Cidades

Invasão próximo à Estrutural foi ato político

Secretaria de Segurança monitora, há seis meses, líderes do movimento que tentaram ocupar a Colônia Agrícola Cana do Reino, na última quarta-feira. Governo diz não ter dúvidas de que ação foi orquestrada

postado em 05/06/2009 08:10
O setor de inteligência da Secretaria de Segurança Pública monitora, há cerca de seis meses, o grupo que tentou invadir a Colônia Agrícola Cana do Reino, próximo da Estrutural, na noite da última quarta-feira. Todos os líderes do movimento estão identificados e serão processados por incitação ao crime. Depois de investigar os manifestantes, o governo local não tem dúvidas de que a organização tem conotação política. As lideranças do grupo passaram o dia de ontem tentando conseguir apoio de parlamentares e o GDF promete redobrar o rigor para impedir uma nova onda de invasões de terras públicas no Distrito Federal. O Movimento Pró-Moradia Ambiental para Famílias de Baixa Renda do DF nasceu na Estrutural em abril de 2007 e atualmente reúne 5 mil moradores sem casa própria de diferentes cidades. Os dois principais líderes são Ismael de Oliveira Caetano e Paulo Batista dos Santos, respectivamente, prefeito e vice-prefeito comunitário da Estrutural. De acordo com Ismael, os cerca de mil manifestantes que se reuniram na noite de terça-feira pretendiam passar a noite acampados na Cana do Reino, uma área vizinha à Estrutural para onde eles pedem para ser assentados. ;Em momento algum, iríamos invadir. Duas chácaras foram cedidas por posseiros e iríamos passar a noite lá. Só queríamos chamar a atenção das autoridades porque há tempo denunciamos que a Cana do Reino está sendo loteada por grileiros;, alegou. Giffoni (de colete) diz que crianças foram usadas como escudo na manifestação na Via EstruturalA justificativa, no entanto, não convenceu o governo. Ao se aproximarem da Estrutural, na quarta, eles foram recebidos pela tropa de choque da Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam). Logo depois, chegaram a cavalaria e diversas viaturas. Eram cerca de 200 policiais e o protesto acabou em confronto, com uso de bombas de efeito moral e a prisão de uma pessoa (Bruno Leandro Oliveira Maciel). ;A ação foi orquestrada e tudo era mal intencionado. O grupo é organizado, tem um comando que ficou trocando de roupa para não ser identificado. Eles incitavam a população ao embate e usavam crianças como escudo;, afirmou o secretário da Ordem Pública, Roberto Giffoni. Giffoni contou que a Secretaria de Segurança identificou três grupos distintos no movimento. A liderança é formada por outras seis pessoas além de Ismael e Paulo. Existem ainda cerca de 100 coordenadores que intermediam o contato entre os líderes e o restante dos manifestantes, formado por pessoas que de fato reivindicam o direito a moradia. ;Foi uma tentativa de invasão organizada por grupos políticos que fizeram das pessoas humildes massa de manobra. Eles incitavam as pessoas a jogarem pedras na polícia para provocar uma reação. Mas a polícia teve um comando firme e evitou a invasão;, disse o governador José Roberto Arruda, ontem, durante a inauguração da estação do Metrô da 102 Sul. Apoio político A polícia também investiga a ligação do grupo com políticos. Ismael foi assessor do ex-deputado José Edmar, principal apoiador da invasão da Estrutural na década de 1990. Além disso, o grupo é auxiliado pelo deputado federal Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), que já esteve em duas manifestações. ;Tenho acompanhado a luta deles por moradia e ajudado a resolver questões políticas e administrativas pacificamente;, afirmou o deputado, que ajudou o movimento a marcar uma audiência com representantes do Ministério das Cidades recentemente. Rollemberg, porém, ressaltou que não sabia do ato de quarta-feira. Ontem, os líderes do movimento se reuniram com a bancada petista da Câmara Legislativa: os deputados Paulo Tadeu, Érika Kokay e Cabo Patrício. Érika Kokay esteve na Estrutural na madrugada de ontem durante o confronto com a polícia. Além disso, uma assessora de Paulo Tadeu enviou um comunicado à imprensa quando o grupo se dirigia para o local e outros assessores dele afirmaram apoiar o movimento. O parlamentar, no entanto, disse que só soube da manifestação na manhã de ontem. ;O movimento é autônomo, não tinha nenhum assessor meu lá. Sou um parlamentar, recebo diversas demandas. Mas só fui procurado hoje e eles falaram que iriam a todos os outros gabinetes;, disse. A Colônia Agrícola Cana do Reino é uma área de 240 hectares pertencente à União. A gerente regional do Patrimônio da União no DF, Lúcia Carvalho, explicou que 40 hectares da terra serão destinados à construção de 5 mil apartamentos para famílias que ganham até três salários mínimos, desde que elas nunca tenham recebido outro imóvel do governo. Mas ressaltou que a ocupação não será destinada apenas aos moradores da Estrutural. ;Ainda estamos definindo os critérios, mas a área também pode ser para famílias remanescentes de Vicente Pires ou para pessoas da lista limpa da Secretaria de Habitação;, disse. (Colaboraram Raphael Veleda e Pablo Rebello)

