postado em 24/06/2009 08:14
Descobrir o que faz a boa escola é uma grande preocupação dos pais. E para ajudar nessa tarefa, o Correio desvenda hoje o segredo do sucesso de instituições de ensino que se destacam no Distrito Federal. Na comparação entre os colégios aparecem marcas comuns a realidades completamente distintas e que podem dar uma pista sobre o caminho da excelência. Conversas com professores, diretores e alunos das melhores escolas do DF, no entanto, mostram que não existe uma receita pronta. Cada colégio tem características individuais que se combinam e resultam no maior aprendizado da meninada.
A qualificação dos professores está presente nos quatro casos analisados pelo jornal: Sigma(1), Galois(5), Colégio Militar(2) e Setor Oeste(4) valorizam o investimento constante na carreira. Tanto que - mesmo com o abismo existente entre as faixas salariais - a especialização influencia na remuneração dos docentes. A regra vale até para os dois colégios públicos que usam a titulação dos professores no Plano de Cargos e Salários.
Para a comparação, foram escolhidos os colégios cujo desempenho dos alunos se destacou nas avaliações feitas pelos governos local e federal. O Galois e o Sigma se revezam no primeiro lugar no Exame Nacional do Ensino Médio(3) como os dois melhores do DF. Em 2008, o Galois ficou em primeiro com 72,63 pontos, numa escala de zero a 100. O Sigma, depois de três anos seguidos no primeiro lugar, terminou em segundo, ano passado, 0,4 ponto atrás.
O Colégio Militar ficou em primeiro lugar entre todas as escolas públicas avaliadas no Enem. Já o Setor Oeste assumiu a ponta no Sistema de Avaliação do Desempenho das Instituições Educacionais,(6) divulgado mês passado, e terminou o Enem em primeiro lugar entre todas as escolas da rede pública do governo local. Mesmo estando entre os melhores colégios do DF, vale destacar que o desempenho dos alunos das duas escolas públicas ficou quase 20% abaixo dos estudantes de Sigma e Galois.
Cobrança
Os quatro colégios também apostam na exigência constante dos alunos. No Setor Oeste, por exemplo, anotação e correção dos cadernos vale nota. No Colégio Militar, a rotina de estudos é tão puxada que os alunos ocupam a biblioteca na hora do recreio. No Sigma, os estudantes do 3º ano do ensino médio tem 22 professores diferentes para que, cada um, possa aprofundar os conteúdos específicos. E o Galois faz prova para selecionar as crianças e adolescentes aptos a acompanhar o ritmo das aulas antes da matrícula dos novos estudantes.
Por fim, mesmo com inúmeras dificuldades de recursos, para os dois colégios públicos, e de agenda, para os particulares, os quatro investem em projetos fora da rotina escolar. No Sigma e no Galois, são organizadas viagens para os alunos desenvolverem o conteúdo visto em sala de aula. Em julho, 150 alunos do Sigma, divididos em três grupos, seguirão para Bahia e para o Pantanal em busca de vivenciar as aulas de biologia, geografia e história. As viagens custam, em média, R$ 1.300 para cada aluno. "Além disso, trabalhamos com projetos dentro da própria escola como a simulação de reuniões de organismos internacionais ou na oferta de aulas de cálculo para os estudantes", explica Ronaldo Yungh, diretor pedagógico do Sigma.
Enquanto isso, quase 30 estudantes do Galois seguirão para Paris e Londres, por US$ 3.800, para passar o mês treinando línguas. "Temos, por exemplo, uma parceria com um colégio da Inglaterra. Os adolescentes passam o mês na casa de uma família inglesa e vivem lá como cidadãos ingleses", explica Dulcinéia Marques, dona do colégio.
Peças teatrais
Sem dinheiro até para pagar o ônibus para levar os alunos para passeios no DF, o Setor Oeste organiza projetos dentro da própria escola. Na última quarta-feira, por exemplo, o conteúdo do Programa de Avaliação Seriada (PAS) sobre a Ópera do malandro era discutido pelas turmas do 1º ano do ensino médio em encenação teatral. "Quando a gente trabalha com orçamento apertado, a criatividade e o empenho dos professores é que fazem a diferença", avalia o diretor Júlio Gregório.
Coerente com a ideologia do Exército, o Colégio Militar trabalha com projetos de formação no esporte e reforço do conteúdo e da disciplina. "Temos banda marcial e inúmeras ativadas esportivas que acabam sendo fundamentais na formações dos jovens. Alguns até competem nacionalmente", observa o coronel Wagner Oliveira Gonçalves, comandante do Colégio Militar.
1- SIGMA
2º lugar no Enem 2008 5 mil alunos 127 professores Duas unidades Ensinos fundamental I (1º a 5º ano) e II (6º a 9º) e ensino médio
2- COLÉGIO MILITAR
1º lugar no Enem entre escolas públicas do DF
3.400 alunos
166 professores civis e 87 docentes militares
Uma unidade
Ensino fundamental II e médio
3- ENEM
Criado em 1998, o exame avalia o desempenho do estudante ao fim da escolaridade básica. Podem participar do exame alunos que estão concluindo ou que já concluíram o ensino médio em anos anteriores. A partir deste ano, ele será usado por, pelo menos, 35 instituições federais no processo seletivo.
4- SETOR OESTE
1º lugar no Enem (entre escolas da rede do GDF) e campeão do Siade 2008 1.050 alunos
30 professores
Uma unidade
Ensino médio
5- GALOIS
1º lugar no Enem 2008
3.500 alunos
200 professores
Três unidades
Ensinos fundamental I e II, ensino médio e cursinho
6- SIADE
Sistema criado pelo GDF em 2008 para verificar a qualidade do ensino oferecido pelas 620 escolas públicas. Além de análise de indicadores de evasão e repetência, leva em conta o desempenho de alunos em ciências, matemática e português nas 2ª, 4ª, 6ª e 8ª séries do ensino fundamental e no 3º ano do ensino médio.