Cidades

Chineses que comandam pirataria no Brasil usam bebês para evitar a expulsão

Renato Alves
postado em 22/06/2009 08:25
Chineses clandestinos que comandam a pirataria em Brasília usam bebês para permanecer no Brasil. Homens e mulheres asiáticos são vistos com as crianças em qualquer ponto do Cruzeiro e da Feira dos Importados, onde se estabeleceram com a venda de produtos falsificados, como revelou o Correio na edição de ontem. A Polícia Federal investiga em Goiás um esquema de venda de registro de crianças brasileiras, descendentes de chineses, para estrangeiros ilegais. Eles compram os documentos porque, ao se casarem com um brasileiro ou terem um filho nascido no país, não podem ser deportados. Apenas 1% dos 411 chineses cadastrados regularmente em Brasília pela Polícia Federal tem visto de negócios ou turismo. Mais de 350, o correspondente a 90%, conseguiram o carimbo para ficar no Brasil graças ao suposto filho brasileiro. Esses só procuraram a PF, em casal, para pedir o visto de permanência, com o bebê no colo. Apresentaram passaporte sem o carimbo de entrada no país ou uma segunda via de passaporte, confeccionada na Embaixada da China, em Brasília, com a alegação de ter perdido o anterior. Para os agentes, esse é um forte indício de que estavam ilegais na cidade. Ninguém na Polícia Federal dá entrevista sobre os estrangeiros clandestinos. Mas o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto, confirma que há uma investigação em andamento sobre a atuação da máfia chinesa na capital da República. Sem detalhar a ação, adianta que os chineses em situação irregular serão expulsos do país. "Nós, brasileiros, não estamos acostumados com esse tipo de atitude. Mas é importante ressaltar que os chineses clandestinos movimentam um negócio criminoso(1), com falsificação, contrabando de armas, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Um esquema do qual também são vítimas, escravos%u201D, pondera. Barreto diz ser impossível estimar quantos chineses moram de forma clandestina em Brasília. %u201CJustamente pela condição, não dá para termos tal número. Mas, certamente, é muito maior que a quantidade de legalizados%u201D, observa. Em todo o país, há 40.199 chineses cadastrados na PF. Do total, 29.802 têm visto permanente, 3.587 estão como temporários (a turismo ou negócios) e 6.810 de forma provisória, aguardando resposta do pedido de visto definitivo. Os dados são do Sistema Nacional de Estrangeiros (Sincre). # Suspeitos presos A Superintendência da PF em Goiás investiga, há dois anos, fraude em registros de crianças e de paternidade, usados para evitar a deportação de chineses ilegais. Os agentes suspeitam que o esquema beneficie orientais que moram em todo o país. Em junho de 2008, o corpo de um bebê chegou a ser exumado para coleta de DNA e comprovação da paternidade. Quatro casos já foram confirmados e outros seis são apurados. Presos em julho de 2007 por vender bolsas falsificadas, a chinesa Huang Yu Xin, 30 anos, e o marido dela, Hianyue Wang, 47, são apontados como responsáveis por encontrar e convencer pais dispostos a deixar os filhos serem registrados em nome de terceiros para que estes possam legalizar a permanência no Brasil. Os dois receberiam US$ 8 mil (cerca de R$ 16 mil) por registro falsificado. Policiais federais desconfiaram do esquema por causa da presença constante do casal chinês na Delegacia de Imigração da PF em Goiânia, orientando outros chineses sobre o pedido de visto permanente. A exemplo de Brasília, também é crescente o interesse de chineses por Goiânia, onde eles já são mais de 4 mil. A presença da comunidade oriental motivou uma ampliação das investigações. # Menina morta A pedido da PF, em 6 de junho de 2008, foi feita a exumação do corpo de Vitória Wang. Ela morreu em Goiânia antes de um mês de vida. A menina havia sido registrada em nome da mãe biológica Alzhen Chen e de pai falso, Xianyue Wang, que substituiu Ye Min Fei no registro. Alzhen Chen morreu após o parto, no Hospital Materno-Infantil da capital goiana, de complicações de eclâmpsia. O caso da menina Vitória Wang é um dos quatro em que foi comprovada a falsidade ideológica. A PF começou a investigar o esquema em Goiânia após receber denúncia da tia de Vitória. Ela e a mãe da menina trabalharam por dois anos para Huang Yu Xin e Hianyue Wang, o casal suspeito de liderar o esquema criminoso. 1 Em São Paulo, por exemplo, a máfia chinesa é acusada de ameaças e mortes de autoridades. O grupo criminoso pode estar por trás de 20 execuções. Membros da quadrilha comandam a extorsão de comerciantes chineses instalados informalmente na capital paulista, sequestros e tráfico de armas. NO MATO GROSSO DO SUL Em novembro de 2007, uma moradora de Ponta Porã (MS) vendeu o filho de 6 meses a um casal de chineses residente na capital paulista. Os asiáticos pagaram R$ 2 mil pela criança. A transação foi interrompida dias depois, quando a Polícia Federal descobriu o caso e foi a São Paulo recuperar o bebê. Comente esta reportagem, escrevendo para leitor.df@diariosassociados.com.br Para saber mais leia na edição impressa de hoje

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