Cidades

Implantação de centros de lojas provoca divergência entre 45 mil moradores do Park Way

postado em 05/07/2009 14:03
Moradores do Park Way, área nobre do Distrito Federal, estão divididos em torno de um dilema: o bairro pode ou não ter comércio? A administração regional estuda a construção de pequenos centros comerciais em locais pré-definidos. Em abril, foi lançada uma enquete virtual para colher a opinião da população e comprovou o racha. Hoje, as cerca de 45 mil pessoas que lá vivem, a maioria delas de alto poder aquisitivo, precisam percorrer, em média, 10km para comprar o básico. Não há padaria, mercado, banco, farmácia, cabeleireiro, nada disso no Park Way.

Ainda não existe definição sobre o que será feito. Há aqueles que consideram uma questão de bom senso a instalação de lojas perto das casas. Com a mudança, acreditam que a qualidade de vida poderá ficar ainda melhor, já que o tempo gasto para sair de casa e ir comprar alguma coisa na rua diminuiria consideravelmente.

O administrador regional Antônio Girotto prevê que o surgimento de lojas no bairro é inevitável. ;Uma cidade com essa dimensão sem comércio? Temos que fazer uma reflexão para saber se isso é correto;, comenta, ao deixar claro que não quer tomar partido na polêmica e que não fará nada sem o aval da comunidade. Mas, durante a entrevista, Girotto diz que a construção dos centros comerciais se trata de ;responsabilidade política;. ;Ninguém quer fomentar o Park Way de comércio. Estamos falando do chamado comércio de conveniência;, pondera.

Para a Associação Comunitária do Park Way, o bairro não está preparado para deixar de ser exclusivamente residencial. Quem critica a ideia teme a especulação imobiliária. ;Se colocarem comércio hoje, o Park Way vai virar uma bagunça. Vão transformar um lugar bucólico em um inferno;, afirma Sebastião Boechat, um dos diretores da associação. Ele sustenta que a mudança poderá trazer mais problemas ao trânsito e à segurança do bairro.

A administração pretende realizar audiências públicas para discutir o assunto. A turma contrária ao comércio se mostra aberta ao diálogo.

O engenheiro Gilson Peixoto, 42 anos, mora na Quadra 6 e, como a maioria dos que vivem no bairro, usufrui da comercial do Núcleo Bandeirante. Ele é favorável à instalação de lojas nas quadras, mas acredita que será difícil chegar a um consenso. ;Muita gente gosta do Park Way justamente pelo isolamento;, justifica.

O caseiro Genor Lima do Nascimento mora na Quadra 16 e precisa pedalar 30km para comprar pão e cortar o cabelo. ;É muito longe. Um comércio aqui ia facilitar a nossa vida. Melhor do que ficar se arriscando de bicicleta à beira dessas pistas;, diz.

Uma padaria inaugurada há três meses no Setor de Motéis do Núcleo Bandeirante tem atraído os moradores do Park Way. No fim da tarde, formam-se filas imensas nos caixas e faltam vagas no estacionamento. Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista-DF), Antônio Augusto de Moraes, não há mal nenhum em instalar pequenos comércios no bairro. ;Não pode ser um shopping center, porque aí, sim, causaria transtorno. Porém, um comércio de conveniência seria muito bom para os moradores;, comentou.

Onde?
As cinco projeções para instalação de centros comerciais estão previstas no Memorial Descritivo
do Park Way, documento registrado em cartório em 1961 que criou oficialmente o bairro. Os comércios ficariam entre as Quadras 1 e 5, 6 e 13 e nas Quadras 17, 22 e 26.

Enquete
A enquete está no site da Administração do Park Way (www.parkway.df.gov.br) desde 15 de abril e segue no ar até 15 de agosto. Até terça-feira última, 531 internautas tinham participado da pesquisa: 275 (52%) votaram a favor do comércio, e 256 (48%) votaram contra.


Feito para residências
O Setor de Mansões Park Way foi incluído pelo então presidente Juscelino Kubitschek no plano urbanístico de Brasília em uma das últimas alterações, entre 1957 e 1958. O bairro foi concebido para ser de uso exclusivamente residencial. Abriga casas em condomínios fechados e possui vasta área verde com córregos e nascentes em reservas ecológicas. Decretos de 1993 e 1997 permitiram o parcelamento dos lotes originais de 20 mil metros quadrados em oito frações de 2,5 mil metros quadrados cada.

Até 2003, quando virou região administrativa, o Park Way pertencia ao Núcleo Bandeirante.

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