Secretaria de Segurança monitora, há seis meses, líderes do movimento que tentaram ocupar a Colônia Agrícola Cana do Reino, na última quarta-feira. Governo diz não ter dúvidas de que ação foi orquestradaVeja cronologia do movimento 17h ; Moradores de várias cidades chegam de ônibus à Cidade Estrutural e se reúnem para discutir maneiras de lutar pela casa própria. Eles têm como objetivo marchar até as casas de chacareiros na região conhecida como Cana do Reino, terra da União; 21h ; Cerca de mil pessoas, segundo a organização, e 500, de acordo com a Polícia Militar, marcharam pelo acostamento da Via Estrutural até a altura do posto da Companhia de Polícia Rodoviária (CPRv) da PM. A tropa de choque da Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam) os esperava no local. Logo chegou a cavalaria e diversas viaturas. Eram cerca de 200 policiais; 21h30 ; Os manifestantes tomam o sentido Plano Piloto/Taguatinga e a PM fecha também o outro sentido da pista; 21h40 ; Diante da demora nas negociações, o grupo fez uma corrente de mulheres na linha de frente e avançou para cima da tropa de choque. Os policiais recuam; 22h11 ; Vendo a pista ao lado desprotegida, o grupo pulou a cerca e avançou. A polícia fez o cerco e respondeu atirando bombas de gás lacrimogêneo. Os manifestantes, incluindo mulheres grávidas e muitas crianças, foram cobertos pela fumaça. Muitos caíram, mas ninguém se feriu com gravidade; 22h25 ; O grupo recua e faz uma barricada de fogo com material encontrado ao lado da pista. Cones da polícia são queimados; 22h38 ; Roberto Giffoni, secretário de Ordem Pública, Social e de Controle Interno do DF, chega para tentar negociar. Ele pressionou pela liberação da pista; 23h10 ; A prisão de um rapaz que queimou um dos cones da polícia acirrou os ânimos. Houve corre- corre e mais tensão; 23h15 ; A situação volta a ficar difícil quando a tropa de choque protege um caminhão dos bombeiros para apagar o fogo. As forças de segurança são atacadas com paus e pedras, mas não reagem; 23h27 ; O helicóptero da PM, que dava apoio à operação, fez voos razantes levantando muita fumaça e poeira. O coronel José Silva Filho, comandante da operação, fica nervoso e ordena que a aeronave se afaste; 23h42 ; Com a situação mais calma, um trator limpa os entulhos da pista; 0h22 ; Agentes da Vara da Infância e da Juventude ameaçam punir responsáveis por crianças que permaneciam no local; 0h50 ; Chegam ônibus contratados pelo governo para levar manifestantes para suas cidades; 2h ; A Via Estrutural é reaberta ao trânsito.

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