Cidades

Buscar diagnósticos e informações sobre doenças na web pode ser uma grande cilada

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postado em 31/05/2009 10:14
Digite a palavra ;câncer; em alguma página de busca na internet. Em menos de meio segundo, observe quantas opções de sites estarão à sua disposição. Só no Google são 225 milhões de referências oferecidas sobre esse tema. Essa profusão de arquivos digitais é prova incontestável de que os profissionais de medicina, queiram ou não, estão dividindo com a internet uma função primordial para a saúde da população: a de informar sobre doenças, diagnósticos e tratamentos. O lado bom dessa história é a democratização do acesso à informação. Gratuitamente, qualquer um pode se informar, o que inclusive pode auxiliar na relação médico-paciente, como sustentam alguns especialistas. ;Até nós, médicos, usamos a internet como ferramenta de pesquisa. Se chega algum caso que desconhecemos, também podemos recorrer ao Google;, confessa o clínico geral e professor da Universidade de São Paulo Jacob Lichtenstein. No outro extremo, está a certeza de que a internet também abriu portas para um mundo de informações duvidosas e de baixa qualidade, como aponta a pesquisadora e farmacêutica Emília Vitória da Silva. Em sua tese de doutorado na Universidade de Brasília, ela verificou que informações farmacológicas sobre a obesidade em endereços virtuais brasileiros são ; em sua maioria ; imprecisas e sem comprovação científica. Ou seja, em vez de ajudarem, podem atrapalhar o paciente em processo de perda de peso. Das páginas pesquisadas por Emília, apenas 39% mostravam o autor dos textos e só em 14% estavam as referências usadas. Diante disso, a principal questão a ser debatida é: como leigos podem julgar esse universo de informação na rede? A Revista conversou com médicos e estudiosos e constatou: nesse contexto, as reações adversas e as contraindicações são muitas. Saiba como se proteger. Em números De acordo com uma pesquisa realizada em 2007 pelo instituto de pesquisa Pew Internet & American Life Project, organização não governamental e não lucrativa de pesquisa, sobre o impato da internet na vida das pessoas, 51% dos norte-americanos com alguma doença crônica usam a internet. Desses, 86% buscam dados sobre sua enfermidade na rede, 75% confirmam que a prática afetou a decisão para tratar sua condição de saúde e 69% afirmam que as informações lidas os levaram a fazer novas perguntas aos seus médicos. Para 57%, a internet mudou a forma como encaram a doença e administram a dor e 71% dizem se sentir seguros com as informações online. Na mesma pesquisa, a análise de pessoas sem doenças crônicas apontou que 55% delas se deixam influenciar por informações de saúde a ponto de mudarem os rumos de um possível tratamento, e 52% levam ao consultório indagações levantadas em suas buscas na internet. Informações ao paciente A internet proporciona a facilidade de acesso a todo e qualquer tipo de informação sobre doenças, tratamentos, medicamentos, alimentação e outros temas de saúde. Basta um clique e o diagnóstico sai em segundos. A clientela é grande: 40 milhões de brasileiros já são usuários da internet e se conectam em casa, no trabalho, na escola, lan houses ou cyber cafés. Com o surgimento do paciente-internauta, os médicos sentem, nos consultórios, as mudanças no comportamento: o paciente cobra explicações, pede esclarecimento e até troca de doutor pela internet. Para a bibliotecária Ilza Lopes, professora e pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB), a avalanche de informações disponíveis na rede merece um olhar mais cuidadoso. Isso porque o conteúdo errado pode provocar danos ao corpo e à mente de quem a segue sem contestação e sem se importar com a credibilidade do autor. Autora da tese de doutorado Critérios de qualidade para informação em saúde na World Wide Web, a especialista em ciência da informação afirma que os médicos, psicólogos, nutricionistas, enfermeiros e outros profissionais da área nem sempre confiam no material divulgado no mundo virtual. Para 80% dos pesquisados, uma home page traz dados seguros se forem mantidas por órgãos governamentais, instituições de ensino e hospitalares. ;Para eles, o que tem ponto com, com vínculo comercial, merece uma avaliação mais aprofundada;, diz Ilza. A professora começou a ter interesse pelas páginas de saúde na internet por uma questão familiar: em 2001, a neta, então com nove anos, apresentava altas taxas de colesterol no sangue. Começou a pesquisar sobre o tema na rede. ;Fiquei bastante confusa e decidi investigar o assunto analisando a literatura internacional. Concluí que há conteúdo inadequado, principalmente em páginas sem autoria, data e com erros ortográficos. São cuidados básicos para se navegar pela web;, diz a professora. Segundo ela, preocupado com esse quadro, os governos americano e de países europeus desenvolveram critérios de avaliação da qualidade. Obrigatoriamente, as páginas precisam ter procedência e endereço do provedor. ;As autoridades brasileiras ainda estão estudando essas medidas. Aqui, a internet ainda não tem controle;, afirma Ilza. Leia matéria completa com precauções, como pesquisar, cuidados no uso e saiba os sites mais confiáveis na edição impressa da Revista do Correio deste domingo

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