Cidades

Psicólogos questionam profusão de tratamentos chamados de alternativos

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postado em 07/06/2009 08:18
A ciência de um lado, o espírito do outro. As discussões entre o certo e o errado, o verdadeiro e o falso, o sim e o não também alcançam a psicologia. Enquanto as terapias alternativas se popularizam em torno de ideias como curas milagrosas e tratamentos complementares aos convencionais, médicos e psicólogos brasilienses denunciam a concorrência desleal, a mercantilização da profissão e os riscos à saúde. Entidades vinculadas às profissões regulamentadas e previstas em lei também reclamam de falta de ética e exercício ilegal da atividade. A polêmica também virou tema de estudo acadêmico. O psicólogo Marcelo Nicaretta, doutorando em psicologia clínica pela Universidade de Brasília (UnB), desenvolve trabalho sobre a exploração de terapias alternativas ; chamadas de holísticas e exemplificadas por terapias florais, corporais, cromoterapia, reiki e outras (leia quadro) ; como mercado paralelo e charlatanismo. ;Há um conjunto de pessoas que oferecem serviços de psicoterapia, mas sem treinamento para tanto. Estão vendendo serviços psicológicos, que exigem no mínimo cursos de especialização;, alertou Nicaretta. O especialista não se posiciona contra os alternativos. Mas chama a atenção para os perigos de técnicas que não contam com regulamentação ou profissionais sem qualquer tipo de formação. ;Só o psicoterapeuta sabe a diferença entre neurose e psicose. Isso é muito importante para a escolha de determinado método. Os médicos, por exemplo, são proibidos pelo Conselho Regional de Medicina de prescrever Florais de Bach. Mas os alternativos podem, pois não são submetidos a nenhum órgão fiscalizador;, destacou. Os conselhos regionais de psicologia não incentivam os psicólogos a oferecer terapias estranhas à área original. Pelo contrário. Se têm diploma e registro profissional, podem ser acusados de antiéticos ; caso se apresentem como tais sem os documentos básicos para a atividade, acabam enquadrados em exercício ilegal da profissão. ;Os conselhos regionais da categoria só reconhecem terapias com base científica determinada. É dever do profissional da área usar métodos comprovados e claros;, explicou a presidente do Conselho Regional de Psicologia da 1ª Região (Distrito Federal), Marisa Monteiro Borges. Os direitos e os deveres do psicólogo estão previstos em lei de 1962. Desde então, as técnicas holísticas se popularizam a ponto de diversas delas se firmarem no mercado terapêutico ; qualquer uma delas pode ser encontrada em jornais e revistas com as mais variadas denominações. Mas, segundo Marisa, deve-se ficar atento aos perigos dos tratamentos alternativos. ;O grande problema é que algumas técnicas podem se mostrar desastrosas e com consequências graves para a cabeça dos pacientes. E, às vezes, quem tem de resolvê-las é um psicólogo;, avaliou. Demora fatal Especialistas dizem que não são raros os casos em que pacientes desperdiçam tempo em busca de tratamentos ditos inovadores e sem base científica. São homens e mulheres que se lançam na crença de curas milagrosas sem mesmo ter certeza do que o corpo precisa para deter o avanço de uma doença. Entre cores, cristais e essências florais, podem perder a chance de descobrir o tipo da doença logo no início e, assim, deixar de combatê-la por meio da medicina convencional. Para alguns, o resultado da procura por métodos alternativos pode ser fatal. Os parentes de um empresário de Brasília desconfiam que a demora em tentar descobrir um problema de saúde contribuiu para a morte dele. O drama familiar começou depois que ele passou a sentir dores constantes nas costas. Tinha 63 anos. Apesar do incômodo, que também se refletia nos membros inferiores, optou por não procurar ajuda médica. Começou tratamentos por conta própria. Fez terapia corporal, massagens e acupuntura ao longo de um ano. As intervenções funcionaram como paliativo, mas as dores nunca cessaram por completo. O empresário, então, se consultou com um ortopedista. Acabou encaminhado para um exame de ressonância magnética. Descobriu que o problema não era na coluna ; e, sim, no coração. Precisou de cirurgia. Ficou um ano e três meses no hospital. Mas morreu no ano passado, aos 65 anos, por conta de complicações no órgão doente. ;Acho hoje que, se tivesse procurado um médico desde cedo, talvez ele estivesse vivo e com o problema resolvido;, arriscou a mulher dele, uma administradora de empresa de 59 anos. Leia mais na edição impressa deste domingo (7/6) do Correio Braziliense

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