mas ainda não convencidos da proposta. ;Tenho um grande respeito, como estudante de arquitetura, pelo trabalho do Niemeyer, mas infelizmente vejo que a praça não será um bom investimento;, comentou Mariana. ;Restaurar e cuidar do que ele já fez na cidade seria muito mais importante do que a construção dessa praça;, completou a aluna.

A estudante Giselle deixou o encontro concordando que a capital federal precisa de uma praça mais imponente. Mas continua tendo a opinião de que a Esplanada não é o melhor lugar para construí-la. ;Ainda sou contrária, porque a praça não se adequa à Esplanada;, disse. ;Mas a gente tem que reconhecer que ele (Niemeyer) é um brasileiro que se destacou muito na arquitetura. Foi uma oportunidade única ter estado com ele;, ressaltou a estudante. ;Gostei das mudanças, mas a Esplanada foi feita para o povo, para as manifestações. Acho que essa praça não será do povo;, completou Luís Felipe Gonçalves de Souza, 21, também aluno do 4; semestre.



Espaço a ser completado

A Praça da Soberania seria uma forma de completar o complexo cultural recém-criado em Brasília, formado pelo Museu da República e pela Biblioteca Nacional. Além disso, as modificações feitas não atrapalham a visão do Congresso Nacional e dos demais prédios da Esplanada dos Ministérios. Assim como recebeu críticas, o novo projeto apresentado por Oscar Niemeyer também ganhou elogios de arquitetos e urbanistas.

Dois profissionais se unem para elogiar a proposta: a professora da UnB Neusa Cavalcante e o arquiteto Eliel Américo. Quando o primeiro projeto foi apresentado, Neusa escreveu um artigo, mas não chegou a defendê-lo. No texto, ela criticava as manifestações contrárias a Niemeyer e pedia respeito ao arquiteto. Ontem, ela disse que sempre gostou do projeto e aprovou as mudanças sugeridas. ;O projeto é bom. Falta um elemento vertical na Esplanada dos Ministérios e o Congresso Nacional está muito distante. A praça não atrapalha a visão dele (Congresso);, afirmou.

Américo também saiu em favor de Niemeyer. Disse que o espaço público da Esplanada dos Ministérios é, inegavelmente, extraordinário e deve ser completado. ;Me parece que o projeto para a Praça da Soberania é acertado na percepção de que, assim como Roma, Paris e outras belas cidades, Brasília precisa conviver com a contemporaneidade. O espaço em frente à Rodoviária necessita ser concluído. E Oscar Niemeyer é o único que domina essa escala, já esmagada pelos hotéis, instituições verticalizadas, que emolduram, nos dias em curso, o Eixo Monumental.;

Até mesmo os ferrenhos opositores à proposta original preferiram não levantar mais críticas ao projeto. Dizem que preferem deixar a decisão final nas mãos da população e do governo local. Primeira arquiteta a reagir publicamente, em janeiro, contra a construção da praça, Sylvia Ficher, professora da Universidade de Brasília (UnB), agora optou por se afastar da polêmica. Disse que ;não tem mais nada a dizer; e colocou a palavra final nas mãos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e do governador José Roberto Arruda. ;Não faz mais sentido eu ficar dando opinião, dizendo se o projeto é bom ou ruim, se melhorou ou piorou;, disse. ;Quem tem que decidir se vai ou não fazer é o Iphan e o GDF;, afirmou. Sylvia justificou que sua opinião já foi suficientemente divulgada, mas defendeu, mais uma vez, que o governo deveria promover um concurso público antes de construir a obra.

O arquiteto Carlos Magalhães, representante do escritório de Niemeyer em Brasília, discorda da decisão de refazer o projeto. ;Acompanho a vida do Oscar há muito tempo e acho que ele está sendo exposto e pressionado justamente por quem devia protegê-lo. O projeto acabou, foi apresentado e rejeitado. Quer dizer que, se reclamarem de novo, ele vai diminuir o obelisco para 25 metros?;, questionou. Magalhães também não quis entrar na polêmica sobre a qualidade do desenho, disse que ;é o Niemeyer que deve dizer se está ou não bom;. Mas concorda que o canteiro central da Esplanada dos Ministérios não é o local adequado para a construção. ;Ali não é possível fazer, nem o primeiro nem o segundo (projeto).;

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