Cidades

Cirurgião acusado pela morte de Maria Cristina Alves da Silva garante inocência

Adriana Bernardes
postado em 25/06/2009 08:31
Entre uma cirurgia e outra o médico, Lucas Seixas Doca Júnior atendeu a reportagem para comentar as denúncias de homicídio e falsidade ideológica feitas pelo Ministério Público. Na porta do centro cirúrgico do Hospital Doutor Juscelino Kubitschek, no Sudoeste - onde ele realizou duas operações de vesícula e duas de redução de estômago ontem -, o cirurgião-geral lamentou o processo e garantiu ter provas irrefutáveis de sua inocência. "Segui todos os protocolos. Ela foi avaliada por uma equipe multidisciplinar. Todos os profissionais a liberaram para o procedimento", declarou. Lucas Seixas garantiu que a paciente tinha IMC acima de 35 e apresentava quadro clínico compatível com a indicação de gastroplastia videolaparoscópica de Capella Volpe. "Ela era dislipidêmica, ou seja, tinha triglicérides e colesterol altíssimos, gordura no fígado, enzimas hepáticas alteradas fazendo lesão hepática e, no futuro, 20% desses pacientes podem se transformar em cirróticos", explicou.[SAIBAMAIS] Mas, segundo denúncia do MP, na primeira consulta, em 7 de janeiro de 2008, o médico teria diagnosticado IMC de 31. Em 15 de fevereiro, um dia após a segunda cirurgia -para diagnóstico -, "o denunciado anotou na ficha de evolução médica da vítima, IMC= 36, alterando a verdade dos fatos", indicou o texto. Lucas Seixas nega que tenha alterado o IMC da paciente. E diz que Maria Cristina ainda tinha "lesões articulares de joelho e na coluna, e tomava altas doses de anfetamina, Acompler, que é um medicamente proibido, e Diazepan". "Já fiz mais de 4 mil cirurgias de videolaparoscopia, desde 2003 foram cerca de 1.050 bariátricas (redução de estômago). Tive e vou ter complicações, jamais prometi aos meus pacientes 100% de sucesso. Prometo que ele terá o médico ao lado dele em qualquer circunstância", declarou Lucas Seixas. Na denúncia contra o médico consta ainda que ele teria incluído, sem permissão, dados de um outro profissional em sua dissertação de mestrado apresentada na Universidade de Brasília e defendida em 13 de junho de 2003. Lucas Seixas disse que tudo não passou de uma confusão. "Não usei dados dizendo que eram meus. Numa tese, o que importa é a metodologia. Não é o conteúdo e a forma. Um colega autorizou que eu usasse os dados dele. Depois recusou, mas estava tudo feito, pronto e foi. Eu declinei disso, tenho créditos pagos e vou pular para o doutorado", disse. Também de acordo com a denúncia do MP, o médico teria entregado à UnB um currículo no qual disse ser membro associado do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. A entidade nega. Ele também não é associado à Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. CFM O vice-corregedor do Conselho Federal de Medicina (CFM), José Fernando Maia Vinagre, não quis comentar o caso envolvendo Lucas Seixas por não ter conhecimento da denúncia. Mas explicou quais são as punições previstas para profissionais que desrespeitam as resoluções do conselho. "Pode ser uma advertência ou até a cassação do direito de exercer a profissão", explicou. Tanto o CFM quanto o Conselho Regional de Medicina do DF (CRM) só informam se há queixas contra os profissionais depois que os casos foram transitado em julgado e as punições aplicadas têm caráter público. Nos casos em que as sanções são sigilosas, não chegam ao conhecimento da sociedade. Fac-símiles mostram duas associações afirmando que o médico Lucas Seixas não pertence aos seus quadros O número 1.050 operações para redução de estômago é o total aproximado que o médico Lucas Seixas Doca Junior afirma ter realizado desde 2003 4 pacientes morreram em função de complicações (embolia pulmonar ou vazamento de líquido), informa o cirurgião Memória Caron vai, de novo, a júri popular No próximo dia 7, o ex-médico Denísio Marcelo Caron vai a júri popular no Tribunal do Júri de Taguatinga pelas mortes da universitária Graziela Murta de Oliveira, 26 anos, e da dona de casa Adcléia Martins, 39. As duas morreram em 2001 e 2002, respectivamente, durante cirurgias plásticas executadas por Caron num hospital de Taguatinga. Em abril deste ano, Caron foi condenado pelo Tribunal do Júri de Goiânia a oito anos de prisão em regime semiaberto e ao pagamento de indenização de R$ 30 mil à família de Janet Virgínia Novais Falleiro. A advogada morreu em decorrência de complicações de uma lipoescultura feita por ele em 14 de janeiro de 2001. A primeira denúncia oficial contra o ex-médico Denísio Marcelo Caron ocorreu em 12 de junho de 2003, quando o cirurgião plástico se viu acusado pela morte de cinco mulheres em decorrência de erros em cirurgias. As mortes, registradas entre 2000 e 2002, envolviam duas moradoras de Taguatinga entre as vítimas. As investigações do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios e do Ministério Público de Goiás também revelaram que Caron usava uma licença falsificada de especialização em cirurgia plástica %u2014 o diploma de medicina era verdadeiro. O Tribunal de Justiça do DF decidiu levar Caron a júri popular em maio de 2003 sob a acusação de homicídio doloso (com intenção de matar). O entendimento até então era o de que ele assumiu o risco de matar ao praticar uma especialidade que não dominava. Um ano antes, teve o registro de médico cassado pelo Conselho Federal de Medicina por dois motivos: as cinco acusações de homicídio e mutilações em 40 mulheres. As vítimas tiveram de fazer cirurgias reparadoras para amenizar os estragos. Entre as mais comuns, auréolas dos seios fora do lugar e cortes malfeitos. Caron também tem histórico diverso. Responde a processos por estelionato, desvio de dinheiro público, formação de quadrilha, furto, uso de documentos falsos e falsificação de documentos. Todos tramitam na Justiça de Sâo Paulo.

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