postado em 20/06/2009 08:42
'No palco da vida encontrava-se a morte', ecoou, onipresente na escuridão do auditório, a voz da narradora da peça. Na plateia, estudantes de ensino fundamental e médio ouviam com atenção palavras que faziam todo sentido para eles. Mesmo os mais novos permaneciam em silêncio no teatro improvisado. Meninos e meninas de famílias humildes de Samambaia, acostumados a sentirem na pele as agruras da vida e que tiveram a chance de refletir sobre um futuro melhor, compunham o público. Tudo graças a um concurso realizado pela Regional de Ensino e a Promotoria de Justiça da cidade onde moram.
Nove escolas participaram dessa competição, que envolveu aproximadamente 2 mil estudantes. O 1º Concurso Cultural dos Conselhos de Segurança Escolar de Samambaia 'A paz que se constrói' terminou ontem em grande estilo, com apresentações de peças teatrais, musicais, danças, maquetes e desenhos. 'Nossa ideia com esse evento é ultrapassar os muros da escola e ensinar esses jovens dentro de uma cultura da paz;, ressaltou a promotora Lenna Nunes Daher. 'Trabalhamos com os alunos o respeito ao próximo, aos professores, a tolerância às diferenças dos outros, além do combate ao bullying (atitudes agressivas que o ocorrem sem motivação evidente, ao uso de drogas, de armas, entre outros assuntos', acrescentou.
O diretor da Regional de Ensino de Samambaia, Antônio Magno, ficou animado com o resultado do trabalho. ;Nossa intenção é fazer cada vez mais eventos como esse;, comentou. O Centro de Ensino Médio (CEM) 304 e a Escola Classe (EC) 510, os dois estabelecimentos de ensino vencedores do concurso, ganharam um aparelho de data show. Cada escola levou o prêmio na categoria em que concorreu: apresentação de painéis e maquetes ou apresentações teatrais e musicais.
A turma do CEM 304 levou ao palco uma peça levemente inspirada no clássico Romeu e Julieta, de Shakespeare, mas ambientada em uma realidade mais próxima da vivida pelos estudantes. No enredo, Romeu dá lugar a João Pedro e Julieta a Maria Clara, dois jovens que sonham em viver um amor perfeito, mas acabam como vítimas de gangues da cidade. Tudo contado por uma narradora que escrevia a história do casal enquanto os garotos e garotas atuavam no palco em meio a muita música e danças, como o break.
O público aplaudiu, entusiasmado, as acrobacias dos dançarinos - proezas realizadas por jovens como o aluno do 1º ano ensino médio Wagner Júnior Moreira Rocha, 17 anos. Em meio a cambalhotas, passos rápidos e muita ginga, o adolescente sabe como empolgar até mesmo os outros dançarinos. ;Pratico break desde os 14 anos. Acho uma dança importante para a cultura, apesar de ainda ter um preconceito de pessoas que nos julgam marginais só pelo jeito de nos vestirmos', afirmou Wagner, que, em setembro, embarca para a Suíça, onde irá participar de um campeonato internacional de break. 'Estou muito ansioso, treinando praticamente todo dia', detalhou.
Ensaios
Para que a peça saísse do modo imaginado pelo professor de História Adilson Rocha, 40 anos, os estudantes precisaram praticar muito. 'Os treinos foram puxados pra caramba', contou Rafael Barros de Melo, 16 anos, que fez o papel de João Pedro na trama. 'Até no sábado à noite nós participamos de ensaios';, acrescentou Jayne da Silva, 17 anos, que interpretou Maria Clara. Após o término da trágica história do casal de namorados, o elenco se reuniu, rezou um Pai-nosso com o público e deixou seu recado: 'A paz nas escolas é possível, sim! Depende de mim, depende de você, depende de todos nós'.
As outras escolas participantes do concurso também não fizeram feio. Os estudantes de 5ª a 8ª série do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 507, por exemplo, apresentaram um espetáculo de dança com coral. No total, 41 meninos e meninas participaram do espetáculo, que teve como trilha sonora a música Terceiro milênio, do cantor Leonardo. 'Queremos um mundo sem violência e o homem com mais consciência', declamou o professor Manoel Ferreira Gomes, um dos organizadores do CEF 507. 'Nosso maior objetivo é trabalhar a disciplina dessas crianças, desde os alunos mais problemáticos até os bonzinhos. Além disso, procuro mostrar para eles que nós não viemos aqui só para brincar, mas também representar a Quadra 507', assinalou o professor. Lições que ele acredita serem capazes de tirar os jovens do mau caminho. Talvez, assim, os índices de violência caiam um pouco no ambiente escolar.