Cidades

Quatro se submetem a teste álcool e direção. Nenhum passa na segunda vez

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postado em 18/06/2009 08:00
Lei seca. Ditas numa mesa de bar, essas duas palavras, misturadas a uns goles a mais, despertam defesas e críticas ferrenhas à legislação que impôs a alcoolemia zero para dirigir. Alguém vai garantir que ;dirige melhor depois de beber; ou que a vida inteira bebeu e assumiu o volante sem nunca ter causado um acidente. A convite do Correio, um grupo de quatro amigos topou fazer o teste supervisionado pelo Departamento de Trânsito (Detran) e pelo Instituto de Medicina Legal (IML). Na tarde do feriado de Corpus Christi (11 de junho), os quatro foram ao Kartódromo do Guará, cedido pela direção do local. Com perfis e gostos bem diferentes, os convidados são amigos de trabalho e se consideram ;bons de copo;. Para assegurar que ninguém dirigiria alcoolizado depois da prova, o Correio buscou e deixou todo mundo em casa. No trajeto até o kartódromo, foi possível notar um pouco da personalidade de cada um. O analista de sistemas Gustavo Lima Ferreira, 26 anos, é o mais falante e o mais empolgado da turma. A assistente de atendimento Adriana Tereza de Oliveira, 40, não é muito diferente. Já o analista de sistemas Donald Formiga Leite Júnior, 29, e a administradora Adriana Brito, 26, são mais tímidos. Na entrevista antes do teste, dois deles admitiram que, apesar da lei, continuaram dirigindo depois de beber. De forma geral, passaram a tomar o que chamam de ;cuidados básicos;. Optam por programas perto de casa e um do grupo é eleito para dirigir. Nesse caso, o escolhido não fica sem beber, mas diminui a quantidade e, em determinado momento, para de ingerir bebida alcoólica. O medo da punição ; como perder a carteira de motorista por um ano ou ser levado para a delegacia ; mudou o hábito de um dos voluntários. Depois da lei seca, ele passou a entregar as chaves do carro para a mulher que não bebe. E apenas uma integrante do grupo garantiu que não tinha o hábito de pegar o volante alcoolizada, mesmo antes da lei. Foram oferecidas bebidas da preferência de cada um: uísque, vodca e cerveja. Os quatro tomaram café da manhã e almoçaram antes de ir para o kartódromo. Só começaram a beber após assoprar no bafômetro e dar duas voltas na pista: uma de reconhecimento e outra com tempo cronometrado. Além do teste de direção ; coordenado pelo chefe de Fiscalização do Detran, Francisco Saraiva ;, o grupo se submeteu à avaliação clínica, feita pelo diretor do IML, Malthus Fonseca Galvão. O médico verificou a coordenação motora, o equilíbrio e a capacidade de raciocínio dos voluntários. Sabe aquela história de fazer o quatro levantando uma das pernas? Esse costuma ser um dos parâmetros usados pelo médico do IML para atestar a embriaguez. Mas existem outros: experimente, por exemplo, ficar de pé com os calcanhares colados e os braços junto do corpo. Feche os olhos e espere cinco segundos, sem cambalear. Acredite, você não vai enganar os especialistas do IML. Goles Depois da primeira fase, quando todos sopraram no bafômetro, passaram por avaliação clínica e dirigiram sóbrios, Gustavo, Donald, Adriana Tereza e Adriana Brito beberam por cerca de duas horas e meia. Nesse período, comeram petiscos. Depois, os exames foram repetidos (veja arte). O infografista do Correio Amaro Júnior foi carona dos voluntários. Além de serem reprovados no bafômetro e no teste clínico, os amigos tiveram comportamentos comuns a condutores que dirigem alcoolizados, segundo relataram Saraiva e Fonseca. Os voluntários negligenciaram o volante ; o termo técnico significa conduzir de forma descoordenada, indo de um lado ao outro da pista ; e dois deles, Gustavo e Adriana Tereza, só admitiram falhas depois de muita argumentação. Alguns esqueceram-se de puxar o freio de mão, colocar o cinto de segurança, verificar os retrovisores. Houve até quem excedesse o limite de velocidade estipulado pelo fiscal. Atitudes que, em situação real nas ruas, poderiam ser fatais. No fim, os avaliadores analisaram a performance dos bons de copo. ;A realização do teste comprovou o quanto é prejudicial o ato de beber e dirigir. Os motoristas alcoolizados colocam em risco a integridade física dos demais condutores e pedestres. Resta aos motoristas se conscientizarem de que beber e dirigir é uma atitude irresponsável, negligente e até criminosa, dependendo do grau do teor alcoólico;, afirma Saraiva. Fonseca Galvão concorda: ;É um teste sem normatização científica, mas mostra claramente que os voluntários, mesmo sabendo que tinham bebido, não acreditavam nas alterações percebidas pelos avaliadores. Isso demonstra que quem bebe perde a noção do estado em que se encontra. Perde a coordenação motora e a atenção, o que o incapacita para dirigir com segurança. Os voluntários agora têm certeza disso. Esperamos que outras pessoas possam aprender com a experiência deles;.
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