postado em 26/06/2009 07:44
O câncer está matando mais. A cada quatro horas, um brasiliense é vencido pela doença. O número é quase 65% maior que o de 10 anos atrás. E o mais grave, a população do Distrito Federal cresceu apenas 35% no mesmo período. Os dados são do Instituto Nacional do Câncer Inca(1) que, a pedido do Correio, mapeou a mortalidade pela doença dos moradores da capital do país durante uma década. Por falta de registros mais recentes, a comparação dos dados se deu entre os anos de 1996 e 2006.
Em 1996, 1.072 brasilienses morreram de câncer. Em 2006, foram 1.753. A população passou de 1, 8 milhão para 2,4 milhões no período. O cenário é mais alarmante para as mulheres, que, pela primeira vez na história do DF, são mais vitimadas que os homens (veja quadro). Para a oncologista Clarissa Baldotto, do Inca, ainda é necessário mais tempo para conseguir definir as causas desse crescimento. "Temos algumas hipóteses, como o fato das mulheres estarem vivendo mais que os homens", explica. "Como o câncer é uma doença degenerativa, quem vive mais está mais sujeito", acrescenta.
Antes fosse essa a única explicação para a morte de mulheres por câncer. Em todo o país, o diagnóstico de câncer de colo de útero e de mama é muito tardio. "A mortalidade por causa desses cânceres é maior que em países desenvolvidos", completa a médica.
O câncer que mais mata as mulheres no DF é o de mama. Em 2006, foram 158 pessoas. A detecção precoce pode curar mais de 90% dos casos. A prevenção é ainda mais importante no caso do câncer de colo de útero. A doença pode nem chegar a se desenvolver se a mulher sexualmente ativa fizer o exame papanicolau periodicamente. Em 2006, ela causou a morte de 61 brasilienses.
No caso dos homens, as principais preocupações estão relacionadas ao câncer de próstata, que matou 113 brasilienses em 2006, e ao de pulmão, que matou 117. Os dois também poderiam ter os números diminuídos. O primeiro, com os exames regulares para a próstata. O segundo, com a redução no hábito de fumar.
Luta
Histórias de luta pela vida são comuns nos corredores da Defensoria Pública para a Saúde, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). Foi lá que a família de Maria Verlande, 68 anos, conseguiu os remédios que podem significar a sobrevivência da dona de casa. Há apenas dois meses, ela descobriu que tinha câncer no rim. "Para tentar barrar a metástase (quando o câncer se espalha), entramos na Justiça e conseguimos um medicamento novo para minha mãe", conta Dolores Verlande.
O mesmo caminho foi buscado pelo casal Maria Ângela Ribeiro, de 40 anos, e Marco Aurélio do Amaral, 43. Os dois foram à Defensoria esta semana para tentar, na Justiça, adquirir um remédio de contraste para que a mãe de Maria Ângela possa fazer a radioterapia no Hospital de Base. "Minha mãe está com câncer na garganta e, sem a radioterapia, todo o esforço feito com a quimio pode se perder", conta a filha. "Já era para ela ter recomeçado o tratamento há dois meses e a gente sabe o que pode significar dois meses em tratamento de câncer. Pode ser a diferença entre vida e morte".
1- INCA
O Inca foi criado em 1937 pelo presidente Getúlio Vargas para combater o câncer no país. Em 2000, o órgão vinculado ao Ministério da Saúde redefiniu sua missão, que recebeu no enunciado também a palavra prevenção, já que é ela a principal arma contra a doença.
Eu fiz ...
Topei o desafio de fazer parte do Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea. O procedimento foi simples. Preenchi uma ficha no Hemocentro. Logo depois, os técnicos retiraram 10ml de sangue. Pronto. Meus dados genéticos já estão disponíveis para que o Inca possa cruzar com as informações dos doentes. Encontrada a compatibilidade, terei que me internar para retirar uma pequena quantidade da minha medula. Nada comparado à chance de se salvar uma vida. (Erika Klingl)
Transplante que salva
Atualmente, o câncer não é uma sentença de morte. A leucemia, que é o câncer no sangue, pode ser curada por meio de um transplante de medula. De acordo com dados do Inca, em 2006, a doença fez 57 vítimas no DF. Não precisava ter sido assim. O problema é que a espera dos pacientes por um transplante de medula óssea pode ser longa.
No Brasil, 1,5 mil doentes estão na fila para encontrar um caso compatível no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), que possui um milhão de pessoas cadastradas. O número está muito longe do ideal. Isso porque a chance de compatibilidade entre doador e receptor, no país, é de uma em um milhão, em decorrência da mistura de raças dos brasileiros.
No DF, os doadores voluntários podem se registrar no Hemocentro de Brasília, no início da Asa Norte. As restrições são semelhantes às da doação de sangue para o caso de doenças infecto-contagiosas. No entanto, não há restrição para peso. É na hora de doar a medula que a triagem é feita.
A doação é simples, de acordo com o hematologista Gustavo Bettarello. Ele lembra, porém, que, em Brasília, não há estrutura para o procedimento. Em caso de compatibilidade, os brasilienses viajam para Rio de Janeiro ou São Paulo. Segundo a presidente do Hemocentro, Maria de Fátima Brito Portela, no ano passado, dois moradores do DF puderam doar medula para pessoas com leucemia. %u201CConvidamos todos a fazer o procedimento que é simples e não traz qualquer prejuízo aos voluntários%u201D, completa. (EK)