postado em 24/06/2009 18:36
A pobreza no Distrito Federal está concentrada em 15 das 30 regiões administrativas existentes. Nesses lugares, estão 62.332 lares onde a renda domiciliar por pessoa não ultrapassa dois salários mínimos. Em alguns, a situação é crítica: a renda domiciliar per capita da maioria dos habitantes não ultrapassa a marca irrisória de meio salário. Os dados sobre esses locais foram levantados pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan).
As cidades onde vivem os habitantes menos favorecidos do DF são Brazlândia, Samambaia, Estrutural Sobradinho II, Riacho Fundo I, Riacho Fundo II, São Sebastião, Santa Maria, Paranoá, Varjão e Planaltina, Ceilândia, Itapoã, Recanto das Emas, Gama e Riacho Fundo. Em conjunto, elas somam 260 mil habitantes, o que corresponde a 10% da população do Distrito Federal.
A Codeplan dividiu o estudo em etapas e divulgou nesta quarta-feira (24/6) o resultado da primeira delas, que demorou seis meses para ser concluída. Ele traz, além do número mapa da pobreza no DF, informações mais detalhadas - como faixa etária, bens que a família possui, acesso a saneamento básico - sobre cinco das 15 localidades onde se concentra a renda mais baixa. São elas Sobradinho II, Brazlândia, Samambaia, Estrutural e Riacho Fundo II.
Resultados relativos às demais cidades serão divulgados no início e no fim de julho deste ano. Foram consideradas para a pesquisa as casas que, além de renda domiciliar por pessoa inferior a um salário mínimo, tinham consumo de energia mensal máximo de 80 Kw.
Sobradinho II e Estrutural
Entre as cinco cidades pesquisadas na primeira etapa do levantamento da Codeplan, Sobradinho II e Estrutural são as que registram os piores índices sociais.
A Estrutural é a região administrativa que concentra as menores rendas familiares entre as cinco cidades do primeiro grupo analisado, que inclui ainda Brazlândia, Samambaia, Sobradinho II e Riacho Fundo II. Dos domicílios situados na região administrativa, 40,5 % recebem até dois salários mínimos, seguida por Sobradinho II (32,2%), Brazlândia e Samambaia (26,5%) e Riacho Fundo II (21,8%).
Já Sobradinho II tem o maior número de moradores com renda per capita de até meio salário mínimo. São 81% dos habitantes, seguido pela Estrutural, 75,5%, Samambaia, 50%, Brazlândia, 30,5%, e Riacho Fundo II, 29,9%. A maior parte dos moradores de baixa renda trabalha com serviços gerais %u2013 comércio, construção civil e serviços domésticos. Mais de um terço dos postos de trabalho é ofertado nas próprias cidades, seguido pelo Plano Piloto.
Perfil dos moradores
A Estrutural é, das cinco regiões administrativas estudadas, a que concentra a população mais jovem. Apenas 3% são idosos com mais de 60 anos. Lá, 40% dos moradores têm entre zero e 14 anos. No DF, a média é de 25%.
Grande parte dos moradores são nascidos no DF: 54% em Sobradinho II, Samambaia, Riacho Fundo II e Brazlândia, e 45% na Estrutural. Entre os que vieram de fora, 75% são nordestinos. Em Brazlândia, 10,8% são goianos e, em Sobradinho II, 13,1% são nascidos no Rio de Janeiro.
Os negros, pardos e mulatos também compõem a maioria da população dessas cidades: 91% dos moradores da Estrutural e 64% do Riacho Fundo. No DF, a média é de 51,8%.
Habitantes por domicílio
Uma peculiaridade nas cinco regiões é o número de moradores por domicílio. Enquanto a média do DF é de 3,7 habitantes por residência e a nacional, 3,4, em Brazlândia, Samambaia, Riacho Fundo II, Sobradinho II e Estrutural a média é de 4,2 moradores em cada casa.
Sem esgoto
Outro dado que chama a atenção é relativo à rede de esgoto na Estrutural. Apenas 0,7% dos domicílios pesquisados na cidade contam com esgotamento sanitário. Quase 70% da população de baixa renda se utiliza de fossa séptica e 30,1%, da chamada fossa rudimentar. Samambaia é a única das cinco regiões pesquisadas cuja população (1,9%) ainda queima ou enterra o lixo doméstico. Nas demais, a coleta é feita pelo Serviço de Limpeza Urbana (SLU).
Bens
Todas as cidades pesquisadas têm grande posse de automóveis. Riacho Fundo II concentra 35,6% dos moradores com carro, seguido de Brazlândia (26,7%), Sobradinho II (20%), Samambaia (18%) e Estrutural (14,7%). As bicicletas estão presentes em 23% das moradias pesquisadas no Riacho Fundo II, 18,2% na Estrutural e 16,2% em Sobradinho II.
Com relação aos bens domésticos nas residências de baixa renda, o fogão está presente em 91% dos domicílios, a geladeira, em 90% e o ferro elétrico, em 85%. Celulares na modalidade pré-paga são bastante utilizados na maioria das residências, sendo que na Estrutural estão presentes em 46% delas. Os celulares pós-pagos têm pouca representatividade, aparecendo mais no Riacho Fundo II (5,7%).
Quase 80% dos domicílios têm TV, sendo considerável a presença de modelos de plasma ou LCD em Sobradinho II, Riacho Fundo II e Estrutural. Também foram verificadas residências onde os moradores possuem grande concentração de notebooks no Riacho Fundo II, Brazlândia e Estrutural. A internet paga está concentrada principalmente em Brazlândia e na Estrutural.
Subsídio
"Vamos concluir a segunda etapa (da pesquisa) nesta semana, e a terceira será encerrada na próxima. Conhecendo o dia a dia e o perfil dessa parcela da população, o governo saberá o que tipo de políticas adotar a curto, médio e longo prazos", afirma Rogério Rosso, presidente da Codeplan. Dos 62,3 mil domicílios com renda abaixo de dois salários mínimos que a pesquisa levantou, uma amostra de 2.311 fez parte desse estudo mais apurado. Os resultados, segundo Rosso, vão ajudar na aplicação de políticas públicas.