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Brazlândia: a república dos morangos

A caminho de completar 80 anos, localidade conseguiu resistir ao crescimento desordenado e à especulação, mantendo até hoje um ar de interior que faz toda a diferença. Moradores se orgulham

postado em 05/06/2009 07:50
Tem gente em Brazlândia que não gosta do estereótipo da cidade. Mas não tem jeito. A marca de Brazlândia ainda é a vida pacata. O asfalto tomou conta das ruas, o comércio se expandiu, os setores residenciais também, só que basta uma circulada pelas quadras para respirar tranquilidade. A conversa no portão de casa, a caminhada à beira do Lago Veredinha, um lanche na sorveteria ou na pizzaria da esquina, tudo isso mergulha o morador e o visitante em um clima acolhedor. Apesar dos crimes que assustam com mais frequência, Brazlândia chega aos 76 anos matendo a serenidade. Desde sempre, a região administrativa conhecida pela Festa do Morango respeitou a vocação agrícola. Talvez por essa razão tenha se adaptado com facilidade ao jeito pacato de viver. Brazlândia foi fundada em 5 de junho de 1933, quando o então prefeito de Luziânia (GO), município ao qual ela era ligada, transformou a região em vila. Em 1961, com a transferência da capital federal para Brasília, a vila virou cidade do Distrito Federal, e hoje tem cerca de 70 mil habitantes. Pelas ruas, esbarra-se em gente que se orgulha de morar ali, rodeado de fazendas e a 59km de Brasília. Dona Castorina, 85 anos: terras do avô deram início à colonizaçãoNo Setor Tradicional, um dos mais antigos, todo mundo conhece dona Castorina Braz de Oliveira. ;Foi meu avô quem doou os terrenos para fazer a cidade;, conta, orgulhosa, a senhora de 85 anos, que chegou por lá quando tinha um ano de idade e jamais arredou o pé da terra. ;Ah, meu filho, aqui era um descampado grande. Tinha só umas casinhas acolá;, relembra, apontando para o horizonte. ;Agora? Agora tem tudo: médico, hospital, loja, gente pra trabalhar..." Dona Castorina viu o progresso chegar à cidade que carrega o nome da família. ;Se é bom viver aqui? Pro meu gosto, é.; Para o gosto de Brasilina dos Santos, também. Ela descobriu Brazlândia em 1988, vinda do município baiano Riachão das Neves. Criou, sem o marido, 10 filhos. Netos, ela jura que perdeu a conta. Aos 70 anos, cheia de sorrisos, adora a cidade que a acolheu. ;Vixe, isso aqui tá bom demais. Se depender de mim, não troco por outra cidade, não;, comenta, antes de fazer uma reclamação legítima. ;Só os preços é que estão um absurdo. Antes, era tudo barato;, protesta, segurando um cobertor que tinha acabado de comprar em um camelô na rua principal. ;Ele pediu R$ 45. Paguei R$ 20. Tem que pechinchar!”, ensina. Segurança A reivindicação da dona de casa Ana Maria da Silva, 50 anos, 30 deles na cidade, é por mais segurança. ;Quando eu era pequena, saía a qualquer hora do dia tranquila. Agora, não dá. A violência está terrível;, compara a mãe de quatro filhos, todos nascidos e criados em Brazlândia. Para pedir paz, o fazendeiro José Marculino visita todo dia o Santuário Menino Jesus de Praga, que começou a ser construído oito anos atrás e hoje é um marco na cidade. ;Foi um milagre de Deus esse templo. É um presente pra gente que mora aqui;, diz. Igreja e Santuário do Menino Jesus de Praga:  impressão é a de que o tempo parouO administrador da cidade, Edis de Oliveira Silva, 60, mora em Brazlândia desde os 10 anos de idade e avalia que o local ainda é tranquilo, se comparado a outras cidades do DF. No cargo desde março de 2007, ele ressalta a obra de R$ 9 milhões para construir a Rodovia do Morango, que liga a cidade às fazendas; a revitalização da orla do Lago Veredinha e a urbanização de alguns assentamentos. ;Nosso objetivo agora é que os estudantes não precisem sair daqui para estudar. Esse é um problema sério;, reconhece Silva, conhecido como Nego Pirenópolis. Brazlândia não tem faculdade. As que tentaram abrir as portas por lá não coneguiram se manter. Ao terminar o segundo grau, o jovem normalmente procura Taguatinga ou outra cidade próxima para continuar os estudos. A juventude também sofre com a falta de lazer. ;Não tem cinema aqui;, destaca Leandro Rossi, 23 anos. Sábado e domingo, resta à garotada se reunir em volta de carros com som ligado no volume máximo ou eleger um violeiro para garantir música às margens do lago. ;E esse clube aí abandonado há anos?;, questiona Renato Godoy, 20, referindo-se ao clube comunitário da cidade. O administrador informa que, no segundo semestre, a reforma no local será iniciada. Em um ponto, porém, os jovens e os mais experientes concordam que Brazlândia é sucesso: falou em morango, falou em Brazlândia. A consagrada festa que acontece nos dois últimos fins de semana de agosto é tradição há 13 anos, a vitrine para os produtores da região. ;No início, a gente não acreditava. Mas graças a Deus, percebemos que o cerrado era bom. Hoje o morango se popularizou;, comenta Fábio Harada, 48 anos, um dos vários integrantes da colônia japonesa que começou a povoar as redondezas da cidade na década de 1970. A área rural de Brazlândia tem cerca de 110 hectares de morango plantados. A produção gera 1,2 mil empregos diretos, segundo a administração. ;Estamos entre as quatro maiores regiões produtoras do país;, acrescenta Harada, paulista de Atibaia e brazlandense de coração. ;Fui muito bem-acolhido. Sou praticamente daqui. Hoje, quando vejo falar em São Paulo na televisão, me sinto tão distante!”, completa o produtor. A serenidade de Brazlândia foi quem conquistou a colônia japonesa e tantas outras que desembarcaram ali ao longo desses 76 anos. É por isso que a cidade insiste nela.
PERFIL DO LUGAR Fundação - 5 de junho de 1933 Distância de Brasília - 59km Habitantes - 70 mil Área - 474km² Escolas públicas - 28 Hospitais públicos - 1 Centros de saúde - 2 Delegacias - 1 Empresas - 600 Fonte: Administração Regional de Brazlândia
PROGRAMAÇÃO DA FESTA Confira a programação das festividades do 76º aniversário de Brazlândia. Outras informações pelos telefones (61) 3391-7059 ou 3391-1137 (ramal 225). Alvorada festiva - Hoje, a partir das 5h, a população será acordada com fogos de artifício e música Festival 100% Brazlândia, na área especial do Setor Tradicional - Hoje ; rodeio e shows com Djs de música gospel, a partir das 22h Amanhã ; rodeio e shows de duplas sertanejas,a partir das 22h - Domingo ; rodeio e shows com a banda de forró Calcinha Preta, a partir das 19h Festa junina - Nos dias 12,13, 14, 19, 20 e 21, haverá barraquinhas com venda de comidas e bebidas típicas, além de shows de bandas locais e nacionais na Praça do Laço Desfile cívico, estudantil e militar - 21 de junho, a partir das 8h, na avenida principal

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