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Apesar de apelos, Ibama não libera animal silvestre

Duda, 11 anos, não come direito e nem quer ir à escola. Tudo porque fiscais levaram filhote de veado que ela criava como bicho de estimação

postado em 16/06/2009 08:18
Há uma semana, Lorrane Eduarda Duarte Medeiros, 11 anos, não come direito. Não quer mais brincar, ver televisão nem ir para a escola. A garota, antes risonha, anda cabisbaixa. Passa o dia sentada olhando para o chão, sem querer conversar com ninguém. Filha única do casal Teone Xavier Duarte, 35 anos, e Abílio José de Medeiros, 51, Duda se apegou a um bichinho de estimação nada convencional. Quando abre a boca, é para perguntar sobre Fada, o filhote de veado com quem conviveu no último ano e meio. O animal foi apreendido por fiscais do Instituto Nacional do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), na última terça-feira. Desde então, a família tenta, em vão, reaver o bichinho. Duda escreveu uma carta na tentativa de sensibilizar os fiscais. O documento foi protocolado no Ibama na última sexta-feira. Na frente e no verso de uma folha de caderno, ela contou como Fada entrou na vida dela. Com a carta, entregou desenhos, fotos e outras folhas onde fez declarações de amor ao bichinho. ;Eu tenho paixão por animais. Não sei quem vai ler o que estou escrevendo, mas peço a você que for ler, leia com o coração, pois minha história é verdadeira;, escreveu, com palavras inocentes, características da infância. Na carta, a menina conta que encontrou a filhote à beira da estrada, quando voltava de viagem com os pais. A família vinha da Bahia quando avistou dois animais caídos às margens da BR-020, perto da cidade de Alvorada do Norte (GO). Eram duas veadas que, aparentemente, tinham sido atropeladas. ;Paramos o carro e fomos correndo até lá. A mamãezinha já estava morta e o filhotinho caído no chão se batia todo, parecia que ia morrer;, relatou Duda. Teone, Abílio e Duda jogaram água na cabeça do animal, o enrolaram em uma toalha e trouxeram-no para a casa da família, no Gama. Mesmo sabendo que não deveriam, levaram o animal a um veterinário, que orientou os cuidados. O bicho estava muito machucado e demorou meses para melhorar. ;A gente dava leite com mastruz para ela e cuidava com todo amor dos machucados. Todo mundo dizia que ela ia morrer;, lembra a garota. O filhote resistiu. Ficou bom, recebeu o nome de Fada e virou o xodó da casa. Duda diz que é a irmãzinha que ela não teve. Na carta, a chama de ;anjinho de quatro patinhas;. A veada era companhia constante da menina. As duas passavam a tarde rolando na grama da chácara onde moram, que tem 3,5 mil metros quadrados. Fada era tratada como bicho de estimação. Dormia dentro da casa, recebia comida (vagem, quiabo e couve) na boca e tinha um cantinho reservado para ela no quintal. ;Era mais mansa do que um cachorrinho;, contou Teone. Crime ambiental O Ibama, porém, considera que os pais de Duda cometeram um crime porque é proibido criar animais silvestres em cativeiro sem autorização do órgão (veja O Que Diz a Lei). ;A atitude de terem pego o animal é louvável, mas não lhes dá o direito de ficar com ele;, ressaltou o chefe de Fiscalização, Hugo Américo Schaedler. O Ibama apreendeu Fada depois de receber uma denúncia anônima. Com a filhote, os fiscais levaram outros 30 bichos, papagaios e periquitos principalmente. ;Já existia um viveiro aqui quando comprei a chácara. Mas só queremos a veadinha de volta;, justificou Teone, que também recebeu multa de R$ 92 mil. Fada está no Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama, que fica na Floresta Nacional de Brasília (Flona). Os veterinários ainda não decidiram o que fazer com o bicho. Inicialmente, será treinado para reaprender a viver solto na floresta. Mas, se os técnicos perceberem que o filhote de veado não vai conseguir se adaptar, ele será levado para o Jardim Zoológico ou para um mantenedor de fauna ; uma pessoa autorizada a cuidar de animais apreendidos. ;O animal ainda está sendo avaliado. Mas ela foi pega no ambiente natural, nem sempre viveu em cativeiro. Os instintos não se perdem. Ela só terá que aprender a se virar;, defendeu Schaedler. Ele leu a carta de Duda, mas permanece firme na posição de que ela não pode ficar como bicho. ;Nenhum animal retirado da natureza é passível de regularização;, afirmou. De acordo com a legislação, quem quiser criar animais silvestres precisa comprá-los em criadouros autorizados pelo Ibama. Os bichos são vendidos com notas fiscais e, sem o documento, todos são ilegais. Enquanto o problema não se resolve, Teone está preocupada com a saúde da filha. Duda tem arritmia cardíaca e passou mal assim que os fiscais saíram da casa dela terça-feira. Ela sentiu tontura, começou a cuspir sangue e ter sangramentos no nariz. ;O médico disse que era emocional;, afirmou a mãe. Confira a matéria completa na edição impressa do Correio Braziliense

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