Cidades

Lixo vira luxo nas mãos de costureiras em Planaltina

Em cooperativa montada por donas de casa em Arapoanga, bairro carente da cidade, banners que seriam jogados fora e ajudariam a poluir ainda mais o meio ambiente se transformam em belas bolsas

Naira Trindade
postado em 30/06/2009 09:44
Pelas mãos de Francilene de Sousa, 42 anos, o banner velho ganha forma de bolsa. O material usado para divulgar eventos e que seria descartado no meio ambiente vira peça de butique. As donas de casa que toparam encarar o desafio de transformar o lixo em luxo descobriram na costura de banners uma profissão. E a cidade ; onde os empregos eram restritos ao pequeno comércio ; ganhou uma microempresa. O trabalho da Cooperativa dos Trabalhadores Autônomos de Planaltina (Coaespt) em Arapoanga é assim: ajuda a natureza, forma profissionais e emprega a comunidade. Cooperadas produzem bolsas em ArapoangaA nova profissão de Francilene mudou a vida dela. Mãe de três filhas, a costureira não podia arrumar emprego porque não tinha com quem deixar as crianças. O marido era o único que trabalhava em casa. As contas ficavam todas sob a responsabilidade dele. Até que uma amiga fez o convite. Reunir toda a mulherada da comunidade que não podia trabalhar por causa dos filhos em um local onde elas poderiam levar as crianças. Deu certo. A professora Elisângela Araújo Santos, 34 anos, fez um curso de corte e costura. E dividiu o aprendizado com as demais. Foram muitos testes até que se encontrasse um material bom de trabalhar, com custo menor e aceitação maior. As malhas e as tapeçarias ficaram para trás. Uma parceria com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) chegou ao material ideal. ;Algo que não é caro, que pode ser reutilizado e com retorno imediato. A ideia veio com a onda das ecobags (bolsas ecologicamente corretas);, explica Elisângela, a tesoureira da cooperativa. O trabalho de formiguinha começou com poucas peças. Mas logo se destacou. ;Começamos com os toldos do Sebrae, mas logo outras empresas viram o trabalho e começaram a encomendar;, conta. Tudo é reaproveitado. ;Recebemos, lavamos e costuramos. Uma vez, ganhamos um banner tão duro e ressacado que deu vontade de chorar. Mas depois descobrimos que o material serviria de embalagem para as bolsas. Reutilizamos tudo;, conta, com orgulho, a presidente da Coaespt, Maria da Páscoa. Produção Maria da Páscoa mostra as bolsas produzidas pelas cooperadasNa linha de produção, a preocupação começa com a estampa dos banners. ;Nada de rostos de famosos. Eles não autorizaram o uso da imagem. Tomamos cuidado com tudo para não levar processo;, explica Maria da Páscoa. O viés da lateral das bolsas (a mais simples custa R$ 8) também deve ser combinado e o recorte é feito sob medida, para não desperdiçar o material. Com tanta organização, a cooperativa, que tem 20 pessoas (cinco delas, costureiras), produz, em média, mil peças por mês. Na simplicidade da cooperativa, o trabalho é sempre aliado à qualidade de vida das cooperadas. Além de poder levar os filhos para o local, uma sala é reservada para que um monitor dê aulas para alfabetização complementar. É uma espécie de reforço para que os alunos façam a lição. A casa abre espaço também para outros profissionais. Por meio de uma parceria com o Centro de Integração Esporte e Cultura (Ciec)(1), a Coaespt pretende capacitar 100 pessoas até janeiro de 2010. Tudo para começar a fabricar mais produtos, como bonecas de tecido e panos de prato, almofadas e até roupas de cama. A dona de casa Maria Vilma Soares, 54 anos, está inscrita no curso. No primeiro dia, ela aprendeu a fazer os cortes no tecido do formato da boneca. Depois de ter dedicado a vida a criar o filho, agora, ela aproveita a oportunidade para voltar a trabalhar. ;Antes de meu filho nascer, eu trabalhava. E agora, que ele já se casou, eu quero voltar. Isso aqui vai ser só o primeiro passo. Quero concluir o ensino médio e fazer até faculdade;, garante. 1- CIEC O Centro de Integração Esporte e Cultura com sede na Estância Mestre D;armas IV, Módulo 6, é uma das poucas entidades sociais de Planaltina com certificado de interesse público (Oscip) emitido pelo Ministério da Justiça. Surgiu da necessidade de espaços de lazer e cultura da juventude local. Oportunidade Pessoas interessadas em participar do curso da cooperativa devem morar em Arapoanga ou Planaltina. O endereço é Quadra 8, Conjunto I, Módulo 2, Área Central de Arapoanga. O curso é de graça.

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