Cidades

Alcoólicos anônimos contam como é difícil deixar o vício de beber

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postado em 05/06/2009 08:20
Maria, 50 anos, está sem beber há um dia. É assim que ela pensa. Mas, ao todo, são 22 anos sem colocar uma gota de álcool na boca. ;Parar é fácil. Voltar também. Hoje, não bebi. Me ensinaram a não voltar a beber.; Ela começou com o vício aos 10 anos de idade. Perdeu amigos, o convívio com parentes, os sonhos. Perdeu o pôr do sol porque a esta hora já estava sem os sentidos. ;Hoje, ganhei tudo de volta. Sou referência para meu filho, sou esposa. Tenho gratidão por ter conseguido uma nova vida. Posso ver o nascer do sol, porque estou sem beber hoje;, diz Maria. A gratidão dela é como a de milhares de brasilienses que perdem a capacidade de controlar a quantidade de bebida que ingerem e, muitas vezes, deterioram a própria saúde, a relação com a família, o trabalho e as amizades. Maria agradece pela oportunidade de chegar a uma sala, ser recebida sem preconceitos, sem perguntas. E, ali, poder ouvir e se reconhecer, poder falar e compartilhar o sofrimento de toda uma vida velada pela presença do álcool. Maria, João e Joaquim são membros do Alcoólicos Anônimos (AA) ; grupo pelo qual homens e mulheres compartilham experiências para se manterem sóbrios e que celebra 40 anos de luta no Distrito Federal e Entorno. Por isso, se inicia hoje um encontro no qual alcoólicos e especialistas vão falar sobre a doença, a família e a recuperação. O evento é aberto ao público (veja programação). Hoje, no DF, existem 95 grupos com, pelo menos, 15 pessoas cada. A maioria das reuniões é aberta ao público. Mas não há números exatos de alcoólicos já que não há cadastros. O anonimato é uma escolha de todos. Para entrar no grupo, basta o desejo de parar de beber. Os custos vêm de contribuições voluntárias. Não se aceita dinheiro de fora. ;Nas reuniões, cada um dá o seu depoimento. E isso basta. Porque você pensa: se aquela pessoa pode ficar sem o álcool, eu também posso;, ressalta Maria. Ela tomou o primeiro gole em uma festa. Ao contrário da maioria, teve na mesma noite o primeiro porre. Aos 17, chegou ;ao fundo do poço;. ;A doença progrediu e minha vida regrediu. Perdi amizades, tinha vergonha porque não lembrava de nada. Achava que estava curtindo a vida. Mas hoje é que recuperei minha sanidade;, relata. Joaquim, 23 , teve trajetória diferente. A primeira cerveja, aos 14, foi ao lado de amigos, para se integrar, deixar a timidez de lado. ;Comecei bebendo um fim de semana sim outro não. Mas quando bebia descontava os dias sem o álcool. Deixava namorada de lado, a escola. Minha vida só tinha sentido com o álcool. Demorei a reconhecer que era alcoólico. Essa é a doença da negação. Mas quando entendi, quis ficar sóbrio. Não esperava ficar sete anos sem beber. A cada dia, tento aplicar os 12 passos;, conta. Princípios Os 12 passos são princípios usados pelos membros do AA na terapia individual para se recuperarem e manterem sóbrios. João, 67 anos, pratica os passos há 17. ;Mas estou há um dia sem beber e trabalho no AA por gratidão. Não fazemos diagnósticos, são reuniões terapêuticas;, disse o homem, que virou alcoólatra muito jovem. Em alguns casos, as reuniões precisam vir seguidas de orientação médica, para evitar complicações de abstinência e doenças relacionadas ao consumo de álcool. Na rede pública de saúde do DF, existem dois Centros de Atenção Psicossocial (Caps), que ajudam no tratamento de dependentes. Desde 2004, 5 mil pessoas foram atendidas. Hoje, são 13 por dia. Ontem, o Ministério da Saúde lançou o Plano Emergencial de Ampliação do Acesso ao Tratamento e Prevenção em Álcool e outras Drogas, que vai investir R$ 117,3 milhões em ações de prevenção e tratamento no país. Com isso, o DF contará com mais três Caps. No Hospital Universitário de Brasília (HUB), o Serviço de Estudos e Atenção ao Usuário de Álcool e outras Drogas é outro braço na luta contra a doença. ;É possível mudar desde que se busque ajuda. Os grupos de ajuda mútua, como o AA, são recursos que estão na comunidade e devem ser usados. Podem ser aliados ao tratamento médico;, orienta a assistente social do HUB, Cláudia Vargas. * Nomes dos membros do AA são fictícios
Os Doze Passos de AA baseados na experiência dos êxitos e fracassos dos primeiros membros 1º Admitimos que éramos impotentes perante o álcool, que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas 2º Viemos a acreditar que um poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade 3º Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O concebíamos 4º Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos 5º Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano a natureza exata de nossas falhas 6º Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter 7º Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições 8º Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados 9º Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-las significasse prejudicá-las ou a outrem 10º Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente 11º Procuramos através da prece e da meditação melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que o concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação a nós e forças para realizar essa vontade 12º Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes passos, procuramos transmitir esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades
Encontro Celebração dos 40 anos do AA no DF e Entorno Local: Teatro da Universidade Paulista (UNIP), 913 Sul Hoje 20h - Abertura 20h15 - Viver e conviver em AA ; palestrante: membro de AA 20h30 - Um dia de cada vez, na recuperação da família ; palestrante: membro do Al-Anon 20h40 - Por que sou AA? ; palestrante: membro de AA 20h50 - Programa de Recuperação de AA, sob o ângulo da Justiça - Palestrante: Ricardo Contardo, promotor de Justiça do TJDFT 21h10 - Medicina e Alcoólicos Anônimos - palestrante: médico Geraldo Gonçalves 21h30 - AA na Mídia - palestrante: jornalista Luiza Inez Vilela, da Rádio nacional Peça ajuda Alcoólicos Anônimos do DF e Entorno: 3226-0091 ou 3351-9644 Hospital Universitário de Brasília (HUB) - Serviço de Estudos e Atenção aos Usuários de Álcool e outras Drogas: 3448-5430 Centros de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas Guará: 3567-1967 e Sobradinho II: 3485-2286

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