Cidades

Obra de Galeno amanhece coberta na Igrejinha

Artista chegou ontem para retomar a pintura dos painéis do templo, localizado na 307/308 Sul, e se deparou com a imagem de Nossa Senhora escondida por um pano branco. Ele atribui a atitude a fiéis

postado em 16/06/2009 08:23
A obra do artista Francisco Galeno na Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, na 307/308 Sul, amanheceu ontem parcialmente coberta. Segundo ele, fiéis que não gostaram da pintura usaram um pano branco e fita crepe para esconder a imagem estilizada de Nossa Senhora, antes da missa de domingo. Galeno, que foi ao local com intenção de retomar seu trabalho, retirou o pano, o que causou comoção em algumas religiosas. Uma delas saiu chorando, outra reclamou diretamente com o artista, que tentou acalmar os ânimos como pôde. ;Tem hora que acho as críticas irrelevantes, mas tem momentos em que a ignorância de algumas pessoas é tão forte que chego a ficar triste;, afirmou o artista. O pároco da Igrejinha não foi encontrado para comentar o assunto. Galeno deve retomar hoje a pintura dos painéis da Igrejinha. Segundo o superintendente regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Alfredo Gastal, a representação entregue no Ministério Público Federal (MPF), que pedia a suspensão dos trabalhos, não impede a continuidade da obra. ;A Igrejinha é frequentada por mais de 10 mil fiéis. Um abaixo assinado com 68 assinaturas (entregue ao MPF na semana passada) não é representativo o bastante. Não vou deixar que parem uma obra de arte por conta das reclamações de uns poucos. Não estamos na era das trevas;, ressaltou Gastal. O superintendente do Iphan ressaltou ainda que não recebeu nenhuma crítica por parte do clero sobre a obra. ;Mandei suspender os trabalhos, em um primeiro momento, em respeito ao pedido da procuradora Ana Paula Montovani. Mas, depois de conversar com outros procuradores, percebi que não havia motivos para tanto. Nossa obrigação é com o patrimônio nacional;, explicou. A explicação pedida pelo MPF a respeito da obra deverá ser encaminhada hoje pelo Iphan. Passos apressados A aposentada Dina Serra, 60 anos, não conteve a emoção ao ver a imagem de Nossa Senhora produzida por Galeno ser descoberta. Ela chorou em silêncio e saiu da Igrejinha com o passo apressado. ;Fico muito sensível com toda essa situação. Não sinto mais clima de oração lá dentro. Esse tipo de pintura é para clube, salão de festa. Parece um estandarte de escola de samba. Não tem a ver com a nossa religião;, desabafou Dina. Ela disse preferir a produção de uma arte mais tradicional, que não mudasse tanto a imagem de Nossa Senhora. ;É como se pegassem fotos antigas de família, de parentes que já se foram, e as adulterassem;, comparou. A professora aposentada Teresinha Faria, 65 anos, também não gostou de ver o retorno do artista à Igrejinha. Ela chegou a discutir com Galeno sobre a necessidade de fazer uma imagem mais tradicional. ;Já viajei pelo mundo todo e nunca vi nada parecido com isso. Não pode existir uma coisa dessa em igreja;, reclamou. Ela acredita que os desenhos do artista vão acabar por afastar os fiéis do local. ;A obra dele não inspira piedade. Quem é que vai rezar para Nossa Senhora da Pipa? É essa a imagem com que as crianças vão ter que crescer a partir de agora?;, questionou. Apesar das reclamações, algumas pessoas também aproveitaram o dia para admirar o trabalho de Galeno. A fisioterapeuta Vitória Diniz, 42 anos, chegou a tirar uma foto na parede ainda inacabada onde está a imagem de Nossa Senhora idealizada por Galeno. ;Gostei de tudo. Achei bem lúdico;, comentou. ;E ainda respeita o que foi idealizado por Volpi (Alfredo Volpi, artista italiano). O ideal seria se tivesse como resgatar o trabalho dele. Mas admiro a solução encontrada para trazer de volta a visão original da Igrejinha como imaginada por seus idealizadores;, acrescentou. Leia mais sobre o assunto no Blog da Cultura

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