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Cidades

Cinco décadas atrás, as brasileiras tinham, em média, seis filhos. Hoje, a taxa caiu para 1,9

Quando Brasília foi fundada, para reunir a família toda na mesa do almoço de domingo era preciso caprichar no tamanho do móvel. Em 1960, cada mulher tinha, em média, 6,3 filhos. Cinco décadas se passaram e, hoje, um conjunto com quatro cadeiras quebra o galho na maior parte dos lares. Atualmente, a taxa de fecundidade caiu para 1,9 filho para cada mulher. O número, da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (Pnad), corresponde à média nacional. No Distrito Federal, o índice é menor. Cada mulher tem 1,8 filho, em média. E nas regiões administrativas com maior poder aquisitivo, a taxa cai mais um pouco. Estudo do Departamento de Estatística da Universidade de Brasília (UnB), de dois anos atrás, mostrou que no Plano Piloto e nos Lagos Sul e Norte, a média é de 1,5 filho por mulher. A mudança no tamanho do mobiliário é apenas um detalhe na transformação social que a queda no número de filhos por família representa. Criar um menino ou menina sem irmãos está longe de ser mais fácil que criar uma prole. Especialistas ouvidos pelo Correio apontam os desafios de criar filho único e dão dicas para fugir das armadilhas que resultam em crianças e adolescentes mimados ou tímidos. "Um dos principais truques é criar os filhos com muito amor e zelo, mas sem que eles sejam o centro do universo. Afinal, os meninos e meninas gostam quando os pais têm vida própria e são pessoas autônomas e interessantes", explica o pediatra José Lisboa Silva. "Além disso, é importante que as crianças se socializem desde cedo. Nada de ficar trancado em casa só com adultos". Fazer amigos Quando Juliana Carvalho teve Gabriel, ela ainda era uma garota. Tinha apenas 17 anos, mas já sabia que o menino que vinha por aí não podia ser mimado ou tímido."Logo no início, ele foi incentivado a se relacionar com todo mundo. Sempre fiz amigos facilmente e ele repete o meu hábito", afirma. Com essa ideia fixa, ela optou matriculá-lo na escolinha com apenas 7 meses. "Sempre contei com uma ajuda incrível da minha mãe, mas foi uma boa providência colocá-lo na creche porque ele começou a conviver com outras crianças e aprendeu a dividir brinquedos, a compartilhar a atenção dos adultos e s desenvolver os limites", explica. Hoje, Juliana tem 31 anos e o filho, 13. Os dois são companheiros, resultado de uma criação aberta e cheia de confiança. Juliana acompanha o conselho da psicóloga Gabriela Andrade. "Sem os irmãos como primeiro grande amigo, os filhos únicos precisam contar com os pais. Por isso, amor e companheirismo são fundamentais, sem faltar, é claro, da definição de limites e autoridades", explica. Preocupada com isso, a funcionária pública Bárbara Cristina Netto Souza, de 34 anos, faz marcação cerrada sobre os próprios pais. Ela e a filha, Amanda Souza Cassemiro, de 3 anos e meio, moram com os avós da pequena e eles fazem tudo o que a menina quer. "A Amanda é tudo para eles, que sempre quiseram muitos netos. Lá em casa tenho que batalhar para dar limites para os avós e para a neta", brinca. Bárbara também optou por colocar Amanda na escola ainda novinha. "Ela estava com apenas 1 ano e 2 meses e foi ótimo porque aprendeu a se relacionar com outras crianças", lembra. "Nunca planejei ter um só filho, mas me sinto completamente realizada com a Amanda. Só tenho medo de um dia faltar na vida dela". NASCIMENTOS Em quase 50 anos, a natalidade brasileira despencou. Veja: Ano Filhos/mulher 1960 6,3 1970 5,8 1980 4,4 1991 2,9 2000 2,3 2005 2,1 2006 2,0 2007 1,95 Dicas Nem sempre a opção pelo filho único significa menos trabalho. Veja algumas orientações de especialistas: # Não tente compensar a ausência de um irmão com mimos # Resista ao desejo de comprar ou dedicar toda a sua vida a ele # Filho precisa saber que os pais também são indivíduos e possuem vida independente # Encontre o equilíbrio entre dar liberdade ao filho e cuidar dele # Um filho, seja ele bebê, criança ou adolescente, precisa de uma relação próxima e amorosa com os pais # Os limites devem ser firmes e bem colocados # Filho único não pode conviver só com adultos. A entrada mais cedo na pré-escola pode dar à criança um ambiente adequado, para que ela aprenda a dividir a atenção do adulto com outras crianças, a brincar junto, a partilhar seus brinquedos, a se impor e a ceder A pesquisa A Pnad investiga diversas características socioeconômicas do país, como população, educação, trabalho, rendimento, habitação, previdência social, migração, fecundidade, nupcialidade, saúde, nutrição etc. Os dados podem ser consultados no site do IBGE (www.ibge.gov.br). Palavra de especialista "O maior esforço dos pais de filhos únicos deve ser a socialização da meninada. Hoje em dia é comum a criança que é, ao mesmo tempo, filha, neta e sobrinha única. Assim, acaba virando o príncipe ou a princesa da casa que não sabe dividir nem objetos nem atenção. Quando isso acontece, a melhor solução é fazer o menino ou a menina conviver com outras crianças e a ajuda é ideal para isso. Para os pais que trabalham fora e deixam o filho com babás, a criança já pode ir à escola a a partir de 1 ano. No caso daquelas que convivem com, pelo menos um dos pais em casa a maior parte do tempo, é possível esperar um pouco mais até os 2 ou 3 anos. Isso desde que o filho frequente locais com outros meninos e meninas, como brinquedotecas." Cláudia Patrícia Araújo, coordenadora-pedagógica de uma escola infantil da Asa Sul No mundo moderno, é melhor ser filho único ou ter vários irmãos? Dê sua opinião, escrevendo para leitor.df@diariosassociados.com.br