Cidades

CRM investigará morte de paciente

Adriana Bernardes
postado em 26/06/2009 08:22
O Conselho Regional de Medicina (CRM) abre hoje sindicância(1) interna para apurar a conduta do médico Lucas Seixas Doca Júnior. Ele é acusado pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) de homicídio com dolo eventual - em que se assume o risco de matar - e de falsidade ideológica pela morte da psicóloga Maria Cristina Alves da Silva, em fevereiro do ano passado (leia quadro). Ela morreu de infecção generalizada dias depois de passar por cirurgia de redução do estômago (bariátrica). Segundo a denúncia do MP, durante a operação, a mulher teve o intestino perfurado e vários dias teriam se passado até que Doca Júnior decidisse verificar os sintomas de febre e dores abdominais, conforme o Correio publicou ontem. O vice-presidente do CRM-DF, Iran Augusto Gonçalves Cardoso, informou que, em até 15 dias, o médico será chamado a explicar o que houve com a paciente. Parentes de Maria Cristina também serão ouvidos. Apesar de a família garantir que registrou queixa no órgão duas semanas após a morte de Maria Cristina, Cardoso disse não haver registros de denúncia contra o médico na entidade. "Se a família provar que fez a denúncia e isso se extraviou aqui, também será apurado", assegurou. [SAIBAMAIS] Ao saber que o caso será investigado pelo CRM, Lucas Seixas Doca Júnior mostrou-se tranquilo. "O CRM é o local exato para apurar o que houve. Acredito plenamente que a situação será averiguada de forma imparcial. Vai se chegar à verdade de que foi uma fatalidade", afirmou. O cirurgião foi chamado ontem pela direção do hospital JK - onde ocorreu a operação de Maria Cristina - e orientado a buscar seus direitos nas instâncias competentes. Ele foi afastado do centro cirúrgico e do ambulatório até que as denúncias do MP sejam esclarecidas. "Não é retaliação nem pré-julgamento. Estamos apenas dando a ele as condições de se defender", afirmou o médico Ericson Bloom, gestor do JK desde 2006. A família recebeu com alívio a notícia de que o CRM vai apurar o caso. "Não guardamos rancor do doutor Lucas nem queremos dinheiro dele. Queremos que um juiz diga quem está certo: nós ou o médico. Só sossego quando ouvir a sentença", afirmou Quitéria Alves de Carvalho, irmã da vítima. "Se ele tivesse acudido a tempo e, mesmo assim, ela tivesse morrido, estaríamos em casa chorando nossa dor. Mas ele demorou muito a prestar o socorro." Dissertação No currículo que o médico apresentou ao hospital consta um histórico de pós-graduação que traz como orientador o professor Kleber Nogueira Campos, da Universidade de Brasília, emitido em janeiro de 2003, antes da apresentação da dissertação de mestrado, em 12 de junho daquele ano. O trabalho de título Repercussão da gastroplastia redutora nas co-morbidades de grandes obesos foi aprovado. Mas, quatro dias depois, o orientador redigiu uma carta ao coordenador do programa de pós-graduação da faculdade pedindo que o estudo fosse desconsiderado. Isso porque, de acordo com a carta, embora Doca Júnior agradecesse ao cirurgião Orlando Faria a cessão de dados para a tese, este informou que os dados nunca foram cedidos nem houve autorização de pacientes. A assessoria de imprensa da UnB não se pronunciou sobre o caso ontem. Lucas Doca Junior nega que tenha utilizado dados sem autorização. 1- O PROCESSO A sindicância é aberta pelo Conselho Regional de Medicina para apurar se houve falha na atuação do profissional. O processo corre de forma sigilosa até que seja transitado em julgado. São ouvidos a família e o médico. Depois disso, elabora-se um relatório da denúncia que será submetido ao restante do conselho. Havendo indícios de falha na ação do médico, ocorre o julgamento. Todo o processo pode levar até cinco anos. Se uma das partes não concordar com o resultado, pode recorrer ao Conselho Federal de Medicina.

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