Cidades

Cidades vizinhas a Brasília vivem boom imobiliário

Construtoras direcionam investimentos para longe do Plano Piloto e apostam alto na construção de imóveis mais baratos para realizar o sonho dos trabalhadores com renda mensal de até R$ 2 mil

Luciana Navarro
postado em 28/06/2009 08:33
O mercado imobiliário brasiliense tem características especiais e valores exorbitantes para a maior parte dos bolsos. Com preços que beiram R$ 8.000 por metro quadrado, o Plano Piloto expulsa a classe média da cidade projetada por Oscar Niemeyer e Lucio Costa. Os valores cobrados na Manhattan brasileira são inviáveis para pelo menos 75% dos trabalhadores do Distrito Federal, quantidade de pessoas que ganham até R$ 2.010 por mês segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O que poderia ser um problema para o setor da construção civil, tornou-se a solução para as empreiteiras, que investem pesado nas regiões vizinhas a Brasília e cobram a partir de R$ 1.700 por metro quadrado. Apesar de mais baratos que os apartamentos do Plano Piloto, os imóveis nas cidades do Distrito Federal e do Entorno apresentam a mesma taxa média de valorização: 25%. Isso atrai não apenas moradores para esses locais como também investidores. Não é por acaso que as vendas nessas regiões estão a todo vapor. A Lopes Royal, por exemplo, lançou dois empreendimentos de 52 unidades em Samambaia. O primeiro foi totalmente comercializado em 15 dias e o segundo, em três meses. Atualmente, o segmento econômico representa 20% do faturamento da Lopes Royal no DF, que, apenas neste ano soma R$ 800 milhões, mais do que o total comercializado em 2008, de R$ 750 milhões. ;Isso mostra a pujança do mercado imobiliário local;, destaca Marco Antônio Demartini. A expectativa é ampliar a atuação da empresa no segmento de moradias econômicas e aumentar a participação dessas vendas no total comercializado. Para favorecer as negociações, a Lopes Royal prepara o lançamento de uma filial especializada. O atendimento diferenciado ao público dos imóveis econômicos também é uma aposta da JC Gontijo, que criou a marca Mais para lidar com essa clientela. A menina dos olhos da empresa é o bairro Palmeiras, no Valparaíso (GO). O empreendimento terá 5.400 unidades e será ligado ao Shopping Sul, também da construtora. O lançamento está programado para daqui a um mês, mas, no pré-lançamento, uma torre com 90 unidades foi comercializada em três semanas, o que comprova a demanda elevada para esse tipo de apartamento. Outros mercados De acordo com o Ministério das Cidades, os consumidores com renda até cinco salários mínimos respondem por 92,7% do déficit habitacional do DF, de 122 mil unidades. De olho nesse público potencial, a JC Gontijo planeja desembarcar em outras cidades. ;Temos terrenos em Samambaia e Ceilândia, mas ainda não temos previsão de lançamento;, revela Rodrigo Nogueira, sócio e diretor da empresa. A PaulOOctávio ainda não ingressou nesse mercado, mas estuda fazer isso em breve. ;A partir do momento em que há uma política governamental com esse foco, as empresas passam a ter interesse;, afirma o diretor da construtora, Marcelo Carvalho, se referindo ao programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal. ;Esse segmento do mercado tem uma quantidade maior de linhas de crédito com os programas habitacionais do governo e os bancos privados também estão se voltando para esses clientes que consideram o financiamento como algo imprescindível;, completa Nogueira. Alvo certeiro O potencial de crescimento do mercado imobiliário nas cidades satélites atraiu a Via Engenharia para Samambaia. ;A cidade é próxima ao Plano Piloto, bem servida de acessos;, analisa Tarcísio Rodrigues Ferreira Leite, diretor de incorporações da Via. A compra do imóvel pode, segundo ele, ser um bom investimento. ;A valorização deve ser de 70% até 2011;, estima o executivo. ;Se o negócio é fechado com empresa sólida, há uma garantia de valorização com risco minimizado;, garante. Para as empresas o risco de investir nesse setor no DF também é pequeno. ;Brasília tem um potencial de crescimento muito grande. A estabilidade dos empregos é um fator positivo que sustenta esse mercado;, avalia Leite. Nem a crise conseguiu baquear esse segmento. ;Temos batido nossas metas mensalmente;, diz. O programa habitacional do governo federal foi a fonte de inspiração da Tenda, cuja acionária majoritária é a gigante Gafisa. ;O DF tem uma renda formal, comprovada, muito grande. Esse público de três a seis salários mínimos é percentual muito grande da população;, afirma Vinícius Diniz. A construtora tem sete empreendimentos no DF e Entorno e planeja explorar melhor o mercado ao norte do Plano Piloto. (Colaborou Mariana Flores) O que é É o programa do governo federal que promete viabilizar a construção de 1 milhão de moradias para famílias com renda de até 10 salários mínimos (R$ 4.650). Para isso, realiza parceria com estados, municípios e iniciativa privada.

